Em 2015, um grupo de super-humanos escapa de uma base do governo para salvar o mundo, e acaba descobrindo uma série de segredos sombrios. Essas são suas histórias.

The Amused Cricket - Parte VI

Saltar veloz pelos cânions de vidro-e-aço que é Manhattan? Fantástico. Transformar isso numa corrida não oficializada até o ponto mais distante da cidade? Diversão.

Cricket e Salteadora, eis um bom nome para uma dupla. Salteadora, pensou Josh, dava um nome bem razoável para uma ajudante. Ela teria de mudar o uniforme, com certeza: cinza-e-preto não combinavam com heroísmo. Faltava-lhe verde, que é uma cor bem mais nobre.

Queria ter conversado com ela durante o trajeto, mas se deslocavam de modos diferentes. Ele era do tipo que saltava feito um inseto, o que era de se esperar. Ela corria pelos parapeitos e atingia os terraços por pouco. Todo esse pensamento fez com que ele continuasse avançando, até, minutos depois, notar que já havia passado do porto. Retornou meio envergonhado, encontrando-a no telhado do armazém B-29, que ficava convenientemente no canto mais mal iluminado e isolado das docas.

"Ali embaixo, perto daquela barca enferrujada. Contei oito homens, mas nem sinal do Alvejador." Ela então olhou para os capangas, uns dez metros adiante. "Você sempre se perde assim?" Soltou, enquanto guardava um par de binóculos pequenos.

"Você sempre grita quanto pula?" disse o Afiado Cricket, enquanto discretamente alargava a roupa em regiões mais intimas. Arrependia-se da idéia idiota de usar roupas justas, que por mais que ficasse legal nas fotos, são frias, desconfortáveis e sempre te lembram se você comeu mais do que devia nos últimos dias.

"Em primeiro lugar, eu assustei por que eu escorreguei... umas vezes. E depois, o que tem de mais em gritar? Eu sou menina!" Cricket sabia que nessa hora, faltavam também sobrancelhas na máscara da Salteadora. "Preste atenção, aqueles caras estão armados. Aposto que tem mais deles por ai, e não vai demorar pra perