Em 2015, um grupo de super-humanos escapa de uma base do governo para salvar o mundo, e acaba descobrindo uma série de segredos sombrios. Essas são suas histórias.

Battery e Gunshot II

Em um condado no interior da Inglaterra, um telefone toca incessantemente até ser atendido. São 2 horas da tarde e ele está sozinho em casa. Ele hesita antes de atender ao telefone. Há tempos que este telefone não toca. A hesitação é vencida pela curiosidade e sua mão pega o telefone. "Quem tá falando?" Ele pergunta com sua voz grossa. "Preciso dos seus talentos, pago adiantado." Responde uma voz familiar, dos tempos em que ele ainda era um soldado defendendo seu país.
"Do que cê precisa Coronel?" O homem responde após uma pequena pausa "Que você dê uma lição em uns garotos". Com um sorriso ele responde "Fechado Chefia, eu tava mesmo precisando dum quebra."

Uma mulher corre desesperada numa floresta escura, ela é ruiva e tem a cara do medo. Alguém a persegue, mas seu rosto é velado pela noite. Só se percebe o horror da sua presença, dor, morte e um grito na noite. Um grito, James acorda suado, suas mãos tremem. Frio e calor ao mesmo tempo. São 3 horas da manhã, mostra o rádio relógio. Ele não costuma ter pesadelos, é mal sinal de onde ele vem. James se levanta e caminha até a janela lateral do quarto, ele ainda treme. "Deve ser o remédio pra dor" ele pensa. "Aquele psicopata quase acabou com a gente." Seus ferimentos doem como nunca, o braço engessado lateja. "Maldito vampiro!" Ele pensa antes de desmaiar.
São 6 horas da manhã quando desperta. O sol londrino invade a janela, seu corpo todo ainda dói, mas a tremedeira passou. Ele começa a se levantar devagar, resmungando. Então ele para. "O rádio-relógio devia ter tocado" Ele se vira bruscamente, mas não há ninguem no quarto, até ele perceber duas botas jogadas no chão juntas de uma camisa vermelha e uma calça jeans apertada.
James caminha até a porta do banheiro e a abre devagar ... na banheira, dormindo, calmamente, está Cruz. "Mas que diabos Cruz!" Grita James, "O que você está fazendo no meu quarto?". "Que hablas cariño?" balbucia Cruz sonolento "No, Cruz no ha hecho nada mi amor." Diz ele e volta a dormir.
"Bêbado, de novo." murmura James antes de entrar no chuveiro e se banhar. Terminada a ducha, Cruz ainda dorme. James sai enrolado na toalha. Tom está dentro do quarto em pé, ele usa os óculos escuros, mas parece abatido. "Não é o que você está pensando!" Diz James. "Não pensei nada." responde Lynch sério como sempre. "O que Cruz faz no seu quarto?" pergunta no mesmo tom. "O que você faz no meu quarto?" responde James. "A porta estava aberta" É a resposta. " E você sai por aí entrando em todas as portas abertas?" zomba James com um sorriso franco que encontra a fachada fechada de Tom; "... Você está tendo pesadelos também?" Questiona James. "Eu me acostumei com eles faz muito tempo... De qualquer forma, Larsen me mandou aqui para buscá-lo, nós temos exames de rotina hoje. Aproveite e acorde o Cruz."




Obedecendo as ordens do líder de campo, James levanta Cruz da banheira e o joga no chuveiro, ligando a água na temperatura fria..."CABRONE!! HIJO DE PUTA!!!!" E alguns outros xingamentos são ouvidos durante alguns minutos.




Depois de horas de exames no Instituto Médico de Londres, os três agentes caminham pela cidade nublada. Faz frio e as pessoas buscam abrigo nos Pubs locais aproveitando a hora do almoço. Cruz abana no ar um papel com um telefone. "AHÁ Chico, A garota caiu nas graças de Cruz!", "E até quando você pretende ficar repetindo isso?" Responde James. "Ora, não seja um mal perdedor Chico, Cruz é Cruz, mui guapo e James é James...", "Não gostei da explicação xicano", "Parem com isso os dois, já estão me irritando."




