Em 2015, um grupo de super-humanos escapa de uma base do governo para salvar o mundo, e acaba descobrindo uma série de segredos sombrios. Essas são suas histórias.

O Retorno de Midnighter — Parte II

Meu nome é Shedd. Gabriel Shedd II. Mas não soa tão legal quanto em filmes. Cresci na DownTown de Chicago, ouvindo música eletrônica e jogando video-games. Meu pai era um policial do 44º Distrito, havia servido no Golfo e tinha meia dúzia de medalhas de honra ao mérito. Ele era meu herói, minha infância inteira foi baseada na idéia de que um dia eu seria como ele. Ele saia de casa às sete da noite, e só voltava no começo da madrugada, sempre com uniforme impecável. Quando eu tinha oito anos, ele me ensinou a atirar, e me levava nos churrascos da polícia para que eu conhecesse o pessoal. Eram todos bons homens, mas meu pai era o único herói de lá.
Claro, as coisas não eram tão simples. Quando eu tinha nove anos, descobri que ele não era exatamente um policial. Pelo menos, não o tempo todo. Meu pai era um Vigilante. Junto de outros três colegas que lutaram na guerra, eles passavam a madrugada correndo pela cidade, pulando de prédio em prédio, ajudando pessoas e capturando criminosos de uma forma que a polícia não conseguiria, nem ousaria. Não podia contar isso para ninguém, ele me fez prometer. Apresentou-me aos parceiros. Tio Albert, tio John e tia Andrea, era assim que eu os chamava. Eles eram para mim super-heróis de verdade, eram o esquadrão MidNight, os salvadores de Chicago.
Em 2005, eu já tinha 19 anos. Meu pai havia gasto boa parte de seu tempo me convencendo de que eu não deveria ser como ele. Que eu deveria me formar, virar um advogado. Conseguiu pagar com se salário miserável de policial o primeiro semestre em Harvard. Eu estudei, fui o melhor aluno de uma turma de duzentos. Não queria decepcionar meu herói. Ele nunca havia me decepcionado. Ele nunca havia faltado em nenhum dos jogos de baseball da escola, nunca havia descumprido uma promessa. Ele era esse tipo de homem, e havia me criado para ser igual. Quando voltei para casa naquele verão, queria mostrar para ele o quão bem eu havia me saído. Queria que ele tivesse orgulho de mim.
No terminal de ônibus, não o encontrei. Ele nunca se atrasava, nem mesmo quando aconteciam coisas ruins. Eu liguei em casa, mas ninguém atendeu. Não sabia o que fazer. Tio John apareceu em seu lugar. Estava com um olho roxo, um braço engessado, e um curativo enorme no pescoço. Quando vi aquilo, comecei a chorar. Eu sabia o que havia acontecido.
Tio John me contou que a desgraçada da Andrea os havia traído. Uma emboscada, tio Albert foi morto no lugar. Meu pai havia tomado um tiro por tio John, mas havia escapado. Os dois correram quase um quilometro nos esgotos antes de meu pai sucumbir aos ferimentos. Fomos no carro dele até em casa. Mamãe estava chorando, mas ela não sabia a verdade. Para ela, papai havia morrido em serviço, e tio John havia sofrido um acidente de carro. Eu chorei muito. Todos os dias das férias de verão, visitei o túmulo de meu pai, e todos os dias, jurei que ele teria orgulho de mim.
Na época, tio John havia acabado de abrir um negócio, e estava ganhando bastante dinheiro. Disse que eu não deveria me preocupar, pois ele garantiria que eu e mamãe pudéssemos viver em paz. Ele pagou minha faculdade, e fazia questão de me visitar no campus sempre que podia. Eu nunca terei uma forma de repagar a ele tudo que fez por nós.
Nos anos seguintes, usei todo meu tempo livre para me tornar forte. Entrei para o clube de tiro local, me afiliei ao ginásio, aprendi a lutar Full Contact. Estudava como um louco. Não me lembro de um único dia que tivesse abdicado da rotina. Tio John estava me oferecendo uma forma para me tornar bom o suficiente para acabar com a desgraçada que matou meu pai, mesmo que ele não soubesse. Isso me custou toda a vida social da faculdade, mas era um preço pequeno, muito menos do que eu estava disposto a pagar.
