Em 2015, um grupo de super-humanos escapa de uma base do governo para salvar o mundo, e acaba descobrindo uma série de segredos sombrios. Essas são suas histórias.

O vento sobre o carvalho.

Outubro de 1993. Costa da Malásia. 22:00 pm.

É estranho como as coisas acontecem na vida das pessoas. "Eu nunca quis sair daquele país, Abrahmovich!! E ao invés de nos levar pra um lugar decente como os EUA, não não, tem que nos trazer para este fim de mundo??" É realmente muito estranho, não é? "Ana, minha querida, você realmente não sabe apreciar as pequenas coisas não é mesmo?" Por exemplo, um casal jovem discute numa mansão com uma vista dessas ao invés de a aproveitar. "Você deveria estar satisfeita em ter saído daquela merda de país com vida! Afinal, não fui eu quem passou a perna em Ródion..." As pessoas deveriam aproveitar o tempo que lhes foi dado.

Outubro de 1977. Zona agrária de Hokaido. 22:00 pm.

"Tu ainda precisas aprender a cair, antes de te levantares." A voz grossa e tranqüila invade a sala e se propaga pelos cantos, reverbera nos taipos como o vento reverbera o pinheiro no inverno. E o menino sente em si o vento. "Sim, venerável professor, muito obrigado. Posso parar agora?" A voz do menino é cansada, assim como o corpo exausto após horas inexoráveis de treinamento. Ele anseia pela cama e pela comida que o esperam desde a manhã. "Não. Faça de novo." A voz reverbera e é como se o pinheiro se partisse perante o vento, ele pende até quase tocar chão, rachaduras percorrem seu seco tronco e lascas se atiram para todos os cantos. E após o vento passar, o Pinheiro está de pé. "Ótimo, após mais 10 vezes, está dispensado para sua cama."

Agosto de 1993. Rússia. 17:10 pm.

Há coisas que são mais assustadoras quando vistas pessoalmente. " Bom saber que você é pontual, normalmente os jovens são tão descuidados." Elas saem dos armários escondidos e nos mostram a face da Baba Yaga. "Jovens descuidados morrem com facilidade nesse país, senhor." E após ver todos os horrores de guerras, ainda encontramos a Baba Yaga em rostos tão jovens como esse. "Eu sou um velho rancoroso meu jovem, mas antes de tudo sou um cumpridor do meu dever. Coisa que esses dois não são." Coisa que esses dois vigaristas são. Baba Yagas tentando devorar os sonhos das pessoas. "Eu já encontrei os alvos em outras missões, estou familiarizado com os métodos em que agem, senhor." Baba Yagas tem algo em comum com jovens descuidados, são previsíveis "Que bom Andrei, o pagamento está acertado, a agência cobrirá as despesas e eu te ofereço um bônus pela cabeça da vadia." E o mundo está repleto dos dois.

Outubro de 1993. Costa da Malásia. 22:05 pm.

É estranho como as pessoas reagem às coisas. "Eu matei aquele filhodaputa!!" Há tanta raiva nas pequenas coisas do mundo. "Matou, Ana? Não matou? Se não tivesse matado, ainda estaríamos na Rússia." A raiva leva as pessoas ao descuido. "Se se se! Se você fosse homem, nosso filho teria pai e país." Descuidos são problemáticos num país frio. "A culpa é minha? Você queria que eu matasse o filho do dirigente da KGB? Do seu chefe?" E o frio não perdoa descuidos. "Eu queria que você fosse homem pra me defender, mas eu mesma tive que matar o desgraçado! Enquanto o grande macho roubava a casa." Descuidos geralmente levam à morte num lugar tão frio. "E foi esse dinheiro que nos trouxe até aqui, não foi? Ou você acha que se ficássemos lá estaríamos vivos? Ex-agentes como nós não tem lugar sem o apoio da agência. Pelo menos conseguimos uma aposentadoria segura, onde ninguem vai nos achar."


Agosto de 1990. Rússia. 17:10 pm.

"Levanta garoto!" Berra o enorme russo de cabelos já grisalhos. "Levanta pra cair de novo." E o jovem de 20 anos rola com um chute no estômago, tentando reter o ar que lhe some do corpo. "Achei que o velho Takeda treinaria você melhor, pelo visto terei que começar do zero". A dor angustiante é contida pela raiva que não deveria existir, afinal, o que é o abandono para alguém em combate? O que interessa a falta de carinho na guerra?
Os dois pés do velho russo deixam o chão em direção ao peito do jovem, mas quando eles chegam ele não está mais lá. A adrenalina percorre as veias criando uma força antes inexistente e quando o russo chega ao chão, ele não se levanta.
"Acho que subestimou o treinamento da família Takeda, sr. Rasputin."

Outubro de 1993. Costa da Malásia. 22:10 pm.

Tantas mudanças ocorrem ao redor de todos nós e somos incapazes de perceber. "Vadia! Se levantar essa mão contra mim de novo vai ficar sem usá-la!" O amor morre como uma libélula ao fim do dia. "Ah é cachorro? E você é macho agora?". É estranho isso, como juramos um amor concreto, mas evanescente ao menor suspiro do destino. "É melhor você ir pro quarto e ficar la Liliana!" Como os laços são rompidos facilmente. "É Dimitri, é né, pois bem, vamos resolver isso em definitivo! Quem sai é você, e não pro quarto, mas da casa, da minha vida, da vida das crianças!" Um amor sólido na festa, inexistente na guerra. "Sua vaca, eu saio, mas levo meu dinheiro! E você que se foda sozinha!" Pena que demoram para perceber que na guerra não há amor.



Junho de 1983. Zona agrária de Hokaido. 22:30 pm.

O carvalho tomba perante o vento do destino. "Ele se foi querido, cabe a você semear o nome dos Takeda agora, pois logo também irei embora." Os ventos levam as lágrimas de um garoto sem rumo.
" Ichi! Ni! San! Shi! Go! Roku! Shichi! Hachi! Kyu! Juuuu!"

As lágrimas e o vento.

" Ichi! Ni! San! Shi! Go! Roku! Shichi! Hachi! Kyu! Juuuu!"

Perante o carvalho tombado.

" Ichi! Ni! San! Shi! Go! Roku! Shichi! Hachi! Kyu! Juuuu!"

O amor é guerra.


Outubro de 1993. Costa da Malásia. 22:15 pm.

Um homem abandona seu passado e leva seu futuro em papel. "Foda-se! Foda-se!"
Ele espera que o bordel o acalme, mas não há como acalmar a guerra. "Filha duma puta!" Sozinho na noite quente, ele caminha em direção à caminhonete. "Que se foda!"
Ele entra, gira a chave e explode.
O grito que Liliana soltaria morre no fio de uma ninja-to que trespassa seu rim direito enquanto uma mão alva segura sua boca.
A ninja-to gira em 180 graus e perfaz uma linha horizontal até o outro rim.
Uma folha cai em meio as chamas.
"Meus... filhos..."
Enquanto tomba a mulher olha para o assassino e finalmente compreende porque não ouviu seus filhos chorarem durante a briga dos dois.

Na guerra não existe compaixão.


Nenhum comentário: