Em 2015, um grupo de super-humanos escapa de uma base do governo para salvar o mundo, e acaba descobrindo uma série de segredos sombrios. Essas são suas histórias.

Horóscopo

Sete e dez da manhã, horário de Greenwich. A mortalha de silêncio e quietude do quarto escuro foi quebrada pelo estilhaçante toque do telefone. Alisia acordou e não quis abrir os olhos. Estava confortável daquela forma e de qualquer maneira, pôde ver toda a extensão do quarto assim que acordou. Estendeu o braço para alcançar o aparelho e desejou como nunca que seus poderes fossem telecinéticos. Ajustando o fone no rosto da melhor forma possível para o momento, balbuciou algo e a voz da recepcionista soou amigável como devem ser as pessoas que nos acordam antes das nove.

“Bom dia, senhorita Bryant, são sete horas e onze minutos, a senhorita pediu para ser acordada, está certo?” pronunciou aquelas palavras como se já tivesse acordado mil pessoas com aquela frase. Alisia respondeu um “muito obrigado” como se já tivesse sido acordada por mil recepcionistas com aquela frase.

Levantou-se. Agora o fósforo já se assentava no cérebro e ela lembrou que estava no Hilton Plaza, em Londres. Levou as mãos à cabeça. Era verdade, tinha compromissos para aquela manhã, e o primeiro deles era o mais importante.

Levantou-se e caminhou até o chuveiro. No banho, pensou no que estava fazendo em Londres e em tudo que acontecera na última semana. Ainda não conseguia deixar de pensar em Richard com mágoa, apesar de já ter os pensamentos melhor assentados. Sabia que havia exagerado, que não devia e nem podia julgá-lo por seus atos. A maioria das pessoas que tinham super-habilidades se preocupava mais em dominar do que em ajudar o mundo. Não, uma caçada por vingança pessoal motivada por meia dúzia de brinquedos quebrados não era certa, e nenhuma boa ação do mundo o eximiria da culpa. Mas e quanto a Robert Porter? Ele morreu dilacerado em uma cama ensopada com seu próprio sangue, e o fato de que ele era um assassino estuprador também não a eximia do remorso. Enxaguou os cabelos e retomou a linearidade do pensamento. Não estava partindo por conta de Richard. Isso também não significava que estava disposta a trabalhar novamente com ele. Não podia mais confiar nele.

Oito e dez da manhã, hora de Greenwich. Uma paisagem caribenha de céu azulado e praias da mais cândida areia emoldurava uma cena envolvendo Claude Nistelroy e três jovens Third Steppers. Súbito como um relâmpago, o estrondoso e catastrófico rugir do despertador irrompeu através do quarto, estraçalhando céus, areias e mulheres com o impiedoso soar da manhã. Ainda um tanto desnorteado com o retorno, Claude estendeu a mão até o despertador, desejando que seus poderes geneativos incluíssem rajadas laser.

Olhou para o relógio. Devia estar em sua sala a dez minutos atrás. Muito pior, Klaus devia estar no ônibus da escola a quinze minutos atrás. Detestava entrar em velocidade ampliada logo que acordava, mas a situação urgia. Antes que o colchão notasse a ausência de seu corpo e pudesse retomar o formato original, Claude já havia passado pelo quarto de Klaus e notado que o menino não estava lá. Correu até o computador e solicitou a visão das câmeras da escola. Privilégios de quem havia desenhado o sistema de vigilância e segurança da escola do próprio filho. Lá estava ele, sentado na última carteira do fundo da classe. Devia ter acordado sozinho e apanhado o ônibus sem acordá-lo. Era independente com sete anos de idade, o que fazia Claude ponderar sobre o que aconteceria se ele desenvolvesse poderes. Não tinha tempo para pensar naquilo às oito e onze da manhã.

Em um clarão de luz seguido de um estampido surdo de som, Claude cuidou de tomar banho, fazer a barba e se trajar com um elegante terno marrom de corte italiano discreto. Oito e doze, e o elevador que o conduzia através de trezentos metros de rocha que separavam o Poliedro – base de operações de Lightning e lar secreto dos Nistelroy – do prédio da Nistelroy Security Technologies de Londres já o entregava no sexto e último andar da construção.

Parou por um segundo diante da porta. Abriu o celular e, enquanto sensores espalhados pelas paredes faziam dezenas de leituras por seu corpo em diferentes comprimentos de onda, o milionário acompanhava os resultados na tela do portátil. Era o protótipo NISS-6942, já em fase final de testes para ser aplicado ao Consulado do México, seu mais novo cliente. Um suave ruído, seguido do acender de luzes, anunciou a liberação de acesso ao andar. Uma voz feminina sintética e agradável desejou-lhe bom dia.

Olhou por sobre sua mesa enquanto ligava o notebook. Uma garrafa de café, certamente servida por Rosemary às oito em ponto. E o jornal, ah, como começar o dia sem o jornal?

Sentou-se esparramado em sua enorme poltrona de couro e, enquanto colocava café em uma xícara, começou a passar rapidamente os olhos pela primeira página. Atentados no Japão, resgate de vítimas na Costa Oeste dos EUA, eleições na França. Nada de mais. Tomou um largo gole de café e, enquanto apertava o botão do aparelho telefônico que chamava Rosemary, virou a página do jornal. Achou graça ao ler o horóscopo do dia. Áries, de 20 de Março a 20 de Abril. O dia é propício para mudanças, seja favorável a convites inusitados. Cor da sorte: Azul. Número da sorte: 4.

Uma voz feminina, mas agora bastante natural e muito menos agradável, soou do viva-voz. “Para alguém com suas habilidades, senhor Nistelroy, o senhor compromete seriissimamente a reputação da pontualidade inglesa...” a voz de Rosemary era casual e cínica, demonstrando que mais infalível do que a pontualidade era o sarcasmo britânico. Divagou por mais um instante, como conseqüência do sono deixado ainda a pouco na cama. Rosemary era sem dúvida a mais imprescindível dos mais de mil empregados que compunham a Nistelroy Security Technologies. Mais até do que o próprio Claude. Sabia das senhas, dos compromissos, dos clientes secretos, do passado criminoso de seu patrão e até mesmo de sua vida oculta como Lightning. Era a pessoa em que o até mesmo o ladrão confiava. Quarenta anos, nenhum filho, nenhum parente vivo e um pós-doutorado em Administração de Empresas. Lembrou-se dos heróis da ficção e concluiu que, sem dúvida, todo super-herói deveria mesmo ter um Alfred em quem possa confiar.

“É o sangue francês, Rosie, meu fuso horário está em Paris, cherí” sorriu, fechando o jornal e voltando-se para o computador. “Tenho algum compromisso urgente para o qual já esteja perdendo hora nesse momento?” perguntou, um tanto temeroso da resposta, que nunca era muito boa naqueles contextos.

“Só a senhorita Alisia Bryant, da ONU, que o está aguardando aqui embaixo desde as oito. Devo manda-la subir?”

Alisia. Claude engoliu seco como que em um reflexo. Havia conversado no telefone com Nicholas na manhã anterior e ficara sabendo do conflito entre ela e Crusade. Ela havia deixado a equipe de Nova York, mas Claude não fazia a mínima idéia de o que ela poderia querer ali.

“É claro que pode, traga também chá verde, ela gosta bastante. Ahn, pode por favor deter todas as ligações para a minha sala enquanto ela estiver aqui?” Rosemary respondeu afirmativamente e Claude desligou o telefone. No tempo que decorreu até que ela entrasse na sala, conseguiu ponderar quatro possibilidades para o que a jovem diplomata poderia querer. Fechou os olhos e torceu para que não fosse a terceira possibilidade.

“A senhorita pode subir, o senhor Nistelroy a está aguardando em sua sala ...”

Alisia levantou-se e ajustou a barra da calça de tom pastel que delineava suas formas femininas perfeitas. Não usava roupas civis todos os dias, normalmente preferia moldar roupas de luz sólida e vestir-se de ilusões, mas naquela manhã sentiu a necessidade de algo mais real. Agradeceu e dirigiu-se ao elevador. Conhecia bem o caminho, e podia ver nitidamente cada uma das dúzias de câmeras e sensores espalhados e minuciosamente escondidos pelos corredores e portas. Chegou ao último andar e observou ainda de dentro do elevador que não havia mais ninguém ali. Tentou olhar dentro da sala de Claude. Finas camadas de espelhos sobrepostas por entre o concreto e a alvenaria bloqueavam completamente sua visão. Muito inteligente, pensou, um lugar onde nem mesmo os amigos podem observa-lo. Chegou à porta e abriu, sem bater.

“Onde está a diplomacia canadense, meu Deus?” brincou o inglês, acerca da entrada sem bater na porta. Ele levantou-se e deu três passos até ela, observando cuidadosamente suas vestes e, inevitavelmente, perguntando-se se o que ela vestia eram mesmo roupas ou apenas luz. Era difícil, de qualquer forma, não se distrair da conversa com uma mulher tão deslumbrantemente linda.

“Creio que esteja no Canadá. Já tem um bom tempo que não nos vemos, senhor Nistelroy, como está Klaus?” ela tinha aquele suave tom que misturava uma finíssima ironia com a maciez de palavras amigas. Claude a abraçou e deu-lhe um beijo no rosto. Tentou deduzir algo das roupas pelo toque, mas não pôde ser conclusivo.

Sentaram-se. A porta foi aberta novamente e Rosemary entrou na sala carregando uma bandeja com chá verde. Claude e Alisia agradeceram e, tão logo a secretária os deixou, voltaram-se um para o outro.

“Você deve estar se perguntando porque eu vim para cá, certo?”

“Imagino que não tenha sido para provar a mundialmente famosa culinária inglesa. O que aconteceu em Nova York?” Claude cruzava as pernas e colocava mais café em sua xícara. A pergunta eliminou a primeira hipótese.

“Mundialmente infame, você quer dizer. De fato, não. O que aconteceu em Nova York você já sabe, é evidente. O porquê, isso realmente não faz mais diferença alguma. Eu preciso de sua ajuda, Claude.”

Segunda hipótese descartada. Torceu para que não fosse mesmo a terceira. Deu um gole no café e, quando a jovem acendeu um cigarro, não conseguiu deixar de pedir um. Fez sinal para que ela prosseguisse.

“O que sabe dos MaxCops?” perguntou, incisivamente. Ainda não descartava totalmente a terceira hipótese, mas fez com que Claude ponderasse acerca de onde ela queria chegar.

“Projeto da MaxCorp que conseguiu legitimidade legal para patrulhar as ruas de Londres. A opinião pública a respeito deles é dividida mas os favoráveis têm crescido em número ... Nada que não esteja nos jornais, porque?”

Alisia abriu uma pasta e apanhou alguns papéis, estendendo-os para o milionário. Ele folheou em um micronésimo de segundo e, em seguida, retornou um olhar assustado para a bela mulher.

“MaxCops pelo mundo? Ele quer formar uma nova ISC?”

“Ele já tem algo próximo disso. O primeiro passo agora é conseguir instalar a MaxCorp como mantenedora da ordem pública na América do Norte. Lá terão uma vitrine mundial que certamente fará outros governantes a se questionarem sobre se não valeria a pena tercerizar o problema da criminalidade. Entende o que isso acarretaria, Claude?”

“Eles teriam controle sobre a inocência ou culpa dos civis que interessassem a Maxwell. Poderiam criar unidades governamentalmente amparadas para impedir a ação de super-humanos que não trabalhassem para o maldito ... Quando isso vai acontecer?”

“Em dois meses haverá uma assembléia governamental na ONU que decidirá a aprovação ou não de uma unidade experimental em Nova York e em Montreal. Eu estou fazendo de tudo para ser nomeada para discursar nessa reunião, mas isso não vai bastar, e é por isso que preciso de você.”

Claude engoliu seco novamente. Não queria mais pensar nas quatro hipóteses, então olhou para Alisia e fez a pergunta crucial. “E no que consiste essa ajuda?”

“Eu estou tirando férias da vida como Sunshine durante esses meses. Primeiro porque tenho trabalhado demais e o stress começou a comprometer a clareza de algumas escolhas que tenho feito. Segundo, porque não tenho mais o menor desejo de voltar a trabalhar com Richard Teabing nos próximos vinte ou trinta anos. Finalmente, porque nesses meses pretendo permanecer em Londres e investigar até o último beco dessa cidade atrás de sujeiras da MaxCorp que possam ser utilizadas para impedir que essa loucura vá adiante.” Alisia interrompeu-se quando Claude levantou, com olhar cinicamente ingênuo, a mão. “Sim?”

“Eu não perguntei a razão de ter se afastado, mon amour, eu perguntei no que consiste a judá que me envolve ...”

Alisia sorriu e respirou um pouco mais fundo. Ele era irritante e provocativo, e era exatamente o que o fazia um adversário patético porém divertido para retórica. Decidiu cortar diretamente ao ponto.

“Eu quero usar o Poliedro nesses meses, e quero que você vá para Nova York trabalhar com eles.”

Silêncio. Não era a terceira hipótese. Nem a quarta. Perguntou-se sobre se Richard teria pensado nessa quinta hipótese ou mesmo em outras dezenas que não lhe vieram à mente.

“E o que eu vou fazer em Nova York, pelo amor de Deus?!” exclamou, estupefato pela inesperabilidade do pedido.

“Ajuda-los. Sem mim eles estão com uma baixa estratégica de suporte em combate. Você tem o cinismo necessário para lidar com Crusade e é o único que conhece a equipe bem o bastante para me substituir. Além disso, e agora o mais importante, se Maxwell souber que o Lightning está atuando na América do Norte, vai diminuir suas ações por lá em vista do processo iminente da MaxCops e descuidar-se em Londres, onde eu estarei observando cuidadosa e silenciosamente.”

