Em 2015, um grupo de super-humanos escapa de uma base do governo para salvar o mundo, e acaba descobrindo uma série de segredos sombrios. Essas são suas histórias.

Polizist

Londres é uma dessas cidades onde tudo é velho, e, mesmo assim, tudo parece novo. Quinze anos na força policial, e esse sentimento ainda era profundo no Sargento Charles Buckerfield. Era um homem forte, com uma barriga já saliente de seus quarenta anos, e usava um bigode forte e grosso, dum castanho acinzentado. Seus dentes eram meio tortos e manchados de tabaco, e sua pela era cheia de sardas, principalmente nas mãos e nas bochechas. Seus cabelos, no entanto, ainda eram vastos, e faziam um complicado desenho debaixo do chapéu. Bucky, como gostava de ser chamado, era casado pela segunda vez, com uma gorda resmungona, e tinha um filho de mais de 15 anos com sua primeira mulher. No entanto, ele não via o garoto há quase cinco anos, e tinha sérias dúvidas se ele se chamava "Henry" ou "Harry".

Trabalhava no 503 de Londres. Era um bom departamento, vizinhança tranqüila. Bucky gostava de dizer que as pessoas eram tão amáveis que até os bandidos pediam "Por Favor" e "Obrigado", nos poucos assaltos que ocorriam. Pelo menos pensava, até chegar o "Polizist".

Ah, o Polizist. Diziam que era filho de alemães, e que havia mudado para a Inglaterra fazia poucos anos. Sabe-se lá como ele conseguiu entrar para a Academia, mas todos ficaram impressionados. Dois metros e meio de pura salsicha e repolho, diziam os colegas. Sempre de cara amarrada, sempre tentando fazer as coisas da maneira difícil. Diziam que ele havia completado a prova física para o ingresso em menos de dois minutos! Era algum tipo de recordista, pensavam. As melhores notas nas provas escritas. Ninguém queria ficar perto de um cara assim - esse tipo de pessoa tende a fazer o parceiro parecer um completo incompetente. Mas Bucky não teve muita escolha. Ele estava sem parceiro fazia três meses, e não tinha mais como enrolar.

Estavam os dois no carro de patrulha, número 17-4C. Era uma máquina velha, mas tinha sua história. Cada mancha no banco lembrava Bucky de uma piada, e ele fazia questão de contar para o jovem alemão. Contava sobre seu ex-parceiro, Ted, que havia sofrido um ataque cardíaco. Contava sobre a vez em que um bandido se entregou ao vê-los na ronda. Todas as histórias que divertiam os colegas da Academia, nas festas de final de ano. Mas o Polizist não parecia se interessar. Ora, Bucky apresentou para ele as melhores lojas de Rosquinhas da cidade, e o rapaz sequer experimentou!

Enquanto Bucky bebia o último gole de café, o alemão soltou o cinto de segurança, e abriu a porta. O veterano sequer teve tempo de questionar - o rapaz saiu correndo. E esqueceu a arma, pensou.

Era a pior parte da ronda. O porto. Nas últimas três semanas, pelo menos cinco desaparecimentos por aquelas bandas. Bucky ligou o carro, e seguiu o rapaz, até ele entrar em uma ruela estreita. Era impossível continuar. Depois de um suspiro longo, pegou seu revolver e o do parceiro, fechou o carro, e tentou segui-lo.
Um beco sem saída. Olhou para os lados, procurando uma porta. Havia apenas uma janela, cinco metros e meio acima. Tirou o chapéu, e coçou os cabelos. Então, uma telha caiu do seu lado, quase atingindo sua cabeça!

Num salto assustado, quase cai no chão. Olhou para cima, e jurou ter visto um homem com o uniforme da polícia andando no telhado. Não, era impossível. Eram pelo menos dez metros! Nem mesmo um garotão como Polizist poderia fazer isso! Bucky resolveu dar a volta, mas não sem antes arrumar o cinto, que incomodava sua barriga.

Ouviu um barulho forte, como de metal torcendo-se. Correu, quase perdendo o ar duas vezes, e entrou num galpão próximo. Da janela, viu Polizist segurando no gancho de um enorme guindaste de carga. O chapéu do alemão caiu rodopiando pelo ar. Num golpe rápido, o guindaste tremeu, fazendo o corpo do alemão se chocar contra um navio atracado. O barulho forte do metal fez-se novamente. Bucky fechou os olhos, pensando no que diria pra família do pobre rapaz. Então, segurou sua arma, e se arrastou lentamente para uma janela. Não havia sangue no navio, e o gancho de metal também não estava sujo. Ora, será que o malandro deu um jeito?

Havia um homem vestido de preto, flutuando dois metros acima do chão. Céus! Era o reverendo da televisão, o programa que sua mulher assistia aos sábados! Mas ele não parecia tão puro... Tinha um olhar sombrio, e uma luz negra emanava de suas mãos. Era assustador de olhar diretamente. Bucky ficou paralisado de medo.

Viu novamente Polizist surgir. Estava a poucos metros de distância, dentro do mesmo galpão que ele. O alemão tirou o casaco de policial e tampou o rosto com uma máscara preta. Parecia um daqueles lutadores dos filmes chineses, os tais que espreitavam nas sombras. Bucky não lembrou o nome, mas achou que era algo parecido com Sashimi. Talvez, Samurai?

Polizist saltou para fora do galpão como uma bomba, explodindo uma janela. Os cacos de vidro todos pararam no ar, e o seguiram. Na verdade, o atingiram, mas nem sequer arranharam sua roupa. Ah, era esse o segredo! O alemão usava colete a prova de balas! Provavelmente, era por isso que ele nunca se machucava! Bucky sentiu-se mais confortável com isso, pois agora o rapaz não estava tão assim na sua frente. Eram só truques!

O reverendo esticou a mão, e Polizist parou no ar. Bucky não sabia como, mas podia jurar que ouvira o alemão dar uma risada. No mesmo instante, pelo menos dez mil galões de água levantaram-se do Tamisa, formando um dragão de água. Ah! Então ele era mesmo um Sashimi! Provavelmente, estava usando os poderes dos monges! Bucky sempre acreditou que os monges podiam fazer esse tipo de coisa, mas nunca fora defensor da causa!

Levantou-se, confiante. Arrumou o chapéu na cabeça, e puxou mais uma vez o cinto para cima. Viu a torrente do Tamisa engolir o reverendo. Puxou o revolver mais uma vez, certo de estaria amanhã de manhã na capa do jornal.

Um raio prateado cruzou o galpão. Bucky viu o navio à sua frente desmontar. Podia jurar que vira faíscas elétricas por todo o lugar. Desse, já havia lido alguma coisa! Era Lightning, o relâmpago humano! Era mais rápido do que qualquer máquina feita pelo homem! O pobre infeliz do reverendo estava perdido!

Por alguns instantes, as coisas continuaram assim. Até que o reverendo se levantou. Parecia furioso. Bucky se escondeu atrás das caixas, e não teve muita certeza do que viu. O chão tremeu várias vezes, e ouviu gritos de ódio e agonia. Não arriscou espiar. Ouviu a voz grave do vilão, igualzinho era na TV, dizer que eles não atrapalhariam mais seus planos, que os transformaria em escravos.

Bucky puxou sua arma e disparou, sem mirar direito. A bala atravessou as costelas do Reverendo, que não parecia preparado para o golpe. Praguejou com força, e gritou que não iriam se lembrar de nada, não importava os artifícios. Que não conseguiriam parar algo que não sabiam existir. Voou para cima, e desapareceu. Os heróis levantaram-se minutos depois, como zumbis. Andaram sem rumo, até que não fosse mais possível vê-los.

O velho policial andou até a janela novamente. Não havia mais ninguém lá. No chão, achou o chapéu de Polizist. Apanhou-o, e o segurou. Olhou para os lados, esperando algo acontecer, mas não ouviu mais nada. Voltou para o carro, meio assustado. Não tinha certeza do que havia acontecido. De certa forma, não queria saber.

Sentou no banco do motorista, e esperou. Ficou parado talvez 40 minutos, sem responder sequer aos sinais do rádio. Então, Polizist apareceu. Estava com ar desnorteado, como se não tivesse dormido por várias noites.

- Eu... Eu não sei. Eu não me lembro de nada, Bucky. Eu sai do carro, e acordei com essa enorme dor de cabeça!

Bucky deu uma risada, e entregou o chapéu ao alemão.

- Günter, meu rapaz, você deveria comer mais rosquinhas! Elas evitam que você saia correndo por ai e bata a cabeça em canos soltos!

Günter sentou-se emburrado de novo. Não agüentava mais esse papo de rosquinhas. Um policial gordo como Bucky não tinha idéia do que era ser um herói de verdade, do que era salvar a vida de alguém. Céus, até mesmo Sadie deveria ser mais heróica do que ele!

Um comentário:

Unknown disse...

^^
Muito esse conto do Buck... be que vc podia continuar com ele, deve ter muitas historias que os dois viveram juntos... deu até saudades do Buck =)