Eles viram uma esquina e se deparam com um pub, "The Happy PIG", O silêncio de 1 minuto atrás é quebrado por Cruz. "Hey Chicos!! Cruz está com frio, vamos entrar e nos aquecermos, vamonos!", "Seria uma boa idéia, embora eu não goste de concordar com o Xicano, uma cerveja agora cairia bem antes do almoço." O único a manter silêncio é Tom. "Chico, que há, vamonos, que mal há em tomar uma bebida com seus amigos han? Vamonos vamonos, James paga para nosotros!", "É vamos, ei, perae..." reponde James. "Não obrigado, prefiro que nós três sigamos direto para o Hotel como planejado.", "Hey Chico, Yo estoy con hambre compreende? Cruz precisa de comida, como acha que Cruz muy Guapo han? Como acha que Cruz ganha telefone e James não ganha nada? ". "Você pode muito bem comer no hotel, Cruz.", "Deixa disso Lynch, uma cerveja não vai fazer mal, que espécie de Irlandês é você? Vamos lá, você vai apreciar tanto quanto eu, bom quase tanto, e além do mais, a gente cala a boca do chicano". "Não! E é minha última palavra."




5 minutos depois dentro do Pub... "Eram 4 muchachos e eles estavam com facas, mas Cruz não ficou com medo, não não, Cruz derrubou o primeiro com a cadeira, escorregou por trás do segundo com uma rasteira, Cruz como muy Guapo que é, beijou a Chica e derrubou os outros dois com a vassoura..."




"C0mo vocês me convenceram a entrar aqui?", Exclama um Gunshot desanimado olhando pra sua caneca de cerveja. Na sua frente Cruz declama suas aventuras na mesa de bilhar, enquanto James sentado num banco assiste ao jogo de rugby. O local está cheio, alguns motoqueiros londrinos jogam bilhar ao lado, várias pessoas diferentes sentadas em mesas ou bancos. Uma garçonete traz a porção de peixe com fritas que Cruz havia pedido. "Hey Chica, muchas graças, não quer conhecer un homem de verdade? Han? Cruz pode te levar aos céus." Com um sorriso a garçonete se afasta e vai para a mesa de bilhar dos motoqueiros entregar as bebidas. Dizendo algo para um deles, um homem enorme, de aproximadamente 2,30 m de altura, com correntes espalhadas pela vestimenta, sobressaindo a jaqueta Hell's Angel, calvo e com um rabo de cavalo. Ela sai sorrindo.

"Essa já é de Cruz... as vezes me pergunto como mi Madre fez um homem como Cruz...", "Eu também!" Responde James se voltando para eles, "Essa cerveja não está meio estranha?". "Como assim estranha Chico? Não aguenta beber e fica dando desculpas? Pensei que vocês ingleses aguentassem beber". "Primeiramente Cruz, nós somos irlandeses, no meu caso de Belfast, e sim, nós aguentamos beber mais do que toda a população do México, acontece que o gosto está estranho, ela está doce demais..." dizia James quando se desequilibrou," Que foi Chico, está passando bem?", " Não é nada, deve ser os efeitos da ultima briga...". " Deixa que Cruz vai chamar La Chica e pegar uma água pra ti!"

Cruz se levantou e caminhou até a garçonete. " Não sei o que está me dando Lynch, parece que eu estou doente." Reclamou James. " Hum... aquele cara..." Murmura Gunshot olhando para o gigante. "O que tem ele?", pergunta Battery apreensivo. "Ele não deveria estar aqui..." Quando terminava de dizer isso, Lynch apenas tem tempo de ver o que vem em sua direção, um pequeno porto riquenho gritando "Madre!!!" vem voando em sua direção arremessando os dois pela vidraça do Pub para a calçada. James se vira na direção de onde vira Cruz voar, mas mesmo com seus reflexos de combate não consegue evitar a corrente que vem em sua direção, somente conseguingo colocar seu braço engessado na frente do ataque, evitando que seu pescoço ficasse preso em uma forca. No intervalo de três segundos ele é arremessado para a rua ainda preso pela corrente que em sua extremidade encontra o braço do homenzarrão com rabo de cavalo. "Quem diabos é você?", Escarra James suas palavras ensangüentadas. "Teu funeral, xará!", É a resposta do gigante que gira a corrente lançando James de encontro à fachada do prédio do lado. James mal tem tempo de se preparar para o impacto revertendo sua energia pra seu corpo. "Então cê é durão ein garoto? Isso vai ser mais divertido do que pensei, o garoto do caolho já não é o mesmo, então vou descontar tudo no cê!". James só tem tempo de pronunciar um "Bloody Hell" ao ver o gigante sair arrastando o irlandês pelo asfalto montado em uma grande Harley customizada.

Depois de arrastado alguns metros o irlandês consegue recuperar a consciência e tenta reagir, mas o gigante simplesmente gira seu braço violentamente arremessando James em um carro parado na rua, o estrago é recíproco ao irlandês e ao automóvel. A cena se repete mais duas vezes enquanto o gigante da a volta no quarteirão arrastando James.

Enquanto isso na rua, Cruz e Tom tentam se levantar, Tom com mais sucesso arrasta o amigo para a calçada e forçando a cabeça que não para de rodar, procura por James com sua visão. Ele encontra Battery sendo arrastado na direção dos dois quase inconsciente por um motoqueiro enorme. "A força desse cara não é normal, deve ser ele...mas para quem ele trabalha? Não sei se consigo ser preciso no tiro que vou dar, ainda estou zonzo... DROGA!" Durante os pensamentos de Gunshot, o gigante arremessara Battery na direção de seus amigos que pelo estado em que se encontravam não tiveram tempo de desviar do irlandês acorrentado. O resultado é a inconsciência de Gunshot e Battery. Cruz consegue se por de pé a tempo de evitar um segundo ataque que por milagre erra sua cabeça destruindo um poste. Em seguida ele se joga sobre a moto do gigante que passa voando, caindo, por sorte, no banco do passageiro. "Mas tu é Loco ou o que?". "Yo soy EL CRUZ, Cabrón!!!". "Tá, vai ser El morto agora!" Mas ao girar o braço pra derrubar o costa-riquenho consegue evitar o ataque por um triz, quase caindo da moto ele aproveita o movimento para cravar uma faca no enorme pneu, criando um rasgo que deixa o controle da moto muito mais complicado.

Feito isso, Cruz salta da moto, deixando o Gigante sozinho em direção ao poste mais próximo, contudo, ao inves de bater, o motoqueiro usando braço segura o impacto da batida. "Ah xara! Agora tu tá f#%!&#! " O grandalhão desce da moto e corre na direção de Cruz.

Beeeeeeeeeeeeee!!!!!! Praaaaaaaaack!!!!!!!!!!!!!!!

Quando ia acertar Cruz, um imenso caminhão se choca contra o motoqueiro, mas o resultado é impressionante, o caminhão com a frente destruída, tem a parte de trás da carroceria suspensa no ar e perfaz giro completo. Com o impacto, Cruz é jogado pra trás de bunda no chão. Dos destroços, sai o gigante carregando o motorista. Ele deixa o homem no chão e diz: "Tu tá me fazendo perde a paciência xará. " Cruz sentado no chão responde, "Quem diabos é você cabrón?", "Eu já te respondi xará!", "Ah si, señior Muerte no? Olha só como Cruz está apavorado." Ironiza o porto-riquenho. A resposta do gigante é a sua corrente presa no pé de Cruz e o arremesso do mesmo para dentro de um dos prédios, para a sorte de Cruz, ele entra pela janela, embora o gigante tenha mirado na parede de concreto. E quando o gigante se prepara pra puxar a corrente... ZACKT!!!!! Com um clarão de luz ela se parte ao meio. Ao longe se pode ver a figura de Gunshot em pé, o olho esquerdo brilhando intensamente. "Eu achei que você estava fora do jogo Treno, quem está te pagando dessa vez?"

O gigante Joe Treno olha para Lynch e diz. "Achei que não ia acordar Cinderela, teus amigos não dão nem pro cheiro, e quanto a estar no jogo, eu te devia uma pelos velhos tempos xará." Treno pega a carcaça do caminhão e joga na direção de Gunshot que pulveriza os destroços com sua rajada.

"É isso ae garoto agora somos só nós dois!"

"Não, somos só nós 3!" Por trás de Treno aparece a figura de Battery carregando seus pulsos com energia, ele atira uma rajada nas costas do motoqueiro enquanto Gunshot carrega as energias para um tiro certeiro no peito do gigante que cambaleia com as rajadas. Mas ainda de pé, o gigante dá um tapa com as costas da mão em James, jogando o irlandês em cima de um volvo estacionado. Pelas costas, Gunshot desfere outro tiro em Treno. "Você não queria brincar comigo Treno? Esqueceu com quem você está lidando?"

"Na verdade, eu sei muito bem filhote do Pierce!" Dito isso, Treno retira um aparelho circular do bolso e aperta um botão vermelho. Todos os postes explodem, caindo em direção à rua. Gunshot se joga para esquivar de um, enquanto Treno agarra o que caiu em sua direção com a outra mão, para logo em seguida arremessá-lo contra Lynch. No ar o poste é atingido por uma rajada verde brilhante; Battery preso entre um poste e um carro, com muito esforço conseguiu ajudar o companheiro.

Isso deu tempo a Gunshot pra se recuperar e se preparar para outro tiro, dessa vez, ele concentrou toda a energia em um unico foco, o tiro disparado atinge o peito do gigante em cheio e a onda de choque se espalha pela rua, os vidros que ainda restavam se partem, todos os alarmes são acionados e Treno é jogado para uma outra esquina destruindo a pavimentação.

Battery se levanta, erguendo o poste com um braço, gunshot caminha carregando outro tiro, Cruz aparece na janela em que foi arremessado gritando injúrias em espanhol... E em dois segundos, a moto de Treno explode arremessando os três de volta ao chão. O gigante se levanta calmamente, uma Caminhonete para ao seu lado, ele sobre na carroceria e vai embora.

1 minuto depois os três soldados acordam, uma multidão de pessoas os rodeia. "Quem diabos são esses caras?", "Eles estão vivos?", "Quem vai pagar pelo meu pub?", "Olha só o que aconteceu na rua", "Cadê o motoqueiro?", "Chamem uma ambulância!", "Chamem é a polícia!".

"La Policia? Cruz es un agente de la Interpol!" Levanta cambaleando o porto riquenho que havia sido arremessado ao chão da altura do 2 andar para a rua pela explosão. "Não tem com o que se preocupar señoritas, Cruz já enfrentou o vilão, ele já se foi... agora... se puderem, podem trazer um gole tequila para Cruz han? Yo hay precisado chicas"

"Nada de tequila Cruz, vamos partir imediatamente para a central, precisamos informar Larsen sobre isso urgente. " Ordena Gunshot. "Agora, onde está Battery?"

"Aqui" Os dois se viram para ver o irlandês com uma caneca de chopp na mão, sentado em cima dos destroços atrás dos dois. "Eu já chamei um transporte, estava esperando as duas belas adormecidas acordarem..."

Longe dali, Joe Treno faz um telefonema. "Tudo certo coronel, dei uma amaciada nos moleques."

"E qual é a sua avaliação do desempenho deles?"Responde a voz.

"Razoável, eles demoram demais pra reagir, no meu tempo, viravam cocô de galinha rapidinho."

"Era o que eu pensava, vou pensar em como lidar com isso mais tarde. O seu dinheiro já foi depositado"

"Valeu chefia, sempre que precisar de mim pra dar uma surra em moleques atrevidos me chama!"

"Espere um telefonema meu em breve..."












Temporada de Caça

New Jersey. Madrugada. No segundo andar da luxuosa mansão dos Nistelroy, uma janela destoava acesa do restante da residência. Sentado na ampla poltrona de couro, vestindo pijama com os pés de pantufas sobre a mesa, Claude Nistelroy devorava um pequeno embrulho de comida chinesa com um par de hashi, enquanto com a outra mão operava o teclado do notebook em seu colo. Estava compenetrado, já fazia quatro horas ali, sem encontrar nenhuma pista. Parou por um instante quando um camarão frito escapou do hashi, despencando rumo ao chão. Desviou os olhos do computador e, em um movimento invisível, apanhou o camarão com os palitinhos antes que o mesmo alvejasse a tonalidade creme do carpete. Descompenetrado, olhou para o relógio. 2h13 am. Suspirou, frustrado.

Era inacreditável. Oito assaltos em um mês. Dois bancos na Suíça, três museus entre a Itália e a França, e acervos pessoais de arte no Canadá, na Rússia e na Inglaterra. Títulos de ações ao portador, diamantes, obras de arte super-avaliadas, sempre coisas que podiam se tornar milhões de dólares rapidamente. Nenhum rastro. Pouquíssimas informações concretas. Das oito vítimas, quatro eram clientes preferenciais da Nistelroy Security Technologies. Desses quatro, três tinham seguro parcial contra roubos, o que significou ao final do mês uma duplicata de 11 milhões de dólares à Nistelroy Security. Em um mês onde o Crusade já fizera um volumoso e milionário saque dos cofres da empresa para pagar aos Black Ops – e Claude não gostava sequer de se lembrar daquilo – era causa suficiente para tirar o sono e a tranqüilidade do jovem empresário.