Numa noite, estava estudando para uma prova quando vi na Internet notícias sobre um misterioso vigilante de Chicago. Seu nome era Midnigther. Eu sabia que era tio John, sabia que ele não desistiria. Meu pai não desistiria. Nem eu. Formei-me em primeiro lugar, com as melhor médias que Harvard havia visto. Tio John queria que eu fosse trabalhar com ele em Chicago, mas eu não conseguiria ficar naquela cidade sem que as memórias voltassem. Naquela época, eu poderia ter alcançado tudo que quisesse, mas resolvi trabalhar com os casos mais difíceis, que ninguém pegaria em sã consciência, com medo de destruir a própria carreira. Eu não estava interessado no dinheiro, eu queria ajudar as pessoas. Mas ainda não pensava na hipótese de me tornar um vigilante, pois acreditava no sistema, e sabia que, se descobrisse o que aconteceu naquela noite, mandaria todos para a prisão para o resto de suas vidas. Até conhecer Maximillian Maxwell.
Foi em março de 2012. Não faz tanto tempo. Maxwell queria expandir sua empresa, a MaxCorp, para a America. Comparam o quarteirão onde cresci, e despejaram minha mãe. O único problema é que o apartamento era nosso, e não havia meios legais para que tivessem feito aquilo. Preparei o processo. Descobri uma série de irregularidades na empresa. Trabalho escravo, experimentos com seres humanos, uso de produtos proibidos, substâncias tóxicas como matéria prima para alimentos, poluição muito além dos limites permitidos, sonegação de impostos, e mais uma interminável lista. Eu tinha o material perfeito, eu tiraria a MaxCorp do ramo em menos tempo que eles demoliriam o meu velho prédio. Ou assim pensava.
Minha demissão do setor público foi praticamente política. Caçaram minha licença, e me meteram em fraude atrás de fraude. Os advogados da MaxCorp compraram o juiz, e ainda me processaram por difamação. Em um mês, eu perdi tudo que havia conquistado. Todas as provas que reuni desapareceram dos arquivos públicos, fui despejado de casa, e minha noiva me abandonou por achar que eu estava tendo um caso. Tudo em um mês. Mamãe morreu semanas depois, num acidente de carro, onde dirigiu bêbada. Mas ela não sabia sequer dar partida no carro. Pouco tempo depois, fui preso por homicídio e trafico de drogas, sendo que eu sequer bebia álcool, em respeito ao pedido de meu pai. Fiquei cinco anos sendo humilhado, com o pior tratamento possível, um presídio desumano. Presente pessoal da MaxCorp.
Durante todo esse tempo, tio John me visitou. Tinha seus advogados trabalhando no meu caso, contratara detetives. Disse que eu sairia logo. Eu acreditei nele. Tio John nunca mentiu. No começo de 2017, fui solto, mas nunca voltei a ver meu benfeitor. Ele havia sido morto.
Não exatamente. Midnighter morreu, salvando o mundo de um louco em Paris, mas tio John ainda faz aparições em videoconferências. Eu sei que não é ele, que é apenas uma imagem de computador. Fico com dó da filha dele, Shauny, que não deve ter idéia do quão importante é o pai dela. Provavelmente, ela nem sabe que ele morreu. Tio John com certeza pensou em tudo para protegê-la da verdade. Deve ter contratado sósias muitos anos antes. Provavelmente simularia a morte em um acidente aéreo em algumas semanas, ou algo assim. Nunca consegui falar com ela. Ela se tornou reclusa como o pai. Na infância, tínhamos sido bons amigos, mas agora, éramos estranhos.
Chegará a hora de eu fazer alguma coisa. Não podia deixar que os bandidos se safassem dessa, depois de tudo isso. Havia um depósito da guarda nacional a poucos quilômetros da cidade. Não era um posto grande, mas era usado como depósito de equipamento para os quartéis que ficavam nas cidades vizinhas. Brincava lá quando era criança, quando meu pai me levava para conhecer seus amigos da guerra. Demorei semanas para ficar pronto.
Montei um traje a prova de balas, usei os anos que havia estudado para preparar todo o resto. Modifiquei as armas, pintei de preto um blindado urbano, preparei explosivos e todo o tipo de coisa que achei que poderia usar. Agora, estou pronto. Finalmente estou pronto para vingar meu Pai e meu Patrono. Estou pronto para cumprir a única tarefa que me resta nesse mundo.
Pois agora, sou Midnighter.

2 comentários:

Guilhotina Voadora disse...

midnighters brotando! Curti saber dos amigos do midnighter, o esquadrao midnight!

Unknown disse...

...

agora tem dois midnighters???? que bizarro. pelo vista a lenda nunca vai morrer e se morrer 2 tomam lugar dele!