Em 2015, um grupo de super-humanos escapa de uma base do governo para salvar o mundo, e acaba descobrindo uma série de segredos sombrios. Essas são suas histórias.

Aniversário de lágrimas.

Belfast, 13 de abril de 2013.

As chuvas na Irlanda são um espetáculo a parte. Quando do céu cinza as nuvens desabam suas lágrimas. Em nenhum outro lugar do mundo o pranto é o mesmo, em nenhum outro céu a melancolia se confunde tanto com a alegria. As lágrimas prostram-se no concreto das casas, no asfalto das ruas e nos casacos. Hoje, nas ruas enxarcadas, dois homens caminham. Um alto com um sobretudo negro, os cabelos vermelhos curtos em estilo militar escondidos pela toca verde, os olhos verdes profundos focados no invisível. O outro, de altura mediana, os cabelos negros escorrem pelo rosto desesperado, os olhos verdes se confundem com a chuva.
O sino de uma Igreja toca, como se as lágrimas dos anjos fossem saudadas pelo sinete de Deus. É a chamada para a missa, a convocação dos fiéis, soturnos ou desesperados. Ambos entram na Igreja.

"Em nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo" recita a palavra de Deus o emissário na terra. As pessoas sentadas, ouvem. O homem alto entra, ele tira sua toca e em profunda reverência se ajoelha. Foi ensinado a rezar assim, de joelhos, quando se é órfão, Deus é pai, mãe e padrasto. Há de se saber diferenciar cada faceta. Uma explosão tempos atrás, duas vidas apagadas, vetadas do futuro por um segundo de fogo infinito. Uma vida lançada na escuridão do mundo, suas lágrimas tocando as lágrimas do firmamento. Uma criança perdida, furtada do amor pertencido. Seu nome é James, ele segura um crucifixo dourado.

O outro homem entra, ele limpa o rosto contorcido pela angústia. A água que escorre de seus cabelos some no piso sacro. Seus olhos buscam a figura do Cristo. Os olhos do mártir dos mártires. Quando seus olhos tocam os da figura entalhada, sua alma chove. Tempos atrás uma explosão, Nitroglicerina concentrada compactada e conduzida ao inferno por uma fagulha fulgurante de fósforo. Duas vidas apagadas, uma antes de ser vida, negada da própria probabilidade mundana do ciclo do nascer. Dois futuros negados. Uma vida condenada ao ódio, a dor eterna da eterna dor interna. Uma dor que não fenece, todavia cresce, alimenta-se de mais dor. Seu nome é George, ele carrega uma mochila nas costas.

É chegada a hora da consumação do corpo do divino. O ritual católico atinge seu auge, os fiéis se levantam e enfileirados se dirigem para a remissão das suas almas ao devorar o corpo de seu Deus simbólicamente. James se coloca atrás de uma senhora, George atrás dele aperta alça da mochila com força. O desespero em seu rosto atinge o limite. "Você não deveria carregar um fardo tão pesado sozinho" diz o ruivo sem se virar. A atenção de George é trazida de volta de seu próprio tormento para o mundo exterior. "O que... o que você disse?". James se vira para o homem atormentado, seus olhos tristes encontram os do outro. Ele toca o ombro de George na altura da alça "Eu disse que não deveria carregar um fardo tão pesado sozinho, o que você traz consigo para a casa de Deus?". Seu rosto era a tristeza cortês do mortal condenado, a espada sangrenta embainhada. George recuou assustado, seus passos trêmulos como sua voz recuando. "Q q quê?... quem é você?" Suas mãos circulavam a mochila, como pássaros que protegem o ninho do falcão. "O que você quer?".