Súbito, um estalo, um lampejo luminoso dentro da mente de Claude, e em seguida um lampejo luminoso no quarto, revirando papéis e deixando cair de uma vez por todas a comida chinesa no chão. A duzentos quilômetros dali, e se afastando rápido como um raio, o Lightning disparava em direção a Londres, local do último assalto. Uma vez diante do prédio, propriedade de um magnata inglês que perdera três quadros de Degas com o assalto, Claude rapidamente adentrou o salão, cena do crime. Aproximou-se do cofre, um USR-536, tecnologia de última geração. Haviam categoricamente três formas de se abrir aquele equipamento. Atravessando o metal, por força ou incorporealidade, abrindo o sistema com um modem remoto e tomando o controle do dispositivo – opção mais plausível, embora se tratasse de uma tarefa árdua, ou pela manipulação dos ferrolhos e mecanismos internos da trava por meio de ímãs hipercarregados. A terceira opção era, por incrível que pareça, mais improvável do que a primeira. Tanto porque ímãs desse nível eram muito difíceis de se conseguir quanto porque a habilidade necessária para executar tal peripécia era própria de, no máximo, quatro pessoas no mundo, e Claude era uma delas.

Levou a mão direita ao cofre, encostando nele um sensor e ligou-o a um pequeno computador que segurava. Um software simples começou a medir, em altíssima precisão, o campo magnético da superfície metálica, traçando um desenho sobre a tela. Muito mais indignado do que surpreso, Claude suspirou novamente. Fazia sentido. Fazia todo o sentido.

Uma semana mais tarde. Cidade do México. Madrugada. Em um quarto de hotel barato, deitado sobre a cama, Claude bebia um milk shake de chocolate, enquanto na tela do laptop ao lado, diversas leituras corriam pelo display. Vinte e sete sensores instalados na propriedade do bilionário mexicano Carlos Slim. Claude estava tranqüilo. Sabia a quem procurava, conhecia muito bem aquele jogo e isso lhe dava a segurança necessária para não cometer erros. Se suas suposições estivessem acertadas, seria exatamente ali o próximo roubo. Se estivessem erradas, estaria fazendo papel d idiota a milhares de quilômetros do lugar onde deveria estar. Sorriu. Sabia que não se enganava, e a confirmação veio quando os sensores dispararam alarmes de leitura no laptop. Levantou os olhos em direção da tela. Impressionante. Sem temperatura, sem barulho, sem imagem visível. Um fantasma.

Exceto pela alteração na pressão atmosférica do salão de jóias da família Slim. Claude gargalhou. Sentia-se daquela forma, como um gato que pegou o pardal, sempre que uma idéia nova da Nistelroy funcionava bem. Claro, fazia pouco sentido usar sensores de pressão atmosférica em um ambiente com imagem, som e temperatura já monitorados.

A menos que se tratasse da pessoa que Claude procurava. Um novo clarão, mais papéis voando e um milk shake sujando o assoalho, e o Lightning já estava diante dos jardins da propriedade.

Dentro da sala reservada às jóias, antiguidades e obras de arte da família Slim, o ambiente estava escuro, iluminado apenas por suaves lâmpadas vermelhas nas paredes. Eram suficientes para alimentar as câmeras de vigilância, e não agrediam desnecessariamente as pinturas expostas pelo ccômodo. Sem que ruído algum fosse emitido, a tampa superior do duto de ar condicionado se moveu. Uma suave e finíssima fumaça começou a espalhar-se em direção ao ambiente, revelando dúzias de filamentos infravermelhos que cortavam o salão em várias direções. Ágil e equilibrada como um gato, a figura sombria do invasor esgueirou-se pelo teto, evitando sensores e aproximando-se de uma das vidraças de exposição, onde era possível ver um amuleto de aparência Azteca. Deslizando do teto em direção a seu objetivo, silencioso e delicado como uma aranha, o gatuno pairou diante do vidro e começou a manusear alguns instrumentos eletrônicos. Ligou uma ponta cristalina a um pequeno dispositivo, e o ativou. Um campo circunferencial de laser de microcorte se formou, e um disco perfeito foi destacado da redoma. Com a frieza de quem já treinara muito aquele movimento, esgueirou a mão direita para dentro do vidro, apanhando e trazendo para junto de si o amuleto.

“Devo admitir, colega, que o gerador de campo acústico estacionário foi brilhante, e que o traje fotorefratário invisível ao espectro vermelho foi absolutamente genial ...” virando-se abruptamente para trás, o ladrão pôde ver a imponente figura do Lightning, em seu traje vermelho e dourado reforçados ainda mais pela luminosidade do lugar. Estava sentado sobre uma bancada ao lado de um vaso chinês, batendo discretas palmas ao interlocutor, que pareceu notavelmente assustado.