Claude odiava aquilo, mas Alisia sabia unir elementos retóricos aparentemente soltos em um discurso que, para quem partilhava o momento da performance, convenciam como o diabo.

“E Klaus? Ele está em época de provas na escola, não posso simplesmente tira-lo de lá agora!” não sabia muito bem o quanto daquilo era pelo menino e o quanto era por si próprio. “Além disso, onde vou morar em Nova York? Eu não tenho nada contra Richard, mas não quero morar em algum lugar onde não controlo os sistemas de segurança!”

“Fique tranqüilo, querido. Eu pensei em tudo, olha só: vocês vão morar no meu apartamento de cobertura em NY, pertinho do prédio da ONU e de uma excelente escola. E quanto a Klaus, ele pode fazer as provas lá, deixe toda essa parte de burocracia comigo, certo?”

Claude respirou fundo e, consciente de que não possuía a eloqüência necessária para dissuadir a diplomata de cabelos e olhos dourados, olhou vencido para o jornal dobrado sobre a mesa e só conseguiu pensar no horóscopo do dia.

Áries, de 20 de Março a 20 de Abril. O dia é propício para mudanças, seja favorável a convites inusitados. Cor da sorte: Azul. Número da sorte: 4.

O Retorno de Midnighter – Parte V

Quando sai da prisão, pensei que eu, Gabriel Shedd, encontraria um mundo mais limpo. Toda aquela televisão me fez mal. Não esperava que as coisas tivessem mudado para pior, no entanto.

"Não fui eu, eu juro! Eu juro!". O maldito grita mais uma vez. Eu enfio a ponta do meu coturno no buraco de bala na perna dele. Ele grita.

Eu não gosto dos gritos. Faz-me parecer o cara mau. Eu sou o herói aqui, como meu Pai foi antes de mim. Mas esse filho da mãe merece. Ele estuprou oito mulheres nas ultimas semanas. Matou duas. Eu estudei com uma delas no ginásio, Anne Chetter, moça de familia, mãe de um garotinho gordo. Morreu sufocada por um maldito saco de plástico, num beco miserável. O nome do desgraçado é Fabio Lusagrelli, sobrinho de um mafioso local. Ele é o primo feio da família. Não, ele não mora aqui, esse lugar é mais um santuário.
Claro, eu sei que ele é tudo isso. Encontro restos de drogas, papelotes amassados. Ele compra de alguém, e nada pior que um envenenador. Eu tenho ódio pessoal às drogas, fui preso por ser acusado de vendê-las. Enquanto o desgraçado chora aos meus pés, olho rapidamente pelo apartamento. Ele guarda fotos delas. Fotos! Eu não agindo de raiva, e atiro mais uma vez. Mas faço questão de mirar na "virilidade" dele.
Ele urra de dor. Urra como um porco que é. Eu saio andando pelo apartamento. Sujo. Descubro uma caixa onde ele guarda mexas de cabelo de suas vítimas. Queimo-as. Entre as gavetas, descubro anotações. Cheiram a veneno. É o contato, o vendedor dele. Guardo isso, já tenho um próximo verme a caçar.

Olho pra ele gritando no chão. Existe sangue espalhado por todo o assoalho. Miro nele de novo. "Pare, por favor, pare!". Ele olha lacrimejando, para de berrar um pouco.

Eu olho com ódio pela mascara. "Você sabe por que vai morrer, Fabio? Você vai morrer por que quando elas imploraram para parar, você não parou. Mas eu vou ser bonzinho. vou te dar a chance de escapar. Vou te largar aqui, igual você fez com elas. O telefone está logo ali. Se a emergência ligar a tempo, você vai ter sua chance".
Eu atiro na mão direita dele. Vejo os dedos escapando. Mas fui descuidado. Achei que ele iria estar sem segurança. Estou aqui faz oito minutos. Vejo pelo vão da porta dois homens se aproximando. Deviam estar no carro que estava parado no final do quarteirão. Outros se aproximam.
Jogo-me atrás de uma escrivaninha e atiro. O primeiro cai com força. Nada de sangue. Os desgraçados usam colete. Enquanto eles começam a atirar cegamente, jogo uma granada de fumaça. Isso vai me dar alguns segundos.

Ainda ouço os tiros. Troco rapidamente o pente. Meu pai me ensinou, faz muitos anos, que se o bandido usar colete, devemos usar balas perfurantes. Faz sentido. Enquanto puxo a trava do fuzil, um dos disparos dos desgraçados atinge meu ombro.
Meu colete segura a maior parte do impacto, mas eu sinto que vomitei sangue. Por dentro da mascara, o sangue se gruda ao tecido, numa textura pegajosa. Quase vomito com o cheiro de ferro. Meu ombro deve ter deslocado. Não tem problema. Eu tenho outro.

Começo a atirar. A fumaça é tão ruim para eles quanto é para mim. Pego a câmera de visão noturna que trouxe comigo. Eu sabia que ia ser útil. Seguro ela com o braço ruim, e atiro apoiando o fuzil na minha barriga. Dói muito, mas é a única saída.
Derrubo uns três deles. Eu não havia me preparado para uma briga de verdade, deixei o armamento pesado no carro. Percebo então minha saída. Quatro homens estão atirando de uma parede. Eles não perceberam que eu já mudei de lugar faz tempo. Vejo um extintor de incêndio enferrujado atrás deles. É bom de mais para ser verdade.

Dois tiros. Eu posso jurar que vi pedaços de um deles voando por cima de mim. Existem outros chegando pela porta, e minhas balas estão quase no fim. Eu preciso voltar para o carro. Meu pai me ensinou que o bom guerreiro sabe a hora de se retirar.
Tento minha última saída. Uma granada de fragmentos. Arremesso ela fora da casa, e rezo para que não tenha nenhum civil próximo desse cortiço. Jogo-me atrás de uma estante.
A explosão não é tão grande. Eu esperava mais barulho. No instante seguinte, o lugar inteiro parece ser fuzilado por uma chuva de fogo. Os fragmentos fazem jus ao nome, perfuram parte da parede de madeira da casa. Os homens lá fora se assustam. Um deles grita de dor.

Olho para o chão, Fabio ainda está vivo. Vou correndo na direção da janela dos fundos, não vou ter outra chance para escapar. Enquanto estou saindo, ele grita num misto de dor e ódio “Quem diabos é você, seu monstro?”. Eu?

Eu sou Midnighter.

Olhos Nublados – Parte IV

Mila sentiu o sangue respingar em seu rosto. Estava completamente imóvel, e seu olhar parecia perdido na desconfortante visão da cidade que se projetava das enormes janelas do MaxCorp Silver Tower. As luzes estavam apagadas, mas os disparos das armas criavam uma iluminação aterradora que revelava apenas pequenos traços da cena. Ouvia Zed gritando, mas as palavras eram incompreensíveis. Seu corpo foi arrastado para longe, sua visão tornou-se turva – parte pelo sangue escorrendo pelo próprio rosto – e os sons ficaram cada vez mais distantes.

Acordou. As luzes se moviam rápido de mais. Pareciam tentar chegar a ela por todas as direções. Ouviu um sussurro, talvez de Zed. O gosto de ferro em sua boca era forte. O sangue coagulado perde o calor reconfortante, e se torna congelante. Tudo parecia ficar escuro. Ouvia sirenes. As imagens sumiram novamente.

Abriu os olhos mais uma vez. Uma luz forte. Uma pergunta foi feita, mas ela não entendeu nenhuma palavra. Era difícil respirar. Sentiu sua pele sendo perfurada, mas não soube dizer onde; a dor já dominava seu corpo. Tudo parecia azul. Azul e branco. Era como deitar no chão do banheiro, frio, muito frio. O cheiro de ferro entupia suas narinas. O ar pareceu se recusar a entrar em seus pulmões. As coisas tornaram-se escuras mais uma vez.

Uma sensação confortável abraçou seu corpo. A dor havia melhorado. Abriu os olhos, mas eles se recusaram a aceitar a luz.

– Se sente melhor?

Mila tentou olhar para o dono da voz, mas suas pálpebras recusaram se abrir. Ela tentou mover um dos braços, mas sentiu uma dor alfinetando todos seus músculos.

– Calma, calma, você teve sorte! Agora descanse, você precisa de repouso.

Ela tentou balbuciar alguma coisa, mas não conseguiu formar palavras. Sentiu uma mão correndo sua testa. Pele suave, quase que veludo. Mila não ouviu mais nada. Não conseguia pensar direito. Perdeu a noção do tempo, e não teve certeza se estava acordada.
Teve um sonho estranho em algum momento. O mesmo sonho que a perseguia desde aquela noite, quatro meses antes. Pilhas e mais pilhas de corpos, alguns de crianças. Uns poucos homens esqueléticos se esgueiravam revirando os cadáveres. Uma torre retorcida se erguia no horizonte, e parecia tragar a atenção do devaneio. Uma sala do trono feita de esmeraldas pontiagudas. Havia uma pessoa usando uma armadura verde e negra, sentado em um trono disforme. No horizonte, é possível ver uma tempestade vermelha, uma chuva de sangue. A aterradora figura olhou diretamente para ela. “Você não pode impedir”.

– Abra a boca, você precisa de água.

Mila sentiu o liquido escorrendo por seus lábios. Fez o possível para bebê-lo sem engasgar. Seus pensamentos ficavam mais claros. Por que não soube que os homens iriam entrar na sala? Isso nunca havia acontecido, a maldição podia ter acabado com suas noites de sono, mas pelo menos não cometia erros tolos como esse.
Tentou abrir os olhos novamente. Ouvia gaivotas, e um ronco de motor. A luz feriu sua retina, mas ela se recusou a fraquejar. Lentamente, acostumou-se com a luz. Então, tudo ficou nublado.

– Finalmente! Eu já achava que meu investimento tinha ido por água abaixo – Disse Zed. Mila podia vê-lo agora, estava sentado em uma cadeira branca. – Você consegue falar?

– C-como ch-cheg... chegamos aq-qui? – A garganta da moça doía um pouco, como se tivesse gritado muito na noite anterior.

Zed sorriu. Levantou-se e saiu da sala sem falar uma palavra. Mila sentia o corpo doer. Tentou se levantar para segui-lo, mas não teve forças. Sentiu certo desespero em não conseguir sair da cama. Ela quase chorou, sua respiração ficou pesada.

– P-por favor, n-não... – tentou falar, tentando esconder o medo em sua voz.

Mas não adiantou. Zed só retornou muito tempo depois. Mais de uma hora. Trazia uma bandeja com um prato de algum tipo de caldo ou sopa. A garota tentou falar alguma coisa, mas Zed pareceu bastante convincente em dizer que ela deveria comer. Comeu. Meio forçada, a garganta arranhava a cada colherada. Quando terminou, se sentia mais calma. Seus pensamentos ficaram lentamente mais claros.

– Como saímos de lá? – tentou perguntar, com uma voz mais suave.

Zed não respondeu.

– Eu sei onde estamos, sei que fiquei inconsciente por dois dias. Eu sei até que você seduziu a esposa do dono desse barco. Mas por favor, me responda como saímos de lá?

Mais uma vez, ele permaneceu em silêncio. O barulho de um helicóptero preencheu a sala, mas gradualmente foi diminuindo. Mila tentou se levantar bruscamente, seus olhos pareciam mais nublados que nunca.

– Siga o helicóptero, não temos muito tempo! – ela disse. Sentiu dor ao falar tão rápido.

– Não. – Zed respondeu num tom de voz suave, com um sorriso leve no rosto.

Mila ficou paralisada por alguns instantes.

– Você precisa me ajudar! Se não fizer isso, vai acontecer algo muito ruim! – ela tentou justificar. Falar parecia causar certa dor em seu corpo.

– Claro, eu sempre preciso ajudar. Vamos fazer isso mais interessante para mim. Quem vai ganhar a Liga dos Campeões? – disse ele, numa cadencia calma e suave.

– O que? Milhões de pessoas podem morrer, e você está preocupado com futebol? Você não tem coração? – ela tentou segurar a respiração, mas já sentia um gosto de ferro na boca.

– É uma troca justa. Uma resposta inocente não é um preço razoável pela vida de milhões? – Zed parecia examinar a palma da própria mão.

Mila não podia acreditar. Ele parecia ser pessoa completamente diferente de quem havia conhecido. Um barulho de explosão ao longe. Ela não tinha muito tempo.

– Manchester, 3 a 2 contra Milan. – ela não entendia direito, mas se sentia usada. Ela tinha más lembranças de usar o dom para proveito próprio.

Zed se levantou e saiu. Mila sentiu o barco mudando de direção.