James baixa sua cabeça a essas perguntas, a senhora que estava a sua frente prefere ignorar a cena e se dirigir para o altar. Pombas voam assustadas com uma explosão distante no tempo, um carro em chamas, bombeiros, cães latindo assustados. Um menino perdido, na janela do apartamento assistindo. "Sou um pecador, esta é a resposta mais correta, um pecador perdido em busca da remissão dos seus pecados." ele levantou seus olhos e estes se chocaram com os de George. "O que eu quero? Que você me entregue este ódio que carrega consigo e que parta em paz." Por um segundo as vontades dos dois homens se digladiaram e trocaram pedaços de tristeza e raiva, sangue e sofrimento compartilhados. Vidas arruinadas, esperanças perdidas, vontades opostas. George recua ainda mais, agora, enraivecido pela sua própria cunfusão e humanidade. Determinado a seguir sua sina, ele leva a mão ao bolso do sobretudo e morre. O vermelho cobre seu peito, espalhando-se cada vez mais num círculo crescente em meio ao jorro da vida que se esvai. A lâmina suja da adaga respinga o líguido escarlate no chão sagrado, quando o corpo toca o chão num baque surdo, ainda demora-se três segundos para que as pessoas Dêem- se conta do ocorrido, começando a gritar desesperados. James se abaixa junto ao corpo, a adaga já guardada. Ele abre o bolso e retira um objeto singular, parecido como uma caneta grossa, mas com um botão no centro, pega a bolsa e sai, deixando o crucifixo no peito do homem. "Espero que agora a paz de Deus o acompanhe George Hamilton, e que o ódio que você carregava não o persiga na outra vida. " Dizendo isso ele se levanta, o padre estarrecido correndo em sua direção. O rosto coberto de medo, indignação e estupefação. As pessoas gritando por simplesmente não saberem o que fazer além disso. "James Stuart , capitão da primeira divisão anti-terrorismo do exército Irlandês. "Dizendo isso retira do bolso um documento de identificação do governo. Junto a este documento havia uma outra papelada dobrada com os seguintes dizeres: George hamilton, atentado em 2009 em Dublin deixa-o viúvo da esposa grávida, terrorista protestante, chegada 11 de abril de 2013.

Lá fora, a melancolia tocava a alegria nas lágrimas do firmamento. Onde mãe e filho poderiam descansar sobre o recanto da tristeza.

Aniversário de Leslie Collins

Querido Diário,
Faz tempo que não escrevo em você, né?
Acho que a última vez foi quando eu fiquei doente, lembra? Nossa, eu lembro até hoje que fiquei quase uma semana comendo sopinha. Eu ODEIO sopinha, me lembra do St. Peter. Odeio tudo que me lembra aquele lugar, eu juro, juro mesmo!

Mas hoje não vim escrever por que estou doente, não, não, eu estou muito saudável, obrigada! Eu estou escrevendo por que hoje foi um dia muito, mas MUITO bom!

Primeiro, hoje é 4 de maio! Você lembra que dia é esse? SIM! É o meu aniversário! É o dia mais feliz do mundo inteirinho! (Nossa, lembrei do St. Peter de novo. Aquelas freiras chatas deixavam a gente assistir TV até tarde no dia do aniversário).

E foi TUDO perfeito, tudo mesmo, mesmo, mesmo! Eu acordei com o celular tocando. Era o tio Vince, falando parabéns! Nossa, ele é muito legal, eu queria ter tido um pai igualzinho ele! Mas ele não podia vir na escola, por que um funcionário da loja estava doente, e ele precisava trabalhar o dia inteiro. Eu fiquei triste, mas eu sei que ele é trabalhador, então eu falei que não ia ficar triste para ele! Mas ele ficou tão sentido que me deu um presente que eu gostei muito! Um urso de pelúcia gigante, todo fofo, vestido de lenhador! As meninas do alojamento riram quando eu abri a caixa, mas eu não ligo. Eu adoro ursinhos! Coloquei em cima da cama, junto com o que ele deu o ano passado (aquele, segurando um pote de mel, que a Charlene derrubou mostarda em cima, lembra? Eu fiquei muito brava com ela aquele dia! Ninguém suja o Senhor Docinho!).

Depois, recebi um pacote do Tommy! Tinha uma carta dentro, suja de comida (ele sempre está comendo alguma coisa!), dizendo que ele ia aparecer no final de semana para me levar para ver um jogo. Ai! Nós dois somos muito parecidos! Gostamos de esportes, de musica, de vídeo game! E ele, ainda por cima, é super bonito e forte! As meninas ficam doidas quando ele vem me visitar, e eu faço questão de abraçar ele perto de todo mundo! Assim, aquelas bobas param de pegar no meu pé um pouco! Eu abri a caixa, e adivinha só? Uma camiseta do Leeds! Tá, eu sei, eu não entendo muito de Rugby, mas eu adoro camisas de time! Menos do Arsenal, eu não gosto do Arsenal. Acho os jogadores muito metidos!

