Em 2015, um grupo de super-humanos escapa de uma base do governo para salvar o mundo, e acaba descobrindo uma série de segredos sombrios. Essas são suas histórias.

O Retorno de Midnighter — Parte I

Quando era criança, eu e Abe éramos inseparáveis. Os irmãos Samsom, como nos chamavam naquela vizinhança miserável no centro do Harlem. Ele era Big Samsom, e eu, Lil Samsom, e éramos conhecidos por todo aquele lugar. Quando crescemos, saímos daquela desgraça, e conseguimos faculdade com bolsa, graças ao Futebol. Afinal, os Samsom sempre dizem, “corpo forte, mente forte”.
Abe era um exemplo. Dois metros de altura, forte como um touro, se formou um ano e meio antes de mim. Foi chamado para o exército, trabalhou na inteligência durante a guerra do golfo. Era um homem e tanto, nossa velha mãe tinha orgulho das medalhas. Lembro de que quando ela morreu, Abe fez questão de enterrá-las com ela.
Eu era mais acadêmico. Fiquei na faculdade, virei doutor. Nunca parei de me exercitar, e meus alunos achavam que eu iria agredi-los fisicamente caso não fizessem o dever. Bem, era verdade, eu iria mesmo. Por sorte, nunca precisei. Trabalhei com pesquisa militar, aproveitando as indicações de meu irmão, e me tornei bastante conhecido no meio. Desenvolvi blindagem, hardware e alguns outros segredos, mas nunca senti que fazia alguma diferença.
O que queria mesmo era trabalhar com algo que pudesse ajudar as pessoas. Queria trabalhar com algo que pudesse transformar vizinhanças ruins, como a minha antiga, em bons lugares para se crescer. Queria conseguir uma forma de ensinar aos garotos ficarem na escola e não usar drogas. Meu irmão havia dito que encontrara uma saída, e que queria que eu fosse trabalhar com ele. Passei as semanas seguintes empolgado, esperando minha vida mudar.
Então, Abe morreu. Baleado, por um bando de canalhas do tipo que fez nossa juventude ter sido um inferno. Um amigo dele, John Hasler, veio me dar pessoalmente a notícia. Fiquei arrasado, pois de uma vez só, meu irmão e minha esperança me haviam sido tomados.
Então, Hasler me mostrou o trabalho de Abe, e como meu irmão fazia a diferença. Senti que Abe era realmente o homem que eu achava que era. Enterrei-o naquele verão, do lado de mamãe e papai. Em sua lápide, está escrito “Albert Samsom, filho, irmão e herói”, mas não acho que só isso possa dizer tudo que senti.
Eu pedi demissão da faculdade depois de um tempo. Não conseguia mais olhar para aquela pesquisa, sabendo que havia homens como os que mataram meu irmão, soltos pelo país. Esse tipo de lixo humano deveria ser exterminado, mandado para a pior prisão, apodrecer pela eternidade. Não é o ambiente que faz a pessoa virar um monstro — meu irmão e eu saímos das mesmas condições, e viramos alguém na vida, sem nunca ter que pisar nas pessoas ou partir para o crime — e sim, o caráter.
Hasler me chamou para continuar o trabalho de Abe. Demorei três anos para aceitar. Engordei quase trinta quilos durante a depressão, mas não parei com meus exercícios. Eu estava tão fundo no poço, que morava agora em um quarto alugado em cima de um bar, dividindo minha cama com ratos. Não era exatamente o tipo de vida que as pessoas esperam de um doutor renomado. Achei que era hora de mudar, se quisesse mesmo honrar o bom nome de Abe.
Como sempre, Abe era o melhor de nós. Eu não conseguia reproduzir suas criações, apenas repará-las. Eram avançadas de mais para mim. Tornei-me chefe de projetos na empresa de Hasler, mas apenas como fachada. O que eu fazia mesmo era criar utensílios para o Midnighter. Ah, o Midnighter. Ele era um homem de verdade, do tipo que faria nossa velha mãe aplaudir. Pegava os bandidos, mesmo aqueles que os policiais corruptos tinham medo de perseguir, e dava uma lição neles. Eu me sentia importante em ajudar. Sabia que estava fazendo aquilo por Abe, e tinha certeza de que ele estava orgulhoso de mim.
Tornei-me grande amigo de Hasler. Construí seus veículos, montei o sistema de utensílios retrateis do traje de combate, programei grande parte do sistema dos computadores, e bolei um tecido leve e flexível como seda, que consegue resistir à balas a queima-roupa. Fiz minha parte, ele fez a dele. Assim, funcionava nossa parceria. Trabalhamos assim por quase nove anos.
Mas ele também caiu para os bandidos. Caiu em rede internacional, salvando a pele de todo mundo, e ninguém parece ligar. Eu ligo. Não posso deixar isso acontecer assim. Havia mais uma dúzia de caras lutando lá, qualquer um deles tinha poder suficiente para explodir uma cidade, mas nenhum deles teve o que era preciso para fazer a coisa certa. Mas John Hasler, que poderia ser parado com um golpe de faca, teve. E é isso que eu não posso deixar que as pessoas esqueçam.
Gastei os últimos meses me preparando. Juntei um projeto de uns guris ingleses, algumas tranqueiras que consegui do que sobrou dos andróides dos cientistas da Daydream, umas idéias que meu irmão estava trabalhando, e construí uma armadura de combate. Cento e oitenta quilos de metal e circuitos. Mesmo com os servos-motores, ainda tenho quarenta quilos de sensação em meus ombros. Se eu não fosse tão forte, não conseguiria andar. Fiz tudo isso com bastante cuidado, mas sei que esse exoesqueleto não é nem de longe forte o suficiente para que eu me equipare à esses doidos de capa.
Quando eu estava na metade de minha criação, o tal alemão voltou para Chicago e assumiu o posto de Midnighter por algumas semanas, mas era obvio que ele não gostava de mim. Esse tipo de pessoa não respeita gente como eu, que veio de baixo. Ele não quer que eu o veja sem máscara, uma medida bem nazista, como era de se esperar. Talvez, tenha nojo. Pelo modo que age com Shauny e comigo, fica fácil perceber que ele não gosta de negros. Graças a deus, ele foi embora, mas isso me deixou menos tempo para trabalhar. Mas terminei.
Eu saio da Van onde montei meu posto de abastecimento, e olho para a lua. Faço um teste, e salto quase quinze metros para cima. Um gancho é disparado automaticamente, e me prende numa das paredes. O metal da armadura muda de cor, mimetizando a textura dos tijolos. Eu me jogo com força, e atinjo o terraço de um prédio. A armadura ainda tem quase três horas de energia. Vai ser uma longa noite, e os malditos vão pagar. Não vou deixar que esqueçam.
Pois agora, sou Midnighter.

4 comentários:

Calliban disse...

Obviamente, baseei isso no retorno da morte de um herói bem conhecido ^^

Guilhotina Voadora disse...

Além do Super cara, isso me lembra muito Astro City. A história do Confessor. Ficou bem legal Cal, mas precisa revisar.

Calliban disse...

Eu sei que precisa =P
bati ontem de madrugada, não re-li.
se puder fazer o favor de revisar ^^

Unknown disse...

caralho!!!!!!!!! como assim alemão nazista?!??!? eu sempre repeitei todo ate o mecanico do midnighter... não gostei =P