Um dia cheio de surpresas

São exatamente meio dia do dia 21 de Outubro e estou com dor de cabeça. Minha manhã foi um tanto atribulada, fui acordado por Nicholas às 7 horas da manhã, devo dizer que fui retirado, seqüestrado por ele da minha cama e do meu sonho fabuloso com a minha exótica amante oriental. Ora, não foi sonho, o perfume dela ainda está impregnado no meu corpo, mais um motivo para odiar ter levantado tão cedo. A manhã foi deveras complicada, a começar pelo motivo do despertar, uma reunião com Denorus, um ser muito intrigante, e muito poderoso. Parece um elfo saído das histórias de Tolkien, com aparelhos tecnológicos tão sofisticados que parece magia. Perto dele minha armadura é um moinho de vento. O que me motiva a vê-lo, mas me faz odiar o 19º lugar no ranking. Segundo Nicholas, Denorus teria poderes para curar Christine e com essa esperança partimos para o meio do oceano índico, entre a Índia e a Austrália. Lá encontramos o elfo em seu disco voador no meio do nada.
Após uma mistura de 20.000 léguas submarinas com Star Trek, dentro da fortaleza de Denorus, Nicholas me volta do fundo do mar me dizendo que precisamos encontrar ajuda para romper uma barreira ancestral no fundo da água. A primeira candidata a ajudante é Waterfall, ex-Supremos, salvamos o rabo dela da ultima vez quando ela estava dominada pelo Knight, mas mesmo assim ela ainda é carne de pescoço e nos obriga a fazer outro favor para ela. Não que eu não fizesse se ela soubesse como pedir, afinal aqueles olhos azuis e aqueles cabelos negros já são um ótimo pagamento. Seguindo as ordens da Israelense, partimos de Israel para os Estados Unidos, em busca do noivo dela. Lá descobrimos que o rapaz estava com grandes problemas, trabalhando com tecnologia avançada em computação biológica para um pequeno país da Europa que não consta na maioria das enciclopédias. Heintzenberg é uma ilha exportadora de petróleo e com um ministro muito mal humorado, além de mentiroso. Ele nos recebe junto com o que parece ser todo o exército nacional, e depois de uma conversa amigável com Alísia, que usa toda a sua diplomacia e charme, ele nos leva para o seu gabinete, onde mente descaradamente e após algumas palavras grossas de ambos os lados somos expulsos do país. Interessante a tecnologia que eles possuem, avançada demais para o nível do lugar.
Fomos expulsos, mas como estávamos curiosos não desistimos. Sunshine viajou camuflada até o limite da ilha e usando sua supervisão achou o ministro. Ela o seguiu até o castelo real, onde ele foi se encontrar com ninguém menos que Nightmare. Aquele holandês traiçoeiro estava trabalhando com o paiseco, penso se a pesquisa do rapaz não teria a ver com a armadura do holandês. Fato é que Herman sentiu a presença de Alísia e nós tivemos que fugir do país sendo perseguidos por caças altamente tecnológicos, mas claro que não tão tecnológicos quanto é Claymore. Pelo menos existem vigésimos e trigésimos lugares na grande lista. Partimos e contamos a Waterfall o que descobrimos. A cortesã já sabia de tudo e nos mandou na busca apenas para se divertir. Dou a ela minha palavra e 20.000 dólares e ela concorda em nos ajudar.
A segunda e a terceira ajudante são mais fáceis. Nêmeses dos Peacekeepers se oferece espontaneamente para ajudar-nos e Trauma, uma menina da família Werner também. Grupo reunido, voltamos para a fortaleza de Denorus. Ele, Liquid, Trauma, Nêmeses e Waterfall partem para quebrar a barreira. Sunshine, Impacto e eu ficamos na fortaleza a espera. O tempo passa e logo o mundo começa a cair, o oceano treme e a fortaleza começa a baixar, faço as contas e me pergunto se minha armadura resistiria à pressão da água e chego a duvidar que vá sair vivo desta empreitada.
Súbito, para o bem ou para o mal, o mar explode e uma imensa cascata d’água se forma, jogando a fortaleza em que estamos para uma altura absurda. Eu consigo ver o satélite Armada 3 até. E então a fortaleza começa a cair, atravessando a enorme corrente de água vertical. Acho que estamos a 300 mph aproximadamente, faço força para erguer a sala onde estamos, mas é inútil, penso em sair pela abertura, mas a corrente causaria grandes estragos no hardware. Os segundos passam e então Impacto age. Ele nos agarra e nos transporta para fora do perigo, imaculados. Não sabia que ele tinha esses poderes, ele transmutou nossas moléculas e as dele para o estado de fase 4 e como fantasmas atravessamos a água e chegamos salvos na nave, respiro aliviado.
Enquanto estávamos presos, Liquid, Waterfall e as duas meninas impediam que a queda da corrente provocasse um Tsunami de destruição. No final, todos vivos, embora cansados, podemos seguir para casa. Deixamos cada uma das meninas em sua respectiva casa. Waterfall deixa bem claro que espera que eu cumpra minha palavra, eu a asseguro que cumprirei. Não que o namorado dela seja a minha motivação, mas qualquer um que trabalhe com Herman não é boa coisa.
E quando eu acho que finalmente poderei voltar para minha cama e descansar eis que me aparece mais um problema. Estamos a 190 metros e eu posso ver a fumaça em Camelot, 170 metros e posso ver a torre Sul desabando. Penso em 6 possibilidades para o atacante e logo descubro que é a terceira. 100 metros e eu vejo a forma verde brilhante disparando rajadas radiativas na direção de quem eu reconheço como sendo Ionns, um dos soldados de Jack Larsen. Pelo visto ele estava se virando bem contra Miracle, afinal ele veio para cá para ajudar no caso dela. Ionns parece controlar energia, todas as rajadas de Miracle se dissipam ao chegar nele. Estamos a 50 metros quando vemos a cena, Nicholas já estava acordado fazia 1 minuto, ele viu tudo. Miracle tentou partir para uma abordagem mais física contra Ionns, mas ao chegar perto dele, voltou a forma humana e ele a segurou pelos braços. Aproveitando a situação Christine deu um beijo em Ionns de fazer inveja. Adoro as mulheres, elas conseguem tudo o que querem, não importa os modos empregados.
A raiva de Nicholas é palpável quando ele ordena a Claymore que abra a porta lateral e logo em seguida sai voando. Incrível como ele consegue ser tão idiota de cair nessa provocação barata, fazer o que... Todos os apaixonados são idiotas.
Pouso a nave a tempo de ver a discussão entre ele e Miracle, ela tem um problema de dupla personalidade, uma é a Christine amável e fútil, a outra é um ser cruel e desprezível. Ela está com a personalidade esquerda hoje. “Por que você está destruindo Camelot?” Pergunto com mais vontade de derrubar a vadia do que de ser razoável, mas Nicholas está do meu lado, então sou polido com Miracle. “Eu estava cansada daquela prisão.” Me responde a cretina com a cara mais safada do mundo. “E precisava destruir tudo?” Grito quase perdendo o controle. “Se eu fosse vocês, me preocuparia mais com sua amiguinha japonesa, antes que o fogo atômico que espalhei nos andares abaixo a consuma.”, a vadia sorri enquanto me diz isso, tenho vontade de atacar, entretanto parto para salvar Miharu junto com Ghünter deixando Sunshine para ajudar Liquid.
Dentro de Camelot eu vejo o inferno, fogo atômico destruindo tudo, fundindo portas e destruindo meu sistema de 6 bilhões de dólares. O calor é tão intenso que destruiu o programa anti-incêndio de Camelot. Desisto de procurar Miharu e parto para o laboratório onde espero criar um aparelho capaz de apagar as chamas, Ghünter tem 85 % de chance de salvá-la. Preocupo-me com as soluções possíveis para o dilema das chamas, em um segundo chego a uma conclusão, em um minuto tenho um nulificador de partículas subatômicas pronto. Com ele resolvo o problema das chamas e retorno para onde estão os outros.
Chego a tempo de ver Ghünter chegando com Claymore, ele traz Miharu curada e a responsável pelo feito, Hisa. Entre todos os dotes de minha amante, um deles é seu poder geneativo, ela é capaz de curar ferimentos. Ao me ver ela corre em minha direção, é linda a preocupação em seus olhos, sinto-me lisonjeado.
Miracle fugiu, Liquid insiste em ir atrás dela, mas ele não está em condições. Eu olhos nos seus olhos e sei que ele irá, não importa o que seja preciso. Ele me pede para que Hisa o cure, eu falo com ela em Japonês e ela me responde com sinais. Ela me diz que pode deixar Nicholas inconsciente, o que eu peço que faça. “Richard, se você estiver planejando algo, não é a hora.” Ameaça Liquid pouco antes de apagar. Eu seguro Hisa que também desmaia devido ao esforço que faz. Após deixarmos os dois na enfermaria, partimos com Ionns para localizar Miracle, o soldado consegue rastrear energia.
Fazendo seu trabalho maravilhosamente, Ionns nos leva até onde o rastro de energia termina. O soldado é extremamente competente no que faz. Para nossa surpresa nos descobrimos no rastro de Singularity, uma mulher demente que possui poder suficiente para atrapalhar Van Rayner. Da última vez que a encontramos, além de levarmos uma surra, ela deixou Miracle no seu estado atual radioativo. Só não entendo o que ela estava fazendo numa cidade onde assistia o louco Lann.
Estávamos investigando o local quando recebemos uma mensagem de Nicholas. Ele estava indo para a França encontrar Miracle. Eu não entendi como ele acordou tão cedo, ou mesmo como ele sabia onde estava Miracle. Só sei que logo terminamos nossa investigação partimos para lá. Eu estava preocupado com Nicholas enfrentar sozinho Christine, por isso coloquei os motores da nave em toda a potência. Aliás, coloquei os motores em potência superior. Fazendo a Nave se desgastar no processo. Mas Nicholas é meu amigo, a nave não é nada.
Quando chegamos, temos mais surpresas. Encontramos Nicholas enfrentando Singularity e Miracle, mas o corpo de Christine está separado, distante do corpo atômico. Organizo o ataque, deixando Ionns para cuidar da parte atômica enquanto Sunshine, Liquid, Impacto e eu atacamos Singularity. Ela resiste aos nossos golpes individuais, portanto decidimos um ataque conjunto. Enquanto isso Ionns neutraliza a contraparte atômica de Miracle.
Voando em Mach 1 eu me posiciono atrás de Singularity enquanto Sunshine provoca uma abertura na guarda de dela. Nicholas carrega todo o seu poder se concentrando e então disparamos juntos. Nem mesmo a barreira de Singularity consegue segurar todo o nosso poder e ela perde a consciência por alguns instantes.
Neste pequeno espaço de tempo, aproximadamente 3,5 segundos, chega a cavalaria. Primeiro os antigos Supremos: Ignus, Earthquake, Metallie e a deliciosa Whisper. Depois os antigos Peacekeepers: Stunner, Cybelle e Fastep. Junto com Pierce chegam Lightnning, Sonique e sua irmã Symphony. Eles chegam, pois eu havia informado Pierce sobre a descoberta do paradeiro de Syngularity quando a descobrimos em Irwin. Chegam para desencorajar qualquer vilão que queira se meter nos assuntos da Extreme e de nossos aliados. Chegam para mostrarmos para a ISC que ela não está sozinha como senhora do mundo. Chegam e em segundos, Singularity está deitada ao chão e permanecera neste estado por muito tempo.
Quando os Supremos desceram de sua nave, Ignus e eu combinamos um ataque apenas com o olhar. Nós dividimos as equipes. Crusader, Sunshine, Ignus, Nicholas, Whisper e Cybelle atacaram por cima juntando toda sua energia num feixe único. Enquanto isso em terra, providos por bastões de pedras criados por EarthQuake, todos os pesos pesados atacaram fisicamente o alvo que foi levantado ao ar por um ciclone provocado por Lightnning, Sonique e Fastep. Symphony atacou sozinha mentalmente o alvo.
O resultado final foi a queda de Syngularity e a aplainagem de 30 metros quadrados de chão. Nosso recado foi dado, uma bela lição.
Quando acabamos aproveitamos uns dos poucos momentos em que podemos ficar todos juntos para conversarmos. Nós só nos reunimos assim para lutar. Nicholas convida a todos para jantarem em sua casa. Pierce me pergunta se um ataque deste nível fora necessário. Eu afirmo que sim. A lição era necessária. Agora todos sabem que estamos aqui para ficar. E eles vão temer isso. Partimos em carona com Ignus, Claymore segue em piloto automático aos trancos. Nada que uma tarde na oficina do hangar de Camelot não resolva.
Chegamos e eu recebo mais uma surpresa. Ao nos despedirmos de Ignus, Nicholas agradece a todos. Ignus parte. Quando Nicholas se prepara para ir embora ele me diga “Richard, eu estou te devendo” Eu ia dizer algo, mas quando olhei nos olhos de Nicholas não tive tempo de me defender a tempo de salvar meu nariz. Ele se virou e saiu, me lembrando de ir jantar na casa dele esta noite.
Adoro o humor austríaco.
Todos se vão, eu fico. Preciso terminar o exoesqueleto que estávamos criando para Phase. Trabalho nisto por duas horas, estou exausto quanto sinto uma mão no meu ombro. Antes de me virar sinto o perfume de cereja. “Você descansou bem?” pergunto em japonês enquanto me viro. Hisa acena que sim com a cabeça. Ela se assusta com meu nariz quebrado. “Não foi nada.” eu respondo. Com um simples toque, ela restaura a cartilagem do nariz e cura as feridas do meu corpo, me sinto bem, disposto novamente. Eu a pego nos braços. Palavras são desnecessárias, a base estava vazia exceto por nós, o doce aroma de cereja e suor.
3 horas e 35 minutos depois voamos para casa. Ela me abraça quando chegamos e me beija como se quisesse roubar meu sopro vital. Ela está apaixonada, perdidamente. Sinto-me lisonjeado.
Quando entro no quarto ela me segue e tranca a porta. Palavras são desnecessárias. Após um banho quente nos vestimos. Eu escolho um terno cinza escuro com uma camisa escarlate. Hisa coloca um vestido de seda chinesa vermelho, com um dragão estampado na frente.
Desta vez escolho minha Lotus preferida. Modelo atual, curvas arrojadas e o motor, meu é claro. No caminho para o prédio de Nicholas encomendo comida do Masa para Hisa. Ela é um tanto enjoada em relação à comida. Sinto falta da alegria de Tessa. Com esse pensamento ligo para uma pizzaria e encomendo uma das famosas Pizzas gigantes. Peço também para entregar sorvete. Nina, a irmã mais nova de Nicholas adora sorvete. Para meu próprio gosto estou levando uma garrafa de Scotch irlandês.
Chegamos, Nicholas está feliz. Isso é bom, assim tenho certeza de que não levarei mais um soco. Cumprimentamos-nos, sigo para a cozinha e pego dois copos para servir a ele uma dose. Alísia já está na casa conversando com Christine, aparentemente curada, sobre as futilidades comuns das mulheres. Ghünter não vem, preferiu ficar com Miharu, provavelmente patrulhando.
Sento-me com Nicholas e começamos a conversar sobre as futilidades comuns aos homens. Hisa não está feliz, está com ciúmes de mim, provavelmente acha que eu não estou dando atenção a ela, ou que não a assumo em frente dos meus amigos. Ela começa a me irritar. A festa foi organizada no topo do prédio, Nicholas mora na cobertura de um antigo bairro respeitável de NY.
Logo chegam Kelvin e Cecile, sua esposa. Junto a eles chegam Claude e seu filho Klaus. Reunimos-nos e aproveitamos uns aos outros. Kelvin, eu e Claude conversamos sobre tecnologia de segurança. Hisa parece beber mais do que devia e em pouco tempo está claramente embriagada. Em dado momento, Nicholas me chama a um canto da casa. “E então o que você acha?” Ele me diz mostrando um anel de noivado. “Nicholas, eu sempre soube que você me amava” respondo brincando. “Ela vai adorar meu amigo, desejo tudo de bom para você” Respondo sério desta vez. “Richard, eu queria saber se você não gostaria de ser meu padrinho de casamento.” Eu fico lisonjeado com o pedido e respondo que será a maior honra que alguém me ofereceu em toda a minha vida.
Sabendo do pedido faço uma rápida reunião com Claude que em segundos busca uma aliada nossa, senhorita Amanda, vulgo Whisper. Uma cantora de sucesso, lindíssima. Nós aproveitamos a festa. Eu não tiro os olhos de Amanda. Hisa está ocupada demais conversando com o sakê para perceber meu interesse na espanhola. Nicholas se prepara para fazer o pedido. Eu olho para Claude, ele acena em acordo. Quando Nicholas se levanta e faz o pedido, todos nós recebemos instrumentos musicais. Eu começo a tocar o violino acompanhado pelo teclado tocado por Cecile e do sax tocado por Claude. A linda voz de Amanda se sobressai. Dos céus surge um anjo de gelo iluminado por uma radiante luz, ele traz o anel para Christine que maravilhada chora de emoção.
Quando todos levantamos nossas taças para um brinde, Hisa me agarra, beija e desmaia embriagada. Eu a levo para o sofá de Nicholas e a deixo lá. Quando volto para a festa, começo a conversar com Amanda, ela é um tanto distante, avoada, mas linda. Quando Ignus ia se despedir algo estanho acontece. Um homem em uma armadura vermelha passa em um vôo rasante ao lado de nosso prédio. 2,4 segundos depois um homem num uniforme que lembra ao antigo personagem japonês Kamen Rider salta sobre nossa mesa. “Desculpem pessoal, mas o apressado Cricket está em uma perseguição” É o que ele grita logo após sumir em um salto gigantesco e cair sobre o armadureiro.
Ficamos alguns instantes sem fala. Ignus me olha questionador, eu apenas encolho os ombros e sorvo um gole de Scotch voltando minhas atenções para Amanda. Ela tem os maiores seios que eu já vi, e lindos. Pergunto-me se não cairiam sem o sutiã. Após algum tempo todos começam a ir embora. Eu peço para Amanda ficar, dizendo que eu a levarei embora. Ela aceita. Nicholas me pergunta sobre Hisa. “Não se preocupe” eu respondo “Jarvis, virá buscá-la.” Jarvis sempre as busca para mim.
Despeço-me de Nicholas e chamo Claymore, ela está nova em folha. Entramos eu e Amanda. Conversamos um pouco mais. Ela é distante, mas gosta do que ouve. Eu toco em sua mão, subo para os seus braços e depois para seus cabelos. Ela me olha, nos beijamos. Ela pede para que eu abra o teto da nave. As estrelas são lindas. Nós nos beijamos, nos acariciamos. As estrelas se tornam ofuscantes. No final, nos abraçamos. Realizo uma fantasia compartilhada por grande parte dos homens do mundo, descubro que existem forças maiores que a própria gravidade. Foi divertido, mas não foi metade do que poderia ter sido. Amanda é linda, mas péssima amante. Sinto falta de Tessa, nenhuma delas é tão habilidosa quanto Hisa. Hisa é majestosa neste aspecto, mas Tessa é divertida, Tessa tem paixão. Amanda é distante. É como comer um petit gateu quando tudo que se quer é uma banana split.
Mas sempre se pode provar o petit gateu mais de uma vez. Passo a noite na Espanha com Amanda. Despedimos-nos de manhã. Eu traço o curso para a Inglaterra. Tomo um banho, troco de roupa. 8 horas da manhã entro no apartamento de Tessa. Ela ainda dorme. Enfio-me debaixo de suas cobertas e a abraço. Ela se vira e me beija. Palavras nunca foram tão inúteis.

O Retorno de Midnighter — Parte IV

Checo mais uma vez a bateria da armadura, e quase fico feliz em saber que ainda tenho 21 minutos. Tempo suficiente para uma última volta. Estico o braço para o lado e puxo uma trava com um leve movimento de dedos, fazendo disparar uma câmera voadora de meu cinturão. Meu irmão, Albert Samsom, projetou um sistema de câmeras controladas facilmente por um sistema remoto. Graças a isso, eu consigo ter uma idéia do que está acontecendo na vizinhança sem ter que gastar a preciosa energia do traje. Claro que a imagem não é muito boa, parece com câmera de telefone celular de dez anos atrás, mas dá para ter uma idéia.
Três quadras abaixo, na Union Dale, a pequena câmera me mostra algo suspeito. Quatro carros blindados, uma dúzia de homens com armamento pesado saindo e se preparando para algo grande. Eles olham para o prédio do Hospital St. Claire, onde descubro, graças à meu acesso à Internet sem fio nos sistemas da armadura, estar internado Fabio “Garanhão” Lusagrelli, sobrinho de Henrico Mancini, um chefão falido que achou que poderia peitar Don Lorenzo Maggio, um dos manda-chuvas do crime em Chicago. Qualquer um que assiste os noticiários sabe que máfia é coisa suja, e que o St. Claire é por acaso o hospital beneficiado por generosas doações da família Mancini.
Eu salto os dois primeiros prédios que me separam dos capangas. As ruas são pequenas quando vistas de tão alto, fico feliz em não ter medo de altura. Depois do segundo pulo, o motor de ar comprimido da armadura fica sem gás, e corro os quase vinte metros seguintes antes de poder pular novamente. Cada passo meu bombeia ar para a o cilindro de compressão e, com ele cheio, tenho energia para pular mais uns dez metros. Claro, a queda provavelmente me mataria, por isso acabo gastando uma quantidade enorme de gás para amortecer o impacto. Dói pra diabos, mas não mais do que cair de barriga numa piscina cheinha. Por segurança, uma série de ganchos dispara automaticamente na direção dos prédios mais próximos quando estou no ápice vertical de meu movimento, evitando acidentes.
Olho do parapeito. Estou vendo os homens, seis andares abaixo. Apanho a câmera voadora e guardo em meu cinturão – essa coisa é cara, tenho que tomar todo o cuidado do mundo para não quebra-la. Travo um gancho no chão atrás de mim e respiro fundo. Fico imaginando como Abe fazia essas coisas sem nenhum dos recursos que disponho. Sinto um pouco de orgulho dele, afinal, ele é Big Abe Samsom, e fez por merecer a fama de mais duro dos irmãos. Pego um cilindro do cinturão. É um bastão retrátil de titânio com um pequeno motor de vibração – não que seja de grande valia, mas deve nocautear facilmente os brutamontes que estão lá embaixo. Tem quase dois metros quando ativado. Confiro o tempo da minha armadura. Quatorze minutos.
Vejo os homens apontarem as armas. Parecem metralhadoras pequenas, mas não sei dizer a essa distância. Eu devia ter instalado uma lente de ampliação nessa droga de capacete. Calculo meu salto para o capô do carro da frente. Deve assustar os bandidos por tempo o suficiente para que eu me recupere da queda. Quando vejo que um deles começa a atirar, salto com força para baixo. Durante a queda, me lembro de que nunca testei a armadura para uma parada brusca.
Sinto o metal de minhas botas afundando na blindagem do capô do carro. O impacto é tão forte que o resto do veículo se dobra para cima, estourando os vidros. Meus pés estraçalham o motor do veículo. Minhas pernas doem como o diabo, e teria me ajoelhado de dor se o metal do capô não tivesse se dobrado ao meu redor, impedindo os movimentos. Sinto o fisgo do gancho preso em minhas costas, e vejo o cabo de metal me puxando para cima. Subo meio metro, e caio de novo. Enfio uma perna na frente, e consigo parar na calçada, quase desequilibrado. Ordeno para o gancho soltar. Ele vem em alta velocidade e chicoteia em um cabo elétrico, que é cortado ao meio. O resto do gancho bate em minhas costas com violência. É como tomar um soco daqueles. Fico sem ar.
Vejo o quarteirão inteiro se apagando por causa de minha entrada triunfal. Os mafiosos param de atirar por um segundo. Eu acho que os assustei de jeito. Uso o bastão de titânio – essa porcaria que me custou duas mil pratas – como bengala e me levanto corretamente. A armadura pesa uma tonelada em meus ombros, mas é forte como um diamante. Perdi o sistema de giroscópio, não vou conseguir estabilidade suficiente para usar o disparador de balas de borracha. Sinto que vou precisar de uns dois dias de gelo e repouso quando sair daqui.
Dou um salto para frente, tentando bater meu bastão em um dos italianos. Eles são lentos, quase se esqueceram do que é uma briga de homens. Quando piso no chão no final do pulo, urro de dor. Minha perna se dobra sozinha, ainda sentindo a pancada da queda. Eu jogo todo meu peso para o outro lado, e empurro meu corpo para frente, caindo de encontrão num mafioso. Nessas horas, eu penso que valeu a pena ter engordado. Com a armadura, estou pesando mais de trezentos quilos, e não me surpreendo ao ouvir um osso quebrando abaixo de mim. Um bandido a menos, mas eu estou caído.

Eles demoram um precioso segundo para olharem para mim. Ativo a camuflagem nesse meio tempo. A escuridão repentina e os flashes de luz do cabo elétrico chicoteando a rua me dão a distração necessária para me levantar. Começo a pensar que eu deveria ter atropelado eles com meu furgão – ia ser mais seguro. Retomo meu fôlego, olho para os lados. Giro o bastão com força, e três dos rapazes caem inconscientes. Restam oito agora. Eu gosto do barulho oco que o metal faz quando bate em bandidos. Faz-me sentir no controle da situação.
Eles começam a atirar. Eu devia ter pensado nisso antes. Minha camuflagem não chega nem aos pés da dos filmes do Predador – na verdade, ela é uma fina cama de fibra ótica que projeta imagens do ambiente – e o bastão visível, brilhando com cada flash da eletricidade na rua, também não ajuda muito. Claro, a surpresa faz com que muitas balas passem longe. Algumas resvalam na minha blindagem sem que eu sinta nada. Outras me atingem reto. Uma coisa que eu sempre tive curiosidade era o quão forte era o impacto de uma bala quando se usava colete. Estou usando uma armadura com meia polegada de titânio e liga de carbono, além das camadas de chumbo, tungstênio, amianto e outras paranóias minhas. Essa droga deveria parar (com sorte) balas de canhão. Mas mesmo assim, eu sinto cada impacto. É como ser atingido por um bastão de baseball, cada golpe só multiplica a dor do primeiro. Um dos tiros atinge um receptor externo da minha camuflagem no braço direito, e eu fico parecendo ruído de televisão fora do ar. Desligo. Eu devia ter pintado a droga de armadura de preto, pelo menos, ia chamar menos atenção a noite do que o metal polido.