Mas então, depois disso, a Xiang veio aqui. Eu estava em aula, então não a vi. Fiquei muito triste, mas ela tinha que trabalhar, então eu não falei nada. Ela deixou um recado, daquele jeito dela. Eu gosto muito dela, mas às vezes ela é muito séria! Às vezes, ela é tão séria que me assusta! Mas eu gosto muito dela. Ela também deixou uma caixa. É um livro grosso, cheio de letrinhas chinesas na capa (eu adoro letrinhas chinesas, elas são tão meigas! Lembra daquela vez que eu pedi pra Xiang escrever meu nome em chinês? Eu pedi muito, muito mesmo, mas ela disse que não tinha como! Demorou umas mil horas, mas eu consegui! Não sei se consigo copiar as letras, mas eram assim ó: 嬰兒). Ah!, O livro é sobre o caminho que fez um chinês chamado Tao, mas não entendi nada quando tentei ler! Eu guardei na estante, igual o livro que ela me deu ano passado, aquele sobre meditação. Eu não li inteiro, é muito difícil entender. Fico pensando que tipo de coisas a Xiang lê! Ela é muito, muito inteligente para conseguir ler esses livros difíceis! Será que são livros de faculdade lá na China? Ai! Será que são livros de Colégio? Acho que entendi por que os chineses estão ficando tão importantes!

Ai eu voltei pra aula. Era umas duas e meia, aula de Matemática. A Srta Hugges estava tentando convencer a minha classe que derivadas servem para alguma coisa, quando a Dona Sherinford, que cuida do corredor, interrompeu a aula para me chamar. A Srta Hugges ficou muito brava, e eu achei que estava encrencada de verdade! Nós andamos até a secretaria do prédio velho, e adivinha só quem estava lá? A Sadie! SIM, Ela! Ela veio! Mas eu fiquei com medo, por que ela estava com uma cara muito seria, como se tivesse acontecido alguma coisa. Ela disse bem rouca, como se tivesse chorado, que o tio Vince tinha sofrido um acidente, e que eu tinha que ir ao hospital urgente, fazer exame de sangue.

Entramos no carro dela, mas eu estava tão triste que nem consegui falar nada. Eu chorei bastante. Acho que andamos uma meia hora até chegamos na cidade. A Sadie não falou nada, estava seria. Ela estava dirigindo muito rápido, mas eu não fiquei com medo. Eu confio nela dirigindo, e mesmo se ela errasse, não ia acontecer nada de mal com a gente (lembra do nosso segredo?). Quando entramos na cidade, ela começou a dirigir mais rápido, quase no limite. Eu perguntei para ela o que tinha acontecido com o tio Vince. Ela parou o carro, olhou para mim, e começou a rir. Eu fiquei muito brava, como ela podia rir em uma hora dessas?

Ai ela me falou que o tio Vince estava bem, e que estava rindo por que eu tinha acreditado na história que ela inventou para me tirar da escola! Acredita, ela me fez chorar e tudo mais, só pra me tirar da escola? Eu quase que bati nela àquela hora, mas então ela abriu a porta do carro e disse que eu ia ter tempo para perdoar ela. Ai eu olhei onde estávamos! Ela me levou num Parque de Diversões!

Eu tenho os ingressos até agora comigo, guardei numa caixinha de madeira, no fundo da gaveta com chave da escrivaninha! Ficamos a tarde inteira no parque, brincamos muito! Tiramos fotos nas máquinas de tirar foto, tenho todas aqui comigo! Comi um monte de bobagem, e a Sadie ganhou um urso pra mim nos jogos (eu acho que ela roubou, mas eu não ligo! Eu gosto muito, muito, muito de ursos! Eles são muito fofos!). Ela me trouxe de noite para o alojamento, e eu estava tão cansada que nem liguei para as broncas da Sra Wiserland. Eu não gosto daquela velha rabugenta, mas ela pelo menos não dedura essas coisas para a Diretora. Quando cheguei no quarto, tinha uma carta da Caitlin (a da Irlanda, não a do terceiro andar) falando parabéns, e convidando para ir passar uns dias na casa dela. Ela disse que a irmã foi morar com elas, então eu fiquei curiosa pra conhecer! Eu morro de dó dela ser surda, sabe? Mas pelo menos, algumas coisas se compensam (mas é segredo!).

