Em 2015, um grupo de super-humanos escapa de uma base do governo para salvar o mundo, e acaba descobrindo uma série de segredos sombrios. Essas são suas histórias.

Dia dos Pais

- Claude! Klaus! Vão ficar o resto do dia aí fora? O almoço está servido!

Ouço as palavras de Victoria. Céus, como gosto dessa voz. Poucos programas me agradam mais do que visitar Victoria. Primeiro porque ela é linda, divertida, inteligente e também a melhor profissional do crime europeu depois de mim. Segundo porque ela gosta de Klaus, e Klaus gosta dela. Ele brinca com pedrinhas multicoloridas do jardim, desfazendo o minucioso desenho que algum jardineiro cobrou uma fortuna para moldar em pedras. Qualquer pessoa em sã consciência ficaria aborrecido, mas não Victoria, ela realmente gostava muito de Klaus, acho até que mais do que de mim. Ele joga uma pedra para o alto e, com a mesma mão, apanha outras 4 dispostas em quadrado no chão para em seguida agarrar com a mesma mão a pedra lançada ao alto. Ele só tem sete anos, acabou de entrar na escola, mas demonstra uma agilidade física e capacidade de entender as coisas que sinceramente me assustam.

redispõe as quatro pedrinhas e me entrega a maior, pedindo para que eu tente. Sorrio novamente e jogo a pedrinha para o alto. Ele não olha para ela, mas sim para minhas mãos. É esperto, sabe as coisas que posso fazer e, por não entendê-las muito bem, observa. É disso que Decido-me por ignorar o chamado de Victoria e sento no chão, ao lado de meu filho. Ele me olha e sorri, dispõe novamente as pedrinhas no chão e repete o movimento, me mostrando que é bom nisso. Eu bato palmas e, pela primeira vez em semanas, deixo que um sorriso se abra. Eletenho medo. Dessa Inteligência. Ele é muito mais esperto que as outras crianças da escola, tem facilidade para tudo, é forte como um menino de nove anos e desde que eu consiga me lembrar, nunca pegou um resfriado ou teve febre nem mesmo quando bebê. "O primeiro filho de um Next Stepper" foi o que disse o Dr. Scheimmer quando o seqüestrou. E o que isso quer dizer? Eu descobri ser filho de um Second Stepper, isso me deu poderes e me tirou o sossego na vida. Mas existe a possibilidade de não ser nada disso. Sim, ele pode ser só geneticamente privilegiado e nada além disso. Sete anos, Robert, sete anos desde que você morreu e Klaus nasceu. Lisa morreu sem saber ela própria qual de nós dois era o pai de Klaus. Eu poderia resolver isso, poderia fazer um exame de DNA dentro de minha própria base e pedir para Nicholas interpretar os resultados. Mas, para quê? O que muda se ele for mesmo filho de Robert? Robert está morto, Lisa também. Somos nós dois, meu filho, os últimos Nistelroy. Ainda bem que você é homem e vai ter a chance de repovoar o mundo com nossa espécie.

Me pego divagando com a pedrinha quase começando a cair. Ele continua fixado em minhas mãos. Eu espero. Espero até que a pedra maior se coloque exatamente no caminho entre seus olhos e minhas mãos. Então pego as quatro pedrinhas, coloco-as sobre a palma de sua pequenina mão e apanho a maior, bem diante de seus olhos. Ele dá um pulo, posso fazer isso mil vezes e ele não se cansa. Morre de rir, como uma criança que viu um truque de mágica.

- Escutem, vocês dois não sentem fome, não?

Ela veste uma calça de ginástica colante e um top. Devia estar correndo na esteira. A sete anos, desde que Klaus nasceu, ela me telefona convidando para passar a tarde com ela. Hoje é Dia dos Pais, e ela é a única pessoa que telefonou. Ela se senta a nosso lado no chão e percebe que Klaus desmanchou seu jardim de pedras de três mil dólares. Ao invés de ficar brava, ela segura o menino no ar e o coloca sentado no canteiro de pedrinhas coloridas, apanhando punhados com as mãos e os jogando suavemente sobre a cabeça de Klaus. Eles riem. Eu estou distante, penso nele. Penso em quanto tempo passo nas ruas literalmente correndo atrás de criminosos, apanhando de Robôs gigantes, viajando para Saturno, viajando para outras dimensões. Penso em quão pouco é o tempo que passamos juntos. É claro, eu passo mais tempo com ele do que com o uniforme, mas ainda assim é pouco. Ele é meu filho, meu único filho e minha única família no que se refere à genealogia. Amo esse menino, mais do que já achei que amaria alguém. Mais do que a mim mesmo, mais do que amei Lisa, mais do que amo os irmãos que conheci como Lightning. Ele está crescendo, fala pouco com estranhos, mas porque prefere ouvir. Comigo, fala pelos cotovelos, mas pergunta muito mais do que afirma. Ele sabe sobre meu segredo. Sabe que o homem de uniforme com raios nos jornais é seu pai. Sabe que não pode deixar que ninguém descubra nunca. É inacreditável, não faz nenhum sentido, mas de todas as pessoas que conhecem minha identidade como Lightning, a que mais me inspira confiança é justamente este menino de sete anos que rola em meio a pedrinhas multicoloridas abraçado à mulher mais perfeita do mundo.

Eu me levanto, respirando fundo. Estava demorando até que demais para essa idéia aparecer de novo. Não, Claude, você não vai fazer isso. Sim, Klaus precisa de uma mãe, alguém que cuide dele e dê exemplos melhores que os seus. Sim, você também já passou da hora de parar com essa história de uma namorada por semana, seria realmente ótimo ter alguém para dividir as coisas, como o Nick faz com a Christine. Mas não, Claude, definitivamente essa mulher para cuidar de você e seu filho não é Victoria Lupin. Essa mulher linda de cabelos longos e negros com uma linda e sensual mecha rosa pode ser realmente encantadora, mas é sempre bom lembrar que ela é a última de uma linhagem secular de ladrões, os Lupin, descendentes do lendário ladrão de casaca, Sir Arnie Lupin. Klaus já será criado por um ex-ladrão, não precisa de uma ladra de primeira e na ativa como mãe.

Mas que idiota. Que belo idiota. Que belo, aliás, charmoso e veloz idiota que eu sou. Não, Claude, você não vai arrumar uma mulher de vida como a sua, não, arrumará uma dona de casa que certamente entenderá o fato de que seus amigos levantam carros e controlam água. Odeio, odeio mesmo quando chego a essas conclusões cretinas que fazem todo o sentido, mas são inevitáveis. Victoria não se importa em não ser mãe de Klaus. Para falar a verdade, se conheço bem essa mulher, deve ter feito laqueaduras para não correr o risco de engravidar e perder a forma física. Não a culpo, seria um desastre estético e profissional. Ela me olha, enquanto Klaus brinca com seus cabelos cor-de-rosa. A melhor parte de ser super-rápido é poder pensar com muita calma antes de falar, sem que a pessoa note que se está pensando. Ela vai me perguntar porque a estou olhando desse jeito. Empatia dos diabos, parece que ela está ouvindo cada pensamento meu desde que cheguei aqui. Eu devia aproveitar essa deixa, devia dizer que ela é linda e que quero jantar com ela essa noite, sem Klaus. Ela poderia deixar uma das empregadas cuidando dele e nós jantaríamos à beira do lago da mansão. Eu diria a ela o quanto quero alguém que entenda minha vida ao meu lado para cuidar de mim e de meu filho. Ela, bem, claro que ela não iria resistir, afinal de contas não é um galã qualquer de Hollywood, oras, sou eu!

- Por que está me olhando assim, Claude?

- ... não é nada, só estava pensando que estou ficando com fome, acho que Klaus também.

Ridículo, absurdo, mas de alguma forma eu simplesmente fico inseguro e nunca consigo. Olho para Klaus e pergunto se ele está com fome. Ele responde que sim, bom garoto, me poupou de arrumar outra desculpa. Às vezes me sinto tão ligado a ele que chego a acreditar que ele sabia no meu tom de voz que eu queria que ele estivesse com fome. Hoje é Dia dos Pais, meu sétimo Dia dos Pais, e pela primeira vez desde que Nicholas e Gunther foram embora para a América, estou verdadeiramente feliz.

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