A camuflagem com defeito comeu metade de minha bateria. Provavelmente, a queda e as tentativas do traje de amortecer os impactos fizeram um bom serviço. Tenho quatro minutos e doze segundos. Não tenho ar comprimido para dar um salto, e eles estão a quase dez metros de mim. Minhas pernas estão me matando. Confiro novamente a bateria, e me surpreendo com três minutos e quarenta e sete segundos. Assusto-me. Deve estar vazando energia. Ótimo.
Vou correndo na direção deles. Anos de futebol na faculdade me fazem derrubar dois deles em alguns instantes, e ainda consigo levantar o segundo e arremessá-lo nos outros. Derrubo mais um no processo. Sinto as balas cada vez mais fortes. Três minutos e vinte e dois segundos. Droga. Droga. Droga.
Uma das balas atinge meu elmo. Minha câmera de visão noturna vai pros ares, está tudo escuro. Eles acabaram de destruir novecentos e trinta dólares de investimento, e uma tarde inteira de serviço. Enquanto meus olhos se acostumam, esbarro em mais um deles. Espero que tenha sido um deles. Espero, por que no instante seguinte, eu dou o famoso soco de direita dos Samsom. O infeliz não vai mastigar por duas semanas. Dois minutos e trinta e oito segundos. Faltam quatro bandidos.
Arremesso meu bastão no mais próximo, que tomba. Ótimo, agora estou desarmado. Eu devia ter pensado em usar bumerangues, ou então, amarrar uma corrente na minha arma. Dois minutos e três segundos. Um apito no meu ouvido. O motor de compressão. Eu tenho energia suficiente para dar um pulo. Penso com toda a vontade do mundo que eu deveria aproveitar isso e sair desse lugar, mas algo em mim diz que não. E concordo. Abe com certeza não pensou em voltar atrás quando os malditos o emboscaram. Ele lutou até o final, pelo que era certo. Eu sou um Samsom, não vou cair. Não vou envergonhar meu irmão. Não vou sujar o nome de Hasler.
Com um minuto e vinte e sete segundos, eu chego correndo em um dos homens. Apoio minha perna em seu peito, e ativo o motor de pulo. Um jato de ar o arremessa quase vinte metros para trás, fazendo-o afundar o corpo na lateral de um carro. Arremesso meu gancho num outro homem. Mantenho a ponta fechada, eu não sou um assassino. Hasler nunca matou homens assim, não é a maneira correta de fazer justiça. Vejo o infeliz girando no ar. Meu gancho bate na parede do hospital, e volta para mim no instante seguinte. Sinto seu golpe chicotear em minhas costas. Trinta e dois segundos. O último homem atira em minha cabeça novamente. A câmera reserva desliga. Está tudo escuro. As balas ressoam em meu elmo. Sinto muita dor, quase perco a consciência. Escuto a direção dos tiros e me jogo. Doze segundos. Se eu errar, estou perdido. Resolvo arriscar tudo, e ativo minha surpresa especial. Uma descarga elétrica na blindagem da armadura. Sinto que toquei apenas de leve no infeliz, mas ele grita desesperadamente, até apagar.

Fico parado, caído no chão. A armadura pesa demais, mesmo para mim. Com um esforço épico, giro meu corpo para o lado. Movo minha mão até o capacete, e puxo a trava de segurança. Tiro da cabeça. Estou suado como a peste, e a borracha amortecedora que uso por baixo da armadura não serve como alívio. Sinto que vou ter assaduras pela manhã.
Faço força para levantar. Se eu tivesse bateria, poderia controlar o furgão por controle remoto. Enquanto dou meu primeiro passo, um dos homens acorda, e olha para mim, assustado. “Quem diabos é você, seu monstro?”. Eu?

Eu sou Midnighter.

Ficha Técnica — James Sweeney

BackGround:

James Sweeney nasceu na Irlanda em 13 de Abril de 1994. Ele cresceu órfão de pai e mãe nas ruas de Belfast. Seus pais foram dados como mortos num atentado terrorista. O Menino sobreviveu pois estava aos cuidados de sua Avó materna Elliene Sweeney, contudo a velha senhora faleceu quando o menino tinha 6 anos. Desde então o jovem, sem ter ninguem mais no mundo, foi criado em um orfanato em Belfast.
Quando completou 12 anos, ele próprio se inscreveu para entrar na academia militar da Irlanda. Aceito, o rapaz passou a viver no exército. Ele achou que seria o melhor modo de dar um sentido a sua vida, o Diretor da academia achou o mesmo. Então assim ele viveu por muitos anos sobre a dura discilpina militar. Uma vida não muito pior do que a que ele havia vivido no orfanato. James desenvolveu um gosto pelo combate armado e desarmado e pelas táticas de combate. Ele se destacou em todas essas atividades. Ele estava presente na força do exército destacada para conter o ataque terrorista no aeroporto de Belfast tendo apenas 17 anos.
Foi sua primeira ação em campo. O rapaz se destacou por sua ação de bravura no combate ao terrorismo, desarmando uma bomba radioativa. O que não se sabe é que o rapaz o fez sem querer, absorvendo a energia da bomba quando se aproximara dela, seus poderes despertaram.
Rapidamente após ter eliminado dois terroristas, ele e seu parceiro, Steve O`Coel se aproximaram da bomba. Uma estrutura circular sem acesso de abertura. Quando se aproximam da bomba são atacados por um homem em uma armadura. O homem mata O`Coel disparando uma rajada através de uma arma anexa ao antebraço da armadura. Ele atira em Sweeney que se esquiva e responde fogo, somente para reconhecer que sua arma é ineficaz contra a armadura do terrorista. O homem o agarra e o lança perto da bomba. Sweeney começa a sentir um formigamento em seu corpo.
Quando o homem se posiciona em frente James e aponta o punho que brilha de energia para a sua cabeça, James que se levantava para socar o homem sem querer acaba disparando uma rajada de energia radioativa poderosa, arremessando assim para longe o terrorista de armadura. O que brilha dessa vez são os punhos de James. Ele se sente forte como nunca antes, pronto para enfrentar um exército.
Incrivelmente a contagem da esfera para, mas não há explosão. A bomba, que era ativada por difusão de moléculas radioativas não explode, pois tais moléculas não mais estão condensadas na bomba. O jovem recebe a medalha de honra do exército Irlândes e ao invés de se formar como Cabo, o faz como Tenente.
Em sua formatura, ele recebe a visita de um homem estranho que trabalha pra divisão de Metahumanos da Interpol, seu nome é Jack Larsen. James recebeu permissão do governo Irlandês para trabalhar para esta organização onde ele recebeu treinamento para seus novos poderes e novas técnicas de combate.
James trabalha para esta organização até hoje. Ele sofreu um baque recente, ele namorava uma agente de seu batalhão, e ela foi descoberta recentemente como sendo uma agente dupla.


Personalidade:

James é quieto, mas não rabugento. Ele possui um humor tipicamente Irlandês, trágico. Não se abala facilmente por qualquer adversidade. Sorrindo diante das tragédias, realmente achando graça da desgraça. Ele é um soldado. Foi assim que foi ensinado a viver, como soldado. Sua vida gira em torno do serviço militar, todos os seus conhecidos estão nesse meio, inclusive suas namoradas. A ultima descoberta espiã, foi a única que ele amou. Essa traição fez até mesmo o humor inabalável de James escurecer por um tempo. Ele anda Taciturno.
Usa seus poderes somente quando não possui alternativa, preferindo usar armas e métodos comuns. Ele acha que viveu e lutou bem até receber esse dom que não pode ficar dependente dele, uma hora essa benção pode faltar.
James é um homem inteligente e formou-se estrategista na academia militar.

Expectativas:
James pretende cumprir seu papel como soldado, protegendo as pessoas. Ele tinha uma noção restrita a pátria que foi quebrada pelo seu trabalho com a Interpol. Mas James é humano. Ele deseja ter uma família um dia. Ter oque não teve a chance de ter até hoje, amor e aconchego familiar.

Poderes:

James absorve radiação Solar e canaliza essa energia em seu corpo. Ele pode converter essa energia em rajadas. Ele também pode absorver outros tipos de energia e convertê-las em Radiação Solar. Ele é Literalmente Uma bateria viva. Suas rajadas são devastadoras e ele evita de usá-las. Por ser uma bateria viva James oferece grande resistência a ataques psíquicos pois gera grande estática energética ao seu redor, ele também consegue sentir energia e ondas de radio.

Treinamento:

James recebeu treinamento militar em combate armado, desarmado, táticas de combate e pilotagem.
Ele é proficiente em 6 línguas.
Ele é um ótimo atleta, sendo muito forte, ágil e resistente.

Aparência:

James é um homem alto, de 1,98 m de altura, ele é extremamente musculoso, mantendo sua forma através de constantes exercícios físicos. James é ruivo e possui olhos verdes. Ele tem uma cicatriz que corta a sua testa horizontalmente.


Comentários do criador:
James é uma espécie de mistura entre Bishop e o Havok dos x-men. Me baseei muito nos poderes do Havoc e na bateria do Bishop, além da parte do treinamento ser muito importante. Eu queria criar um personagem soldado.

Nota do Editor:
Esse post pode servir de modelo para futuras Fichas Técnicas

Battery & Gunshot I

Kiev, 3 da manhã. Dois homens com sobretudos pesados caminham pelas vielas da cidade enquanto a neve cai levemente dos céus. O da direita é alto, aproximadamente 1,98 de altura, e veste um sobretudo verde-escuro surrado. Ele tem cabelo ruivo cortado em estilo militar, tem os olhos verdes bem escuros. O da esquerda é um pouco mais baixo, 1,80 de altura. Cabelos castanhos e óculos escuros no rosto. Os dois tem um semblante austero, cansado e a barba por fazer.
Eles não trocam palavras até chegarem a um galpão fechado, o portão de entrada cerrado por correntes e cadeados. "Pela indicação do informante o lugar é aqui Tom" Afirma o mais alto com sotaque irlandês carregado enquanto afasta com a mão esquerda o sobretudo para pegar uma metralhadora, deixando à mostra várias outras armas, de facas a granadas. "Sim, é aqui mesmo. Pronto?" Pergunta Tom, que também possui sotaque irlandês, ajeitando o rayban escuro que cobre seu rosto. O homem alto responde a pergunta com um movimento de cabeça.
Então Tom olha concentrado para as correntes. Uma rajada luminosa corta simetricamente o aço e a porta está aberta, deixando o cheiro de podridão se alastrar para fora. "Ele está atrás das caixas, 3 horas. 1,86, cabelos negros, pele pálida, ele tem uma mulher nas mãos morta. Há corpos espalhados por todo o galpão James. Espere! Ele sabe que estamos aqui." Afirma Tom. "Certo Gunshot, então não temos motivos para sermos discretos." diz o ruivo ligando a lanterna de sua arma e entrando no galpão. "Tome cuidado Battery, você leu os relatórios, ele pode ser um dos doze.¨, alerta Gunshot sem se mover.
"Ei amigo, precisamos conversar!" grita James no dialeto local. "Parece que você andou aprontando uma festa bem feia por aqui." A única resposta que obtêm é um grito agudo que gelaria a alma de qualquer homem. A reação de James é destravar a metralhadora pesada. Ele se prepara para avançar na direção do alvo, mas não consegue.
Mãos de carne podre se agarram aos ses pés, os cadáveres outrora imóveis no chão, agora se movem com propósitos de morte. James, pego de surpresa, é derrubado por dois morto-vivos que se agarraram aos seus pés. Outros dois já se aproximam para ataca-lo. O cheiro podre da carne decomposta quase faz o irlandês vomitar. Deitado no chão ele vê um rosto branco sem vida se aproximar do seu próprio e abrir a mandíbula deslocada querendo abocanhá-lo.A baba que escorre da boca putrefata é verde e viscosa, o cheiro como o de feijão apodrecido escapa pela boca aberta.
Enquanto isso Gunshot dispara uma rajada luminosa de seu olho. O raio de luz se desvia de todas as caixas e prateleiras que ficam no caminho até seu alvo. O ser que estava atrás das caixas é atingido, sendo lançado contra a parede pelo impacto do raio que lhe arranca um pedaço do abdômem.
Os morto-vivos ficam ainda mais violentos com o grito da criatura. A boca se aproxima da face de James, babando. Ele coloca a pistola calibre 45, que havia sacado quando caíra, na abertura da boca e atira. Partes do crânio se espalham pelo chão como uma chuva de sangue e bile. Com a metralhadora na outra mão ele dispara contra os dois seres que seguram suas pernas. O resultado é o esfacelamento dos corpos decompostos.
Ao se levantar ele se depara com um galpão repleto de corpos animados prontos para devorá-lo. Gunshot também não está seguro, pois muitos dos corpos foram em sua direção quando ele atingiu a criatura. James é cercado por vários morto-vivos, sendo encurralado no corredor em que estava. "Que droga é essa? Estou me sentindo num filme B!" Grita James. "Estou cercado por todos os lados Gunshot, devemos pedir reforço?. "Não." responde Gunshot, a situação está sob controle Battery." James então se põe de costas para as caixas e dispara as duas armas que tem nas mãos; girando primeiro a metralhadora na mão direita, James derruba cinco dos inimigos, dividindo seus corpos apodrecidos na altura da cintura. Contudo, as partes superiores, continuam se arrastando em sua direção. Com a pistola da mão esquerda ele é mais cuidadoso e girando o corpo na direção dos oponentes, explode as cabeças de três deles.
Quanto a Gunshot, ele abre seu olho, disparando um raio aberto, que atinge os 6 mortos e desintegra-os a parte superior do corpo. "Battery, o alvo desapareceu do setor oeste, não o estou encontrando!" avisa Gunshot. "Ache-o!" Responde James "Eu te dou cobertura contra esses zumbis!", Battery afirma sua frase com tiros que eliminam os três zumbis restantes que iam na direção de Gunshot. Este se preocupa em procurar o alvo de seu ataque. Sua visão ultrapassa paredes, caixas de aço, vigas reforçadas, ela independe da luz, enxergando perfeitamente na escuridão completa. "Não vejo nada, só uma névoa esverdeada... Droga!" Gunshot grita para James e dispara contra a névoa que se movimenta em sua direção, entretanto seu raio a atravessa sem provocar nenhum dano visível. " Battery! O alvo consegue mudar o estado de fase pra o nível 3! Não consigo afeta-lo neste nível de fase!" grita Gunshot." Tem certeza de que é nele mesmo que você está disparando?" responde Battery ao jogar uma granada próxima a 4 zumbis que explodem, as partes de seus corpos sendo jogadas por todo o galpão, sujando a roupa de James com o sangue podre. Gunshot não responde ao gracejo e dispara novamente. A rajada não surte efeito, atravessando o ser que se aproxima do geneativo.
O ser atravessa Gunshot e quando chega as suas costas se vira e tornando-se corpórea, crava suas garras nas costas de Tom que grita de dor. Gunshot se vira e dispara, mas ele já está intangível novamente. "Idiotas! Acham que podem vir ao meu covil e sair vivos? Eu sou o Senhor dos imortais, sou Vlad Teppes, sou Drackul", grita o vampiro no dialeto local, sua voz é aguda e tenebrosa. "Eu me alimento dos vivos e os transformo em meus escravos, em breve vocês se juntarão aos meus lacaios e me servirão por toda a eternidade.". Ele se torna tangível e ataca Gunshot, que consegue se esquivar das garras afiadas rolando para o lado, contudo o ferimento anterior ainda sangra muito.
"Seus lacaios já eram Sangue - suga! E você está pronto pra ir pro inferno também!" Grita Battery que havia se livrado dos zumbis e partido em ajuda ao seu aliado. Ele dispara uma chuva de balas no vampiro, que o distraem tempo suficiente para Gunshot se recuperar e atacar Drackul. A rajada acerta em cheio o vampiro fazendo um rombo no peito dele. Drackul urra de dor, seu grito atordoa os dois soldados. As feridas de drackul se fecham rapidamente e ele avança na direção dos seus oponentes. "Vocês me cansam! Suas mortes me trarão prazer!" Ele agarra Gunshot com força e rapidez sobrehumanas e o lança contra a parede do galpão, deixando-o inconsciente. James descarrega toda a sua munição em cima do vampiro, mas as balas são apenas um estorvo para ele.
"B5 para T009, B5 para T009. B13 caiu, repito B13 caiu, estou sozinho! Enviem reforços rápido" James grita no pequeno rádio preso a sua orelha. "Nem todo o exército do mundo o salvará minha presa! Agora que eliminei seu poderoso aliado, você não tem escapatória." Dizendo isso, Drackul se lança sobre James jogando-o no chão. Battery se encontra desarmado e tendo suas duas mãos seguras pelo vampiro de força inimaginável que aproxima sua mandíbula do pescoço da vítima.
"Você é muito forte cara, muito forte mesmo." fala James para o vampiro que apenas se diverte com o comentário. "Mas há uma razão para eu ser chamado de Battery, assim como meu amigo é chamado de Gunshot, uma razão que você vai descobrir agora!", Battey libera todo o seu poder contido no seu corpo pelos seus punhos, que estavam seguros pelas mãos de Drackul, na forma de uma grande explosão de luz verde radiativa. As garras do vampiro desaparecem junto com grande parte do seu antebraço e a explosão o joga longe de James. Battery se levanta, as mão brilhando com a energia. "Quero ver me chamar de presa agora babaca!", exclama James. Ele se prepara para outro disparo, mas Drackul desapareceu no ar.
"B5 para T009, B5 para T009, o alvo escapou, homem ferido no local, repito, homem ferido no local." comunica James no rádio. "Certo B5, aqui é T009, o reforço e os médicos já estão a caminho. B1 quer falar com vocês assim que chegarem." é a resposta que recebe. "Compreendo T009, também quero falar com ele." Mal termina a comunicação e Battery se vê cercado por carros militares e uma ambulância do exército ucraniano. Eles atendem Gunshot que fraturou duas costelas, fora o grande rasgo nas costas, e Battery que quebrou duas costelas e torceu um dos pulsos no ataque do vampiro.
No hospital eles recebem a visita de B1, Jack Larsen, chefe do departamento para assuntos super humanos da Interpol. É um homem magro, mas atlético, de aproximadamente 80kg e 1,80m de altura. Tem cabelos e olhos negros, os cabelos curtos lisos penteados para traz. O nariz pontudo, as sombrancelhas finas e arqueadas juntas dos olhos cerrados dão a ele uma aparencia de predador. Ele tem na mão direita um cigarro e a outra carrega um paletó jogado sobre os ombros. Usa óculos pequenos de lentes amarelas e roupa social alinhada no porte militar, exceto pela gola da camisa usada solta. Battery está em pé ao seu lado e Gunshot está recebendo os pontos pelo ferimento nas costas. "Faça um exame de sangue dessa ferida" Ordena Larsen em inglês americano para o médico que acena em resposta. "Não podemos correr nenhum risco." termina ele. "Risco do que senhor?" pergunta James. "De qualquer infecção garoto, não podemos corrê-los, mas mudando de assunto... eu ouvi a gravação de rádio de vocês, o alvo se autodenominou Vlad Teppes?". "Sim senhor, é muito estranho, mas ele agia como se fosse o Drácula, e tinha poderes de vampiro para sustentar a posição senhor." confirma o irlandês cabisbaixo. "Então estava certa a suposição de Pierce." Murmura Larsen para si mesmo. "Suposição senhor?". "Sim garoto, o alvo era mais do que aparentava, ele era um dos 12". "Doze senhor? Do que o senhor está falando?" questiona James sem entender nada. "Você vai saber garoto, vamos preparar tudo, temos uma viagem importante amanhã".