Agora mesmo, estou segurando a foto mais bonita que tirei com a Sadie! Vou comprar uma moldura amanhã mesmo, e por em cima da escrivaninha!

Sabe, eu fiquei feliz com todos eles lembrarem do meu aniversário! Eu gosto muito do tio Vince, da Xiang, da Caitlin e (ai!) do Tommy! Mas de quem eu gosto mais é a Sadie. Ela pode ser mandona e brigona, e adora arrumar confusão. Quando a conheci, eu tinha muito medo, mas vi que ela não tem nada de ruim. No fundo, no fundo ela é muito, muito legal, engraçada e brincalhona! Ela consegue tirar a gente da maior depressão e fazer todo mundo feliz! Mas se ela descobrir que contei isso para alguém, ela me mata!

Agora tenho que dormir. Amanhã tem aula de história. Boa noite!

L.C.

Polizist

Londres é uma dessas cidades onde tudo é velho, e, mesmo assim, tudo parece novo. Quinze anos na força policial, e esse sentimento ainda era profundo no Sargento Charles Buckerfield. Era um homem forte, com uma barriga já saliente de seus quarenta anos, e usava um bigode forte e grosso, dum castanho acinzentado. Seus dentes eram meio tortos e manchados de tabaco, e sua pela era cheia de sardas, principalmente nas mãos e nas bochechas. Seus cabelos, no entanto, ainda eram vastos, e faziam um complicado desenho debaixo do chapéu. Bucky, como gostava de ser chamado, era casado pela segunda vez, com uma gorda resmungona, e tinha um filho de mais de 15 anos com sua primeira mulher. No entanto, ele não via o garoto há quase cinco anos, e tinha sérias dúvidas se ele se chamava "Henry" ou "Harry".

Trabalhava no 503 de Londres. Era um bom departamento, vizinhança tranqüila. Bucky gostava de dizer que as pessoas eram tão amáveis que até os bandidos pediam "Por Favor" e "Obrigado", nos poucos assaltos que ocorriam. Pelo menos pensava, até chegar o "Polizist".

Ah, o Polizist. Diziam que era filho de alemães, e que havia mudado para a Inglaterra fazia poucos anos. Sabe-se lá como ele conseguiu entrar para a Academia, mas todos ficaram impressionados. Dois metros e meio de pura salsicha e repolho, diziam os colegas. Sempre de cara amarrada, sempre tentando fazer as coisas da maneira difícil. Diziam que ele havia completado a prova física para o ingresso em menos de dois minutos! Era algum tipo de recordista, pensavam. As melhores notas nas provas escritas. Ninguém queria ficar perto de um cara assim - esse tipo de pessoa tende a fazer o parceiro parecer um completo incompetente. Mas Bucky não teve muita escolha. Ele estava sem parceiro fazia três meses, e não tinha mais como enrolar.

Estavam os dois no carro de patrulha, número 17-4C. Era uma máquina velha, mas tinha sua história. Cada mancha no banco lembrava Bucky de uma piada, e ele fazia questão de contar para o jovem alemão. Contava sobre seu ex-parceiro, Ted, que havia sofrido um ataque cardíaco. Contava sobre a vez em que um bandido se entregou ao vê-los na ronda. Todas as histórias que divertiam os colegas da Academia, nas festas de final de ano. Mas o Polizist não parecia se interessar. Ora, Bucky apresentou para ele as melhores lojas de Rosquinhas da cidade, e o rapaz sequer experimentou!

Enquanto Bucky bebia o último gole de café, o alemão soltou o cinto de segurança, e abriu a porta. O veterano sequer teve tempo de questionar - o rapaz saiu correndo. E esqueceu a arma, pensou.

