Em 2015, um grupo de super-humanos escapa de uma base do governo para salvar o mundo, e acaba descobrindo uma série de segredos sombrios. Essas são suas histórias.

O Retorno de Midnighter — Parte III

Shauny. Eu acho engraçado como esse nome soa. Meu pai disse que mamãe o escolheu por que achou que eu era especial de mais para ter um nome comum. Eu não a conheci, ela morreu quando eu ainda era um bebê.
Crescer com um pai como o meu também é algo “especial”. Diferente. Ele é milionário, dono de uma empresa de investimentos e tecnologia, super culto, charmoso e, ainda por cima, poliglota. Para os jornais, ele é um homem recluso e erudito que gasta seu tempo livre com a família (eu) e com viagens de lazer (não é bem assim). Para a empresa, ele é um chefe atencioso, um homem honesto, mas que não tem muita responsabilidade com compromissos (não é bem assim também). Para mim, ele é o melhor pai do mundo (tá, não é bem assim, mas o que posso fazer?).
Eu sei que ele não morreu. Eu sei que está se recuperando, e que vai voltar assim que conseguir. Não tenho dúvidas disso. Bom, pelo menos, eu quero acreditar nisso. Eu não chorei quando os homens de preto vieram falar comigo (o tal Pierce e aquele estranho do Larsen). Não chorei quando vi nos jornais. Eu fiz o que precisava fazer, tudo o que ele havia me dito desde que era pequena. Eu devia fazer as coisas continuarem como eram. Mas é doloroso montar aquelas projeções de computadores nas videoconferências.
Não é qualquer pai que deixa a filha brincar com um video-game de vinte três milhões de dólares — um robô construído para simular os movimentos dele (mas não fazia muito bem o trabalho). No começo, havia cinco desses. Albert Samsom, antigo parceiro de meu pai, havia os construído, e a tecnologia se perdeu quando ele morreu. Nunca conheci nenhum dos ex-parceiros de meu pai. Sei que o irmão de Samsom é o Geoffrey (que é PhD em Mecatrônica, mas mais parece um mecânico de carros), e que o filho de Gabriel Shedd (Gab, eu brincava com ele quando era criança) fez alguma bobagem e ficou presto todos esses anos. Daquelazinha, eu não gosto nem de pensar.
De qualquer forma, eu já quebrei os cinco robôs. Pois é, os cinco, quebradinhos. Não foi assim, quebrar. Dois foram a base de lança-foguetes, um o Conway explodiu, um a DayDream em pessoa quebrou no meio, e o último foi fatiado por uma asiática mestiça com o (incrivelmente útil) poder de encolher. Como meu pai já não estava quando o último quebrou, tive que pedir ajuda pro alemão.
Eu digo, O Alemão. O tal Ghünter. Na verdade, não pedi exatamente ajuda. Ele apareceu em casa, e não foi mais embora, ai eu acabei fazendo ele usar a roupa negra. Ele não tem muito senso de que está incomodando, sabe? Mas não quero falar sobre ele, aconteceram umas coisas que eu realmente não quero me lembrar. Mas ele foi embora, faz um tempo já, e isso é bom.
Fiquei uma semana namorando a chance de fazer ou não uma coisa estúpida. Eu sei que quando meu pai voltar, eu vou tomar a maior bronca de minha vida. Sei que quando o castigo acabar, eu terei idade para ser avó de alguém. Mas não posso deixar a chance passar.
Eu tenho todas as chaves do sistema. Alias, eu mesma programei boa parte dos softwares que estão rodando aqui hoje. Modéstia parte, quando eu coloco uma coisa na cabeça, eu faço, e faço muito bem feito. É por isso que eu preciso tentar. Um dia, ele vai sair, e não vai voltar. Então, eu terei de continuar o legado. Eu estou pronta.
Ligo os sistemas. Ajusto as medidas para meu corpo. O traje é composto por mais de uma dúzia de camadas, presas individualmente (na verdade, ele só usa isso quando tem tempo livre. Tem vezes que ele sai vestido só com um colantezinho preto! Meu pai é muito suicida mesmo). Demora mais de dez minutos, mas no final, não parece que estou usando mais do que um abrigo bem justo. É tão apertado que eu sinto falta de ar, mas a sensação passa rápido. Depois de um tempo, aquilo fica até confortável (exagero meu, foi uma proteção mental de quando percebi que não conseguia puxar a calça para longe do bumbum). Eu sinto todos os sistemas de disparo. Demoro uns dois minutos para entender exatamente como funciona cada um dos apetrechos que estão embutidos na roupa (e quebro dois monitores no processo). Tento conter a euforia. Vou andando até o salão principal (a capa retrátil vai e volta várias vezes, até eu descobrir o que estou fazendo de errado).
Olho no monitor no canto do olho. Incrível como essa coisa funciona, estou vendo o estado de cada parte do meu corpo, além de ter acesso ao computador da base sem fazer nenhum movimento além de olhar forte para um ponto da tela holográfica que é projetada direto em minha retina. Peço acesso aos eventos atuais. Um chamado da polícia, poucas quadras de onde estou. Suposta atividade super-humana. Vou à direção da moto. Sempre sonhei em dirigir essa coisa, mas se meu pai me visse sentado nela, ia me dar bronca. Mas eu tirei carta faz três semanas, eu sei dirigir já, não tem problema!
Saio da base (e quase não raspo muito a moto na lateral do túnel). Termino o caminho numa rampa, e tenho a impressão de que fiquei no ar por meia hora. Quando caio, quase perco o controle de novo. Sigo em frente, e avisto um dos robôs de Conway, daqueles vestidos de gangster. Fico de pé na moto e dou um salto mortal para trás (ninguém vai acreditar, mas tudo bem). A moto segue e esmaga o danado. Ela é um bom veículo, se estabiliza e volta sozinha para o beco.
Eu caio (de pé, nem acredito). Estou cercada por outros quatro gangsters-robos. Saco um bumerangue. Os malditos miram suas armas, mas eles não têm chance nenhuma.
Pois agora, sou Midnighter.

3 comentários:

Calliban disse...

Fica ON no msn, seu pulha!

K disse...

Deixei pra comentar os três aqui. Primeiro, como eu já disse no Messenger, está muito bom. Você melhorou muito mesmo seus contos ultimamente, ainda tem coisa a acertar, mas está bem da hora mesmo.

Segundo, pare de contar as referências de onde tira sua obra, por mais que pareça óbvio. Porque assim dá margem pra não saberem exatamente de onde vc tirou isso (o emo mesmo pensou em um gibi que eu não conhecia). By the Way, excelente adaptação.

E finalmente, paguei pau pro cenário que se construiu em Chicago, Tal qual o Superzé, o Hasler inspirou heroísmo nas pessoas (como eu tinha dito no conto "Luz de Mercúrio"), isso é muito legal, e eu devo dizer que com esse conto você comprou a encrenca de ter que mestrar uma subcampanha com outros personagens Street-Level dentro de Chicago lutando com esse monte de Midnighter. ^^

Unknown disse...

CARALHO.... SERÁ QUE NINGUEM GOSTA DE MIM???? E O QUE DIABOS ACONTECEU NAQUELE LUGAR QUE A NINAZINHA NÃO QUER LEMBRAR E TEM HAVER COMIGO!!!!!!!!


Cara agorasão tres mid... para cada midnighter que cair surge 3 para tomar o seu lugar... ia ser engraçado os tres se encontrarem...