“Não precisa se preocupar, os sistemas não vão nos acusar aqui, cuidei disso ao entrar. Somos só nós dois aqui, menininha.” Disse, acendendo um cigarro e retirando a máscara. O invasor se aproximou silencioso de Claude, e tirou também o capuz. Os longos cabelos negros correram por suas costas, revelando uma solitária mecha cor-de-rosa e um delicado rosto de mulher que, apesar de lindo, parecia raivoso e contendo uma explosão de fúria. Rosnou, impaciente.

“O que diabos você quer aqui, Claude?!”tão logo disse isso, foi em um estampido surdo e abafado levada pelos braços do inglês até a parede do outro lado da sala. Pressionada contra o concreto pela mão direita do homem, Victoria Lupin, a famosa ladra que se auto-denominava Pink Panther, notou que ele não estava tão brincalhão como de costume.

“O que eu quero aqui? Quero onze milhões de dólares que a senhorita me causou em prejuízos no último mês, quero saber para quem você está trabalhando e, mais do que qualquer outra coisa, quero que você pare de roubar meus clientes preferenciais!”seus músculos conduziram pequenas cargas elétricas azuladas pela superfície de seu uniforme, dando-lhe um aspecto muito apropriado a seu humor. Ela sorriu, passando os braços pelo pescoço do jovem e dando-lhe um beijo nos lábios. Em uma primeira metade de segundo, ele correspondeu, afastando-se dela logo em seguida.

“Merda, Victoria! É tudo brincadeira para você? Eu não sou mais o Esquiva-Balas, eu não estou mais nesse jogo! Você -”aproximou-se novamente dela, agora atento a seus movimentos. Sabia o quanto ela era perigosa, e que qualquer distração seria o bastante para que ela escapassse “Você vai me dizer para quem está trabalhando, e vai ser agora”

Ela sorriu, novamente. Pegou o cigarro da mão de Claude e deu um trago.

“Onze milhões? Francamente, Claude Monet Nistelroy, você já teve mais classe. Eu não pedi onze milhões emprestados, mon cher, eu os roubei de você. Quer eles de volta? Roube de mim. Quanto a parar de roubar seus clientes, bom, eu não queria colocar as coisas dessa maneira, mon amour, mas se você não consegue mantê-los em segurança ...” novamente, um sorriso pueril. Claude segurou-se, queria joga-la pela janela. Era exatamente o que ela queria que fizesse, estava o provocando. Respirou profundamente, conhecia aquele jogo.

“Se eu quisesse roubar você, menininha, não teria dinheiro nem para tingir o cabelo de rosa. Quanto aos meus clientes, eu te peguei hoje, e agora que sei que é você quem estava me roubando, posso te pegar sempre. Conheço suas técnicas, garota, ensinei metade delas para você. E você ainda não respondeu a pergunta mais importante ...”

Victoria voltou os olhos para Claude, em uma atitude cênicamente disfarçada, e com o ar de quem não entendeu, perguntou cinicamente “Hum? Qual pergunta?” parecia querer de alguma forma ganhar tempo.

“Você tem dinheiro, não precisa se tornar milionária e pode roubar qualquer coisa que não possa comprar. Agora, eu te conheço bem o bastante para saber que você não gosta de artes impressionistas, nem coleciona amuletos nativo-americanos. Assim, é evidente que alguém te pagou para fazer isso, o que me leva à pergunta: quem está interessado nessas peças?”

“Uma pena que eu não vá poder responder isso, não é mesmo, mon petit?” ela gostava de usar aquele francês vagabundo, tudo para provoca-lo. Ele a encostou novamente contra a parede, ainda que dessa vez sem forçar.

“É claro que você pode. Eu não vou te prender, e seja quem for não vai poder te fazer nada ... Então fale!” sentiu uma náusea ao dizer aquilo. A jovem o devolveu para trás com a mão sobre seu peito, e olhou para a entrada do ar condicionado.

“Claude, meu anjo, não é nada disso. Eu só não vou poder te responder porque você não estará acordado para ouvir, e além do que estou com pressa, o sedativo só deve te derrubar por alguns minutos ...”

Sentiu a cabeça girar. A náusea aumentou e as pálpebras começaram a pesar. Pensou em desacorda-la antes de desmaiar, mas deteve-se tempo demais tentando imaginar como diabos aquela maldita trapaceira o sedara.

O batom. Claro. O batom, seu cretino.