Era a pior parte da ronda. O porto. Nas últimas três semanas, pelo menos cinco desaparecimentos por aquelas bandas. Bucky ligou o carro, e seguiu o rapaz, até ele entrar em uma ruela estreita. Era impossível continuar. Depois de um suspiro longo, pegou seu revolver e o do parceiro, fechou o carro, e tentou segui-lo.
Um beco sem saída. Olhou para os lados, procurando uma porta. Havia apenas uma janela, cinco metros e meio acima. Tirou o chapéu, e coçou os cabelos. Então, uma telha caiu do seu lado, quase atingindo sua cabeça!

Num salto assustado, quase cai no chão. Olhou para cima, e jurou ter visto um homem com o uniforme da polícia andando no telhado. Não, era impossível. Eram pelo menos dez metros! Nem mesmo um garotão como Polizist poderia fazer isso! Bucky resolveu dar a volta, mas não sem antes arrumar o cinto, que incomodava sua barriga.

Ouviu um barulho forte, como de metal torcendo-se. Correu, quase perdendo o ar duas vezes, e entrou num galpão próximo. Da janela, viu Polizist segurando no gancho de um enorme guindaste de carga. O chapéu do alemão caiu rodopiando pelo ar. Num golpe rápido, o guindaste tremeu, fazendo o corpo do alemão se chocar contra um navio atracado. O barulho forte do metal fez-se novamente. Bucky fechou os olhos, pensando no que diria pra família do pobre rapaz. Então, segurou sua arma, e se arrastou lentamente para uma janela. Não havia sangue no navio, e o gancho de metal também não estava sujo. Ora, será que o malandro deu um jeito?

Havia um homem vestido de preto, flutuando dois metros acima do chão. Céus! Era o reverendo da televisão, o programa que sua mulher assistia aos sábados! Mas ele não parecia tão puro... Tinha um olhar sombrio, e uma luz negra emanava de suas mãos. Era assustador de olhar diretamente. Bucky ficou paralisado de medo.

Viu novamente Polizist surgir. Estava a poucos metros de distância, dentro do mesmo galpão que ele. O alemão tirou o casaco de policial e tampou o rosto com uma máscara preta. Parecia um daqueles lutadores dos filmes chineses, os tais que espreitavam nas sombras. Bucky não lembrou o nome, mas achou que era algo parecido com Sashimi. Talvez, Samurai?

Polizist saltou para fora do galpão como uma bomba, explodindo uma janela. Os cacos de vidro todos pararam no ar, e o seguiram. Na verdade, o atingiram, mas nem sequer arranharam sua roupa. Ah, era esse o segredo! O alemão usava colete a prova de balas! Provavelmente, era por isso que ele nunca se machucava! Bucky sentiu-se mais confortável com isso, pois agora o rapaz não estava tão assim na sua frente. Eram só truques!

O reverendo esticou a mão, e Polizist parou no ar. Bucky não sabia como, mas podia jurar que ouvira o alemão dar uma risada. No mesmo instante, pelo menos dez mil galões de água levantaram-se do Tamisa, formando um dragão de água. Ah! Então ele era mesmo um Sashimi! Provavelmente, estava usando os poderes dos monges! Bucky sempre acreditou que os monges podiam fazer esse tipo de coisa, mas nunca fora defensor da causa!

Levantou-se, confiante. Arrumou o chapéu na cabeça, e puxou mais uma vez o cinto para cima. Viu a torrente do Tamisa engolir o reverendo. Puxou o revolver mais uma vez, certo de estaria amanhã de manhã na capa do jornal.

Um raio prateado cruzou o galpão. Bucky viu o navio à sua frente desmontar. Podia jurar que vira faíscas elétricas por todo o lugar. Desse, já havia lido alguma coisa! Era Lightning, o relâmpago humano! Era mais rápido do que qualquer máquina feita pelo homem! O pobre infeliz do reverendo estava perdido!

Por alguns instantes, as coisas continuaram assim. Até que o reverendo se levantou. Parecia furioso. Bucky se escondeu atrás das caixas, e não teve muita certeza do que viu. O chão tremeu várias vezes, e ouviu gritos de ódio e agonia. Não arriscou espiar. Ouviu a voz grave do vilão, igualzinho era na TV, dizer que eles não atrapalhariam mais seus planos, que os transformaria em escravos.