O doce sabor da cereja.

Já está tarde, há seis horas estou trabalhando neste bracelete transdimensional que meus companheiros me trouxeram. A tecnologia dele é absurda, inimaginavelmente maior do que tudo o que eu já fiz. E tudo isso contido num bracelete. É claro que isto tinha de ser obra de Van Rayner, um dos famigerados first steppers. Quando penso nele, no nível das suas produções intelectuais, a disputa entre Ignus e eu se torna infantil. Pra que disputar o segundo lugar? E segundo lugar mesmo? Ou eu não contei os outros first steppers, como Hideo, Tcheckov, aquela chinesa com problemas que nem as teses doentes freudianas explicam? E eu ainda não citei a organização de cientistas que querem dominar o mundo, a Daydream, ou o ancestral Denorus. Neste mundo há tantos seres de poder e conhecimentos maior que os meus que as vezes me sinto como uma criança ouvindo o professor discursar sobre coisas além do meu pequeno universo imaginário. Quando penso no mundo em que vivo, percebo o quão quixotesca é a minha vida como Crusader.
"Os parâmetros da leitura do disco rígido foram estabelecidos, a descompactação do arquivo será iniciada em 4.6 segundos. Tempo previsto para o término da sessão: 35 horas." Avisa Ávalon.
Com essa previsão é melhor arranjar algo para fazer. Essa pesquisa me deixou cansado, meus reflexos estão mais lentos, preciso de uma xícara de café. Impressionante! Eu cruzo o corredor e encontro Nicholas me trazendo uma bem quente e reconfortante, ele me diz algo como ser sua receita secreta, mas eu nem presto atenção, estou completamente tomado pelo aroma do café. Eu bebo um pequeno gole e metade dos meus problemas desaparecem. A química sempre me intrigou nestes aspectos, a mistura de substâncias diferentes, elevadas a uma temperatura x e pronto, temos uma substância completamente nova. A reestruturação e a fusão das moléculas acontecem em momentos banais do dia a dia e quase nínguem repara nisso. Alguns cientistas ignoram as pequenas alterações, como se elas não fossem importantes perto de seus grandes projetos, mas eu não, eu sempre gostei dos detalhes, das pequenas coisas. É claro que nunca me aprofundei em química, sempre gostei mais de mecânica, de construir, de movimento, energia. Mas todos os pequenos detalhes, as pequenas parcelas da construção possuem suas fórmulas químicas.
O café é deveras reconfortante, por um curto espaço de tempo me disperso apenas saboreando o doce e forte líquido. Mas logo volto a conversar com Nicholas, estou preocupado com ele, parece que fazem dias que ele não dorme ou descansa, trancado neste laboratório procurando uma cura para Christine. "Você está precisando descansar meu amigo, sair um pouco, tomar um ar. Seu estado está lastimável. Se ficar assim sua produção cairá assim como sua saúde." Nicholas não responde, não com palavras. Eu me calo. Deve ser muito difícil para o coitado ver Miracle naquele estado, presa em um traje para conter seus poderes radioativos, ele tem razão de não estar com pacência para a minha alegria. Agradeço o café meio sem jeito. Ele sabe que eu me importo com ele e com Christine, que o considero um dos meus melhores amigos, se não o melhor. Porém eu não sou ele, preciso de sono, alegria, conforto. Além do que, não há muito o que eu possa fazer além do que estou fazendo. Tudo isso sobre geneativos é ainda muito novo para mim.
Me despeço de Nicholas e saio da repartição dos laboratórios. Ando até a sala de recreação e encontro Hisa lendo um dos seus romances, daqueles bem dramáticos e tristes. Ela é uma mulher muito bonita e atraente. Quando eu entro ela me olha nos olhos, como se quisesse sugar minha alma para dentro daqueles globos amendoados. A maioria dos homens ficaria envergonhada quando uma mulher o olhasse assim. Eu sou muito diferente da maioria dos homens. Retribuo o olhar, ela abaixa a cabeça e volta a ler. Sorrio e me aproximo do sofá. Sou interrompido pelo barulho regular de saltos altos.
Escuto a voz de Alísia atrás de mim comentando algo sobre as Nações Unidas, algo a ver com seu país de origem, o Canadá. Ela muda o assunto e me pergunta onde se encontra Ghünter, nosso aliado alemão. "Na Justa como sempre" eu respondo sem me virar. Não que Alísia não chame atenção, é uma mulher linda, loira , um corpo escultural. Além disso é inteligente e sabe cativar qualquer pessoa com um sorriso. Por isso mesmo eu me mantenho a distância dela, Alísia é muito parecida comigo em algumas questões e eu odeio isso em uma mulher. Quanto a Ghünter, às vezes eu me pergunto se ele tem realmente uma vida, ou se ele é só um autômato inventado por algum cientista doente. Já me perguntei se ele era gay, mas cheguei a conclusão que não, ele parece ser alheio ao fulgor de viver mesmo, tendo como único motivo impulsionador para continuar vivendo a luta, acho que se um dia tirarem isso dele, ou mesmo se não existir mais a violência do mundo, ele travaria, como um computador que não consegue ler uma nova linha de programa.
Para a sorte de Ghünter e de Miharu, uma versão feminina do alemão, mas sem o discurso religioso ou heróico, exite a Justa. A minha versão da "Sala do Perigo". Uma sala de alta tecnologia virtual, especialmente elaborada para a simulação do combate, ajudando assim no treinamento e na performance geral da Extreme.
Alisia parte em procura do alemão, me deixando a sós com Hisa. Ela se vira para mim e me encara inquisitiva. "Sabe Hisa, já faz um tempo que estou nesta base trabalhando sem parar e estava pensando se você não gostaria de sair pra jantar comigo esta noite." Falo com a voz suave em japonês, olhando nos olhos dela, ela fica envergonhada. Eu noto. "Eu sei que você também deve estar entediada aqui, nós poderíamos sair, aproveitar a noite, nos divertir. O que você acha?" Ela sorri e me responde em ISL que sim. Hisa é muda, vítima de alguma maldade da máfia japonesa que ela não merecia sofrer. A vida é por deveras cruel, mas nós podemos torná-la bem melhor se quisermos. Nós saímos da base em direção a minha casa. A viagem é rápida, em pouco tempo eu estou no meu quarto, penúltimo andar do prédio e Hisa no dela, dois andares abaixo do meu.
É gratificante ter um prédio todo ao meu dispor, eu nunca tenho problemas para alocar amigos. Hisa e Miharu estão morando aqui já faz 5 meses. Ghünter preferiu continuar no seu pequeno apartamento no Harlem, eu respeito isso, ele prefere se sentir independente e se isolar ao mesmo tempo. Eu prefiro o conforto e a qualidade de vida que eu levo. Entro no meu quarto, coloco Schubertz para tocar e entro na ducha. 23 minutos depois estou de roupão. Eu precisava dessa ducha, muito. Caminho lentamente até o mini bar e pego a garrafa de Scotch. Derramo o líquido vagarosamente no copo com 2 pedras de gelo. Paro quando chego na metade do copo, então pego uma soda gelada e completo o drink. Sempre fui bom fazendo drinks. Com o copo na mão caminho até o closet e escolho minha indumentária: Blazer e calças negros e minha camisa azul escura Hugo Boss de seda chinesa, digo minha pois pois fui eu quem criei o estilo junto com Giovanni Bucci no inverno passado em Milão. Ótima idéia comprar boa parte das ações da empresa. Coloco o roléx daytona que ganhei de Merrick no nosso aniversário de 12 anos e estou vestido.
Ainda tenho 5 minutos, me sento e sorvo demoradamente meu club soda enquanto ouço as partes finais da melodia de Schubertz. Quando termino o drink estou completamente relaxado; saio e logo estou na porta de Hisa. Como esperava ela está pronta, e maravilhosamente linda. Maquiagem leve no rosto, um batom com cor, cheiro e provavelmente gosto de cereja; o cabelo extremamente liso está preso em um coque oriental; o corpo esguio veste o vestido negro que comprei, enquanto à mostra o belo e exótico dragão em suas costas aparece pelo decote longo. Mas o que primeiro chega a mim não é a visão exuberante, mas o olor de cereja que se espalha ao seu redor. Eu quase fico boquiaberto, quase.
"Você está perfeita!" eu assevero em voz contente. Ela sorri timidamente em resposta. Nós seguimos até o elevador em passos calmos, no percurso eu aproveito para elogiar os detalhes de sua beleza, as mulheres adoram isso. Durante a descida o perfume dela inebria minha mente, mas eu não comento sobre isso até chegarmos na garagem de carros clássicos onde escolho a chave do Cadillac 1959 azul.
O carro, é claro que não está como o original. Eu refiz todo o motor, começando pelo combustível utilizado para movê-lo. Ao invés do enorme tanque de gasolina há uma câmara ultra tecnológica que funciona a base de células de energia, sim, eu usei os carros como protótipos experimentais para a energia base da armadura de Crusader. A câmara do carro, contudo é enorme se comparado ao bastonete da armadura. Quanto ao motor, digamos que os 4,3 de potência do carro original foram superados pelos meu reajustes e a célula de energia faz o carro andar sem eu me preocupar com o gasto de combustível fóssil ou a destruição do planeta.
Abro a porta para Hisa entrar, ela adora. O motor não ronca como o original, achei muito exagerado, mas faz barulho suficiente para que não percebam a diferença do original. Hisa parece adorar o carro, foi por isso que escolhi exatamente esse dentre tantos.
Chegamos ao restaurante que escolhi, Masa, localizado em Midwest town ele fica um pouco longe do bairro onde moramos (Upper East Side), o que nos faz aproveitar ainda mais o passeio no Cadillac e aumenta o apetite, fora que o Masa é um restaurante 5 estrelas há mais de 10 anos. Embora não tenha feito reservas, uma breve conversa com o gerente nos garante a melhor mesa da casa.
Pedimos sashimi, Hisa se delicia com o Atum azul. Apesar de apreciar o gosto nipônico, ainda prefiro o salmão. Entre o sashimi e o sushi conversamos; Hisa é uma mulher intrigante e muito tradicional. Ela é muito diferente de Tessa, o que é muito interessante. Hisa tem um passado misterioso, mas depreendo algo como uma dívida dos seus pais para com a Yakuza. Por causa dessa dívida tornaram ela muda, acho que fizeram algo com as cordas vocais dela, mas também pode ser psicológica a mudez. Ela tem uma boca bonita, pequena e meiga. Ainda penso se o batom tem mesmo gosto de cereja.
Bebo um pouco do sakê, me tranquilizo com o líquido forte. O Masa é um lugar muito bom, vim com Tessa aqui umas duas vezes. Tessa, tão longe, em Londres, trabalhando, sozinha. Será que ela pensa em mim? Será que está mesmo sozinha? Nunca se sabe, por isso eu não me preocupo, pelo menos estou muito bem acompanhado. Ela pede para que eu fale um pouco de mim, eu pergunto o que ela quer saber. "Tudo", me diz com o movimento das mãos.
Eu falo. Sobre meu pai, que hoje penso ser meu pai adotivo, o Coronel Maddock. Sobre meu irmão e a morte que resultou no meu senso de heroísmo. Falo sobre o responsável por isso, Herman Von Gostrauken, o famigerado e detestável Nightmare. Falo sobre minha Fundação, os projetos que tenho em mente. Mas não falo nada sobre Tessa, ela não precisa saber.
Comemos muito bem, a conta de 1000 dólares me diz isso. Estou um pouco alto, mas em condições de dirigir.
Agradeço o chefe em japonês, a comida estava estupenda. Nos levantamos e quando saímos, todos na casa nos notam, mas eu estou acostumado com isso. Ao chegar perto do carro, um homem nos aborda. 32 anos, 1,86 de altura, 93 kilos, caucasiano, provavelmente do Brooklyn. Ele tem uma Smith & Welson nova nas mãos, arma bonita para um ladrão barato, é claro que é roubada de alguém que resistiu a um assalto. Ele me aponta a arma na cabeça e diz que vai me matar se eu não entregar o dinheiro. Ele acha que me assusta, não faz idéia do que eu já enfrentei. De quantas vezes estive perto da morte. " Passa toda a grana riquinho de merda! Antes que eu te encha de pipoco!!!" O mais nojento é que uma saliva dele voa para meu Blazer.
Infelizmente para o assaltante eu não tenho tempo nem de responder. Hisa pula por trás de mim e atinge o infeliz com o bico do seu salto na testa. Deve doer muito. O que eu mais aprecio nestes sapatos caros femininos, é que elas podem chutar, pular, fazer graça. E eles não quebram. Ela olha para mim, parada ao lado do corpo estirado no chão, linda. Caminho até o assaltante e tiro a arma de suas mãos, é uma arma bonita e bem balanceada. Deixo um cartão no bolso dele sobre a fundação Warden, as cadeias estão lotadas e talvez eu possa lhe dar trabalho.
Abro a porta para ela, coloco a arma no porta luvas e então seguimos para casa. Depois de estacionar o carro, paramos um pouco no salão de recepção do primeiro andar. Coloco uma música lenta e trago Hisa para perto de mim. Ela não esperava por isso, mas se entrega ao movimento. Sorrio intimamente. "Vamos dançar um pouco, a noite está tão linda que eu não quero que termine.¨, sussurro no ouvido dela e ela encosta a cabeça no meu ombro.
Dançamos, os corpos colados um no outro, o aroma do perfume dela tão próximo. Tudo corre naturalmente, eu abaixo meu rosto, ela levanta o dela e me encara. Linda, tão linda e tão pequena, frágil nos meus braços, ela me olha. Não digo nada, não é preciso, ela já é minha.
Nossos lábios se tocam e eu descubro que os dela tinham mesmo o gosto de cereja, delicioso. O beijo demora, minhas mãos acariciam suas costas e a apertam para mais junto de mim, as dela me abraçam. Nos olhamos e nos beijamos de novo, o beijo de Hisa é diferente do de Tessa, Tessa tem mais paixão, mais romance, mas Hisa sabe usar muito bem a boca. A pego no colo e a levo para o elevador, não paramos de nos beijar no caminho. Hisa me surpreende dominando a situação, ela sabe muito bem o que faz e faz muito bem o que sabe. Ao mesmo tempo frágil e selvagem, exótica, linda.
Quando acordo no dia seguinte com o telefonema de Nicholas, não me pergunto se o que fiz foi certo ou errado, ou frases do tipo "o que foi que eu fiz". Eu sei o que eu fiz, afinal eu planejei. E foi muito bom, foi muito bom provar o doce sabor da cereja.
Me levanto e tomo um banho. Quando estou pronto para sair ela ainda está dormindo. Dou-lhe um beijo e saio. No caminho para a base ligo para Tessa. "Bom dia querida, como você está?", "Bem meu amor, estou com saudades" ela responde. "Eu também paixão, arrumando um tempinho livre eu vou para ae está bem?", "Que bom Rick, sinto sua falta, Londres não é nada sem você!" ela me diz com voz tristonha. "Eu também Tess, eu nunca esqueço de você."