Bucky puxou sua arma e disparou, sem mirar direito. A bala atravessou as costelas do Reverendo, que não parecia preparado para o golpe. Praguejou com força, e gritou que não iriam se lembrar de nada, não importava os artifícios. Que não conseguiriam parar algo que não sabiam existir. Voou para cima, e desapareceu. Os heróis levantaram-se minutos depois, como zumbis. Andaram sem rumo, até que não fosse mais possível vê-los.

O velho policial andou até a janela novamente. Não havia mais ninguém lá. No chão, achou o chapéu de Polizist. Apanhou-o, e o segurou. Olhou para os lados, esperando algo acontecer, mas não ouviu mais nada. Voltou para o carro, meio assustado. Não tinha certeza do que havia acontecido. De certa forma, não queria saber.

Sentou no banco do motorista, e esperou. Ficou parado talvez 40 minutos, sem responder sequer aos sinais do rádio. Então, Polizist apareceu. Estava com ar desnorteado, como se não tivesse dormido por várias noites.

- Eu... Eu não sei. Eu não me lembro de nada, Bucky. Eu sai do carro, e acordei com essa enorme dor de cabeça!

Bucky deu uma risada, e entregou o chapéu ao alemão.

- Günter, meu rapaz, você deveria comer mais rosquinhas! Elas evitam que você saia correndo por ai e bata a cabeça em canos soltos!

Günter sentou-se emburrado de novo. Não agüentava mais esse papo de rosquinhas. Um policial gordo como Bucky não tinha idéia do que era ser um herói de verdade, do que era salvar a vida de alguém. Céus, até mesmo Sadie deveria ser mais heróica do que ele!

Olhos Nublados — Parte I

A garota deu alguns passos tímidos para atravessar a rua. Não havia trânsito algum, mas a visibilidade era tão ruim que qualquer outra pessoa teria se arriscado a molhar a ponta do nariz para olhar para os lados. A chuva não parecia incomodá-la. Sua única proteção era um casaco surrado, semi-impermeável, que, muito tempo atrás, deveria ter sido azul.
Seus olhos negros acompanhavam o vazio, e estavam quase tão nublados quanto o céu. Um cachorro passou correndo, e quase a derrubou, mas não a fez diminuir sua marcha. Ela apertou o casaco ainda mais, segurando-o com as mãos pálidas. Seus cabelos estavam molhados, negros e sem brilho. Eram uma imagem da noite, e as gotas de chuva faziam-lhe estrelas de vida curta.

Parou em frente a uma loja de conveniência. Enfiou os dedos num telefone público imundo, e tirou de lá uma meia dúzia de moedas. Ela não contou o dinheiro, nem ficou surpresa com tamanha fortuna perdida. Entrou na loja, mas ficou parada alguns instantes na porta, por que tinham uma máquina que fazia ventar um ar quente reconfortante. Esperou que lhe chamassem duas vezes antes de passar pelas prateleiras. Apanhou dois pacotes de alguma coisa, e soltou as moedas de forma tímida no caixa.
O responsável, um senhor de mais de cinqüenta anos, gordo, assistindo um programa de caminhões-monstro no canal de esportes, tirou os pés do caixa e contou as moedas duas vezes, com um olhar desconfiado. Jogou-as na caixa registradora, e balbuciou algumas palavras sem sentido algum.
A garota ficou parada alguns instantes, e abriu um dos pacotes ali mesmo. Aqueles alimentos baratos, com sabor de plástico seco, que nos mantém andando por mais algumas horas. Quando o senhor da loja começou a ficar incomodado com a presença da jovem, pegou um bastão de baseball e começou a praguejar, sem sair de sua posição de conforto.
Ela jogou o segundo saco para trás, e ele descreveu um arco perfeito, caindo poucos passos da entrada da loja. Um homem entrou correndo, com um capacete de moto tapando o rosto. Esticou um revolver pequeno, e gritou.

— É um assalto, tiozinho! Vai passando toda a grana, e quem sabe eu não furo sua testa! E ocê minazinha, vai tomar um belo tiro se...