O Retorno de Midnighter — Parte III

Shauny. Eu acho engraçado como esse nome soa. Meu pai disse que mamãe o escolheu por que achou que eu era especial de mais para ter um nome comum. Eu não a conheci, ela morreu quando eu ainda era um bebê.
Crescer com um pai como o meu também é algo “especial”. Diferente. Ele é milionário, dono de uma empresa de investimentos e tecnologia, super culto, charmoso e, ainda por cima, poliglota. Para os jornais, ele é um homem recluso e erudito que gasta seu tempo livre com a família (eu) e com viagens de lazer (não é bem assim). Para a empresa, ele é um chefe atencioso, um homem honesto, mas que não tem muita responsabilidade com compromissos (não é bem assim também). Para mim, ele é o melhor pai do mundo (tá, não é bem assim, mas o que posso fazer?).
Eu sei que ele não morreu. Eu sei que está se recuperando, e que vai voltar assim que conseguir. Não tenho dúvidas disso. Bom, pelo menos, eu quero acreditar nisso. Eu não chorei quando os homens de preto vieram falar comigo (o tal Pierce e aquele estranho do Larsen). Não chorei quando vi nos jornais. Eu fiz o que precisava fazer, tudo o que ele havia me dito desde que era pequena. Eu devia fazer as coisas continuarem como eram. Mas é doloroso montar aquelas projeções de computadores nas videoconferências.
Não é qualquer pai que deixa a filha brincar com um video-game de vinte três milhões de dólares — um robô construído para simular os movimentos dele (mas não fazia muito bem o trabalho). No começo, havia cinco desses. Albert Samsom, antigo parceiro de meu pai, havia os construído, e a tecnologia se perdeu quando ele morreu. Nunca conheci nenhum dos ex-parceiros de meu pai. Sei que o irmão de Samsom é o Geoffrey (que é PhD em Mecatrônica, mas mais parece um mecânico de carros), e que o filho de Gabriel Shedd (Gab, eu brincava com ele quando era criança) fez alguma bobagem e ficou presto todos esses anos. Daquelazinha, eu não gosto nem de pensar.
De qualquer forma, eu já quebrei os cinco robôs. Pois é, os cinco, quebradinhos. Não foi assim, quebrar. Dois foram a base de lança-foguetes, um o Conway explodiu, um a DayDream em pessoa quebrou no meio, e o último foi fatiado por uma asiática mestiça com o (incrivelmente útil) poder de encolher. Como meu pai já não estava quando o último quebrou, tive que pedir ajuda pro alemão.
Eu digo, O Alemão. O tal Ghünter. Na verdade, não pedi exatamente ajuda. Ele apareceu em casa, e não foi mais embora, ai eu acabei fazendo ele usar a roupa negra. Ele não tem muito senso de que está incomodando, sabe? Mas não quero falar sobre ele, aconteceram umas coisas que eu realmente não quero me lembrar. Mas ele foi embora, faz um tempo já, e isso é bom.
Fiquei uma semana namorando a chance de fazer ou não uma coisa estúpida. Eu sei que quando meu pai voltar, eu vou tomar a maior bronca de minha vida. Sei que quando o castigo acabar, eu terei idade para ser avó de alguém. Mas não posso deixar a chance passar.
Eu tenho todas as chaves do sistema. Alias, eu mesma programei boa parte dos softwares que estão rodando aqui hoje. Modéstia parte, quando eu coloco uma coisa na cabeça, eu faço, e faço muito bem feito. É por isso que eu preciso tentar. Um dia, ele vai sair, e não vai voltar. Então, eu terei de continuar o legado. Eu estou pronta.
Ligo os sistemas. Ajusto as medidas para meu corpo. O traje é composto por mais de uma dúzia de camadas, presas individualmente (na verdade, ele só usa isso quando tem tempo livre. Tem vezes que ele sai vestido só com um colantezinho preto! Meu pai é muito suicida mesmo). Demora mais de dez minutos, mas no final, não parece que estou usando mais do que um abrigo bem justo. É tão apertado que eu sinto falta de ar, mas a sensação passa rápido. Depois de um tempo, aquilo fica até confortável (exagero meu, foi uma proteção mental de quando percebi que não conseguia puxar a calça para longe do bumbum). Eu sinto todos os sistemas de disparo. Demoro uns dois minutos para entender exatamente como funciona cada um dos apetrechos que estão embutidos na roupa (e quebro dois monitores no processo). Tento conter a euforia. Vou andando até o salão principal (a capa retrátil vai e volta várias vezes, até eu descobrir o que estou fazendo de errado).
Olho no monitor no canto do olho. Incrível como essa coisa funciona, estou vendo o estado de cada parte do meu corpo, além de ter acesso ao computador da base sem fazer nenhum movimento além de olhar forte para um ponto da tela holográfica que é projetada direto em minha retina. Peço acesso aos eventos atuais. Um chamado da polícia, poucas quadras de onde estou. Suposta atividade super-humana. Vou à direção da moto. Sempre sonhei em dirigir essa coisa, mas se meu pai me visse sentado nela, ia me dar bronca. Mas eu tirei carta faz três semanas, eu sei dirigir já, não tem problema!
Saio da base (e quase não raspo muito a moto na lateral do túnel). Termino o caminho numa rampa, e tenho a impressão de que fiquei no ar por meia hora. Quando caio, quase perco o controle de novo. Sigo em frente, e avisto um dos robôs de Conway, daqueles vestidos de gangster. Fico de pé na moto e dou um salto mortal para trás (ninguém vai acreditar, mas tudo bem). A moto segue e esmaga o danado. Ela é um bom veículo, se estabiliza e volta sozinha para o beco.
Eu caio (de pé, nem acredito). Estou cercada por outros quatro gangsters-robos. Saco um bumerangue. Os malditos miram suas armas, mas eles não têm chance nenhuma.
Pois agora, sou Midnighter.

O Retorno de Midnighter — Parte II

Meu nome é Shedd. Gabriel Shedd II. Mas não soa tão legal quanto em filmes. Cresci na DownTown de Chicago, ouvindo música eletrônica e jogando video-games. Meu pai era um policial do 44º Distrito, havia servido no Golfo e tinha meia dúzia de medalhas de honra ao mérito. Ele era meu herói, minha infância inteira foi baseada na idéia de que um dia eu seria como ele. Ele saia de casa às sete da noite, e só voltava no começo da madrugada, sempre com uniforme impecável. Quando eu tinha oito anos, ele me ensinou a atirar, e me levava nos churrascos da polícia para que eu conhecesse o pessoal. Eram todos bons homens, mas meu pai era o único herói de lá.
Claro, as coisas não eram tão simples. Quando eu tinha nove anos, descobri que ele não era exatamente um policial. Pelo menos, não o tempo todo. Meu pai era um Vigilante. Junto de outros três colegas que lutaram na guerra, eles passavam a madrugada correndo pela cidade, pulando de prédio em prédio, ajudando pessoas e capturando criminosos de uma forma que a polícia não conseguiria, nem ousaria. Não podia contar isso para ninguém, ele me fez prometer. Apresentou-me aos parceiros. Tio Albert, tio John e tia Andrea, era assim que eu os chamava. Eles eram para mim super-heróis de verdade, eram o esquadrão MidNight, os salvadores de Chicago.
Em 2005, eu já tinha 19 anos. Meu pai havia gasto boa parte de seu tempo me convencendo de que eu não deveria ser como ele. Que eu deveria me formar, virar um advogado. Conseguiu pagar com se salário miserável de policial o primeiro semestre em Harvard. Eu estudei, fui o melhor aluno de uma turma de duzentos. Não queria decepcionar meu herói. Ele nunca havia me decepcionado. Ele nunca havia faltado em nenhum dos jogos de baseball da escola, nunca havia descumprido uma promessa. Ele era esse tipo de homem, e havia me criado para ser igual. Quando voltei para casa naquele verão, queria mostrar para ele o quão bem eu havia me saído. Queria que ele tivesse orgulho de mim.
No terminal de ônibus, não o encontrei. Ele nunca se atrasava, nem mesmo quando aconteciam coisas ruins. Eu liguei em casa, mas ninguém atendeu. Não sabia o que fazer. Tio John apareceu em seu lugar. Estava com um olho roxo, um braço engessado, e um curativo enorme no pescoço. Quando vi aquilo, comecei a chorar. Eu sabia o que havia acontecido.
Tio John me contou que a desgraçada da Andrea os havia traído. Uma emboscada, tio Albert foi morto no lugar. Meu pai havia tomado um tiro por tio John, mas havia escapado. Os dois correram quase um quilometro nos esgotos antes de meu pai sucumbir aos ferimentos. Fomos no carro dele até em casa. Mamãe estava chorando, mas ela não sabia a verdade. Para ela, papai havia morrido em serviço, e tio John havia sofrido um acidente de carro. Eu chorei muito. Todos os dias das férias de verão, visitei o túmulo de meu pai, e todos os dias, jurei que ele teria orgulho de mim.
Na época, tio John havia acabado de abrir um negócio, e estava ganhando bastante dinheiro. Disse que eu não deveria me preocupar, pois ele garantiria que eu e mamãe pudéssemos viver em paz. Ele pagou minha faculdade, e fazia questão de me visitar no campus sempre que podia. Eu nunca terei uma forma de repagar a ele tudo que fez por nós.
Nos anos seguintes, usei todo meu tempo livre para me tornar forte. Entrei para o clube de tiro local, me afiliei ao ginásio, aprendi a lutar Full Contact. Estudava como um louco. Não me lembro de um único dia que tivesse abdicado da rotina. Tio John estava me oferecendo uma forma para me tornar bom o suficiente para acabar com a desgraçada que matou meu pai, mesmo que ele não soubesse. Isso me custou toda a vida social da faculdade, mas era um preço pequeno, muito menos do que eu estava disposto a pagar.
Numa noite, estava estudando para uma prova quando vi na Internet notícias sobre um misterioso vigilante de Chicago. Seu nome era Midnigther. Eu sabia que era tio John, sabia que ele não desistiria. Meu pai não desistiria. Nem eu. Formei-me em primeiro lugar, com as melhor médias que Harvard havia visto. Tio John queria que eu fosse trabalhar com ele em Chicago, mas eu não conseguiria ficar naquela cidade sem que as memórias voltassem. Naquela época, eu poderia ter alcançado tudo que quisesse, mas resolvi trabalhar com os casos mais difíceis, que ninguém pegaria em sã consciência, com medo de destruir a própria carreira. Eu não estava interessado no dinheiro, eu queria ajudar as pessoas. Mas ainda não pensava na hipótese de me tornar um vigilante, pois acreditava no sistema, e sabia que, se descobrisse o que aconteceu naquela noite, mandaria todos para a prisão para o resto de suas vidas. Até conhecer Maximillian Maxwell.
Foi em março de 2012. Não faz tanto tempo. Maxwell queria expandir sua empresa, a MaxCorp, para a America. Comparam o quarteirão onde cresci, e despejaram minha mãe. O único problema é que o apartamento era nosso, e não havia meios legais para que tivessem feito aquilo. Preparei o processo. Descobri uma série de irregularidades na empresa. Trabalho escravo, experimentos com seres humanos, uso de produtos proibidos, substâncias tóxicas como matéria prima para alimentos, poluição muito além dos limites permitidos, sonegação de impostos, e mais uma interminável lista. Eu tinha o material perfeito, eu tiraria a MaxCorp do ramo em menos tempo que eles demoliriam o meu velho prédio. Ou assim pensava.
Minha demissão do setor público foi praticamente política. Caçaram minha licença, e me meteram em fraude atrás de fraude. Os advogados da MaxCorp compraram o juiz, e ainda me processaram por difamação. Em um mês, eu perdi tudo que havia conquistado. Todas as provas que reuni desapareceram dos arquivos públicos, fui despejado de casa, e minha noiva me abandonou por achar que eu estava tendo um caso. Tudo em um mês. Mamãe morreu semanas depois, num acidente de carro, onde dirigiu bêbada. Mas ela não sabia sequer dar partida no carro. Pouco tempo depois, fui preso por homicídio e trafico de drogas, sendo que eu sequer bebia álcool, em respeito ao pedido de meu pai. Fiquei cinco anos sendo humilhado, com o pior tratamento possível, um presídio desumano. Presente pessoal da MaxCorp.
Durante todo esse tempo, tio John me visitou. Tinha seus advogados trabalhando no meu caso, contratara detetives. Disse que eu sairia logo. Eu acreditei nele. Tio John nunca mentiu. No começo de 2017, fui solto, mas nunca voltei a ver meu benfeitor. Ele havia sido morto.
Não exatamente. Midnighter morreu, salvando o mundo de um louco em Paris, mas tio John ainda faz aparições em videoconferências. Eu sei que não é ele, que é apenas uma imagem de computador. Fico com dó da filha dele, Shauny, que não deve ter idéia do quão importante é o pai dela. Provavelmente, ela nem sabe que ele morreu. Tio John com certeza pensou em tudo para protegê-la da verdade. Deve ter contratado sósias muitos anos antes. Provavelmente simularia a morte em um acidente aéreo em algumas semanas, ou algo assim. Nunca consegui falar com ela. Ela se tornou reclusa como o pai. Na infância, tínhamos sido bons amigos, mas agora, éramos estranhos.
Chegará a hora de eu fazer alguma coisa. Não podia deixar que os bandidos se safassem dessa, depois de tudo isso. Havia um depósito da guarda nacional a poucos quilômetros da cidade. Não era um posto grande, mas era usado como depósito de equipamento para os quartéis que ficavam nas cidades vizinhas. Brincava lá quando era criança, quando meu pai me levava para conhecer seus amigos da guerra. Demorei semanas para ficar pronto.
Montei um traje a prova de balas, usei os anos que havia estudado para preparar todo o resto. Modifiquei as armas, pintei de preto um blindado urbano, preparei explosivos e todo o tipo de coisa que achei que poderia usar. Agora, estou pronto. Finalmente estou pronto para vingar meu Pai e meu Patrono. Estou pronto para cumprir a única tarefa que me resta nesse mundo.
Pois agora, sou Midnighter.

O Retorno de Midnighter — Parte I

Quando era criança, eu e Abe éramos inseparáveis. Os irmãos Samsom, como nos chamavam naquela vizinhança miserável no centro do Harlem. Ele era Big Samsom, e eu, Lil Samsom, e éramos conhecidos por todo aquele lugar. Quando crescemos, saímos daquela desgraça, e conseguimos faculdade com bolsa, graças ao Futebol. Afinal, os Samsom sempre dizem, “corpo forte, mente forte”.
Abe era um exemplo. Dois metros de altura, forte como um touro, se formou um ano e meio antes de mim. Foi chamado para o exército, trabalhou na inteligência durante a guerra do golfo. Era um homem e tanto, nossa velha mãe tinha orgulho das medalhas. Lembro de que quando ela morreu, Abe fez questão de enterrá-las com ela.
Eu era mais acadêmico. Fiquei na faculdade, virei doutor. Nunca parei de me exercitar, e meus alunos achavam que eu iria agredi-los fisicamente caso não fizessem o dever. Bem, era verdade, eu iria mesmo. Por sorte, nunca precisei. Trabalhei com pesquisa militar, aproveitando as indicações de meu irmão, e me tornei bastante conhecido no meio. Desenvolvi blindagem, hardware e alguns outros segredos, mas nunca senti que fazia alguma diferença.
O que queria mesmo era trabalhar com algo que pudesse ajudar as pessoas. Queria trabalhar com algo que pudesse transformar vizinhanças ruins, como a minha antiga, em bons lugares para se crescer. Queria conseguir uma forma de ensinar aos garotos ficarem na escola e não usar drogas. Meu irmão havia dito que encontrara uma saída, e que queria que eu fosse trabalhar com ele. Passei as semanas seguintes empolgado, esperando minha vida mudar.
Então, Abe morreu. Baleado, por um bando de canalhas do tipo que fez nossa juventude ter sido um inferno. Um amigo dele, John Hasler, veio me dar pessoalmente a notícia. Fiquei arrasado, pois de uma vez só, meu irmão e minha esperança me haviam sido tomados.
Então, Hasler me mostrou o trabalho de Abe, e como meu irmão fazia a diferença. Senti que Abe era realmente o homem que eu achava que era. Enterrei-o naquele verão, do lado de mamãe e papai. Em sua lápide, está escrito “Albert Samsom, filho, irmão e herói”, mas não acho que só isso possa dizer tudo que senti.
Eu pedi demissão da faculdade depois de um tempo. Não conseguia mais olhar para aquela pesquisa, sabendo que havia homens como os que mataram meu irmão, soltos pelo país. Esse tipo de lixo humano deveria ser exterminado, mandado para a pior prisão, apodrecer pela eternidade. Não é o ambiente que faz a pessoa virar um monstro — meu irmão e eu saímos das mesmas condições, e viramos alguém na vida, sem nunca ter que pisar nas pessoas ou partir para o crime — e sim, o caráter.
Hasler me chamou para continuar o trabalho de Abe. Demorei três anos para aceitar. Engordei quase trinta quilos durante a depressão, mas não parei com meus exercícios. Eu estava tão fundo no poço, que morava agora em um quarto alugado em cima de um bar, dividindo minha cama com ratos. Não era exatamente o tipo de vida que as pessoas esperam de um doutor renomado. Achei que era hora de mudar, se quisesse mesmo honrar o bom nome de Abe.
Como sempre, Abe era o melhor de nós. Eu não conseguia reproduzir suas criações, apenas repará-las. Eram avançadas de mais para mim. Tornei-me chefe de projetos na empresa de Hasler, mas apenas como fachada. O que eu fazia mesmo era criar utensílios para o Midnighter. Ah, o Midnighter. Ele era um homem de verdade, do tipo que faria nossa velha mãe aplaudir. Pegava os bandidos, mesmo aqueles que os policiais corruptos tinham medo de perseguir, e dava uma lição neles. Eu me sentia importante em ajudar. Sabia que estava fazendo aquilo por Abe, e tinha certeza de que ele estava orgulhoso de mim.
Tornei-me grande amigo de Hasler. Construí seus veículos, montei o sistema de utensílios retrateis do traje de combate, programei grande parte do sistema dos computadores, e bolei um tecido leve e flexível como seda, que consegue resistir à balas a queima-roupa. Fiz minha parte, ele fez a dele. Assim, funcionava nossa parceria. Trabalhamos assim por quase nove anos.
Mas ele também caiu para os bandidos. Caiu em rede internacional, salvando a pele de todo mundo, e ninguém parece ligar. Eu ligo. Não posso deixar isso acontecer assim. Havia mais uma dúzia de caras lutando lá, qualquer um deles tinha poder suficiente para explodir uma cidade, mas nenhum deles teve o que era preciso para fazer a coisa certa. Mas John Hasler, que poderia ser parado com um golpe de faca, teve. E é isso que eu não posso deixar que as pessoas esqueçam.
Gastei os últimos meses me preparando. Juntei um projeto de uns guris ingleses, algumas tranqueiras que consegui do que sobrou dos andróides dos cientistas da Daydream, umas idéias que meu irmão estava trabalhando, e construí uma armadura de combate. Cento e oitenta quilos de metal e circuitos. Mesmo com os servos-motores, ainda tenho quarenta quilos de sensação em meus ombros. Se eu não fosse tão forte, não conseguiria andar. Fiz tudo isso com bastante cuidado, mas sei que esse exoesqueleto não é nem de longe forte o suficiente para que eu me equipare à esses doidos de capa.
Quando eu estava na metade de minha criação, o tal alemão voltou para Chicago e assumiu o posto de Midnighter por algumas semanas, mas era obvio que ele não gostava de mim. Esse tipo de pessoa não respeita gente como eu, que veio de baixo. Ele não quer que eu o veja sem máscara, uma medida bem nazista, como era de se esperar. Talvez, tenha nojo. Pelo modo que age com Shauny e comigo, fica fácil perceber que ele não gosta de negros. Graças a deus, ele foi embora, mas isso me deixou menos tempo para trabalhar. Mas terminei.
Eu saio da Van onde montei meu posto de abastecimento, e olho para a lua. Faço um teste, e salto quase quinze metros para cima. Um gancho é disparado automaticamente, e me prende numa das paredes. O metal da armadura muda de cor, mimetizando a textura dos tijolos. Eu me jogo com força, e atinjo o terraço de um prédio. A armadura ainda tem quase três horas de energia. Vai ser uma longa noite, e os malditos vão pagar. Não vou deixar que esqueçam.
Pois agora, sou Midnighter.