Escorregou no saco que ela havia jogado no chão, caindo em cima de uma prateleira de enlatados. Disparou por acidente, e a bala passou raspando nos cabelos da moça, fazendo-os balançar, e terminou por atingir uma caixa de metal presa na parede, desligando a eletricidade do local. O velho levantou correndo armado do bastão, e tentou golpear o motoqueiro, apesar da escuridão.
No segundo golpe, alguma coisa se arrastou pelo chão, atingindo os sapatos da menina. Ela se abaixou e pegou o pequeno objeto, que fazia barulho como um sino abafado - chaves. Debruçou-se no balcão, e apanhou alguma coisa pequena. Andou calmamente enquanto ouvia as pancadas da madeira no capacete. Deveria estar trincado há essa hora.

Saiu da loja e entrou num beco escuro. Havia uma moto molhada convenientemente estacionada. Uma sacola de couro estava presa no banco, mas ela não precisou espiar para saber seu conteúdo. Sentou-se e deu ignição. Nunca havia dirigido uma moto americana antes, elas eram maiores, mais imponentes. Estava acostumada com as pequenas Scooter que podia comprar com seu antigo salário. Dirigiu por talvez 20 minutos. Deixou a sacola em frente a um orfanato, com um bilhete molhado e borrado que havia escrito semanas antes.

Empurrou a moto de uma ponte. Já não chovia muito, mas o vento frio havia feito que suas roupas praticamente congelassem sobre sua pele delicada. Ela entrou num Shopping, no meio da madrugada, e ficou parada de frente para algumas vitrines. Não havia ninguém mais no lugar fazia horas. Seus passos eram lentos, mas as câmeras pareciam se virar para o lado oposto, conforme chegava muito perto. Entrou num banheiro. Por sorte, o zelador havia se esquecido de trancar a porta.
Se aqueceu por quase trinta minutos, utilizando as maquinas de ar quente de secar as mãos. Tentou secar as roupas e o cabelo, mas eles pareciam resistir bravamente. Num momento exato, saiu do banheiro e foi até um telefone público do lado da porta. Discou alguns números. Esperou. Uma voz rouca atendeu, daquelas que resistem bravamente ao sono, por peso de alguma responsabilidade.

— Nicholas... Existe... Vá agora para a Ferguson Gate. Existe algo... Importante... Debaixo dela.

Desligou, e saiu andando. As câmeras pareciam evitá-la, como que por medo. Andou até o estacionamento do Shopping, e passou pelo segurança dormente. Roubou-lhe um gole de café quente.

Estava numa avenida enorme, com prédios por todos os lados. Suas mãos tremiam de frio. Tirou de dentro do casaco o pequeno objeto que afanara no balcão da loja de conveniência. Um celular velho e com pouca bateria. Apertou uns números com o indicador tremulo, enquanto atravessava uma das margens do rio de asfalto. Um homem com voz simpática atendeu, dizendo que não reconhecia o número. Falou algo sobre ainda não ter o dinheiro.

— Por favor... Pare o caro... Eu preciso de...

Um carro esporte virou bruscamente uma das esquinas da avenida. Seu motorista tinha um celular em mãos. Ele freiou com força, tocando de leve as pernas da moça com os pára-choques. Ela caiu. Na verdade, parecia ter sucumbido ao próprio peso do corpo. O homem saiu correndo do carro. Era levemente loiro, com cabelos longos e lisos. Usava um blazer cinza por cima de uma camisa branca, e tinha uma barba milimetricamente deixada por fazer, tal qual um galã de cinema.

— Moça, moça!?! Fala comigo! Moça!

Assustado, o rapaz segurou-a entre os braços. Colocou-a no banco de passageiros de seu carro. Pensou consigo mesmo por que fazia aquilo. Estava sozinho, ninguém saberia que ele atropelou (mesmo que não tivesse atropelado) a menina. Sentiu um pouco de arrependimento quando pensou naquele casado frio e molhado sujando seu banco de couro. Duas semanas! Duas semanas na América, e já havia lhe acontecido tudo.

Acelerou, olhando de vez em quando pare a menina. Era terrivelmente pálida, e seus cabelos eram de um negro mórbido, de uma beleza dos filmes de Noir. Não podia ver seus olhos, mas tentou adivinhar se eram castanhos ou azuis. Percebeu que ela tinha um pedaço de papel em mãos. Tão logo olhou, o papel caiu. Girou por causa do ar quente do carro, e caiu em seu colo. Ele desviou o olhar, e viu escrito, com tinta borrada. "Zed, eu sou alérgica à aspirina. Por favor, não pare no hospital."

Zed olhou, assustado. Respirou fundo, e notou que havia um gigantesco hospital no cruzamento da avenida. Amassou o papel e praguejou com um sotaque pesado. Virou o carro, e foi direto para o hotel.

Richard (Fluxo de consciência após a batalha contra o carniçal)

Droga por que diabos fiz aquilo pra que arrancar o braço do infeliz burro burro devo estar ficando louco ou algo assim o que deu em mim eu nunca deveria ter virado herói Marcos seria bem melhor do que eu por que ele teve de morrer culpa minha claro meu pai o rosto de meu pai no funeral droga droga que merda que eu fiz e eu ainda discuti com o impacto nossa estou a cento e cinquenta que droga de noite tenho de parar de comer porcarias Roberta brigou comigo outro dia uma criança na rua muitas delas preciso mudar isso mas como como posso fazer qualquer coisa braço tenho um braço guardado em casa que será que é aquela armadura sem dúvida é um dos projetos roubados maldito ele deve ter roubado então ele deve estar com meu campo de força hahaha a cara do Ignus quando eu entreguei a ele o aparelho valeu o ano desde aquela maldita partida de xadrez eu devia isso a ele braço por que eu tinha de usar uma espada devia ter feito um escudo é muito mais humano deve ser nanotecnologia alguma coisa para absorver impacto talvez também tenham redutores de calor e algo assim nossa que gata preciso de um drinque como será que meu pai está tenho de ir pra Gales logo mas como com esse cara a solta aquele prédio quase caiu aquela gata salvou a gente nunca vi mulher mais bonita mas que poder esses caras com quem estou andando são fortes de onde será que eles são alienígenas mutantes andróides não não andróides é forçar a amizade aquele impacto me deu uma bronca e que murro cara porra pra que fui arrancar aquele braço o que esse carniçal tem que me deixa com tanta raiva essa música tá uma droga pouca coisa presta hoje em dia Maxcorp então essa empresa tá jogando sujo puta que canhões eram aqueles e até agora eu só me ferrei com esse lance de herói por que fui entrar nessa Marcus Marcus morreu por minha causa que deu naquele louco do Gostrauken o que eu fiz pra ele Elisa que será de Elisa hoje por que aquela loira pega tanto no meu pé raio de sol uma ova deveria se chamar insolação mas que mira e que peitos ela tem droga pra que fui arrancar aquele braço ta aí vou fazer um escudo amanhã bem forte e resistente e vou parar de beber porra eu quero dormir só quero minha cama Roberta será que ela gosta de mim será que alguém gosta de mim de verdade meu pai gosta isso é certeza mas e os outros amigos eu tenho amigos alguém pra contar meu segredo putz preciso de um psicólogo não isso é bobagem igual religião puta merda que gata quanto será que custa isso não pagar é bobeira é nada de qualquer maneira não porra Richard larga mão de ser um cientista idiota e vira um humano é isso vou ser mais humano passo tanto tempo fingindo ser um ser atemporal que começo a pensar como um droga de vida por que essas pessoas são pobres será que o Manchester vai ganhar amanhã claro que vai acho que vou pra Inglaterra se eu for com a Claymore chego rapidinho vejo o jogo dou um abraço no meu pai uma rapidinha com a gostosa da Tessa será que eu to gostando dela por que eu contei pra ela que eu era o Cruzade não sei deve ter sido carência droga mas até agora ela não abriu o bico abriu coca cola beba essas propagandas são nojentas ufa já to no meu bairro minha piscina me espera acho que vou ligar para o Nicolas ele é meu amigo eu acho o mais próximo que eu tenho de um será que ele gostaria de sair não sei bom aqui estamos lar doce lar esse porteiro eletrônico que eu criei é muito bom a só quero minha cama hoje amanhã eu salvo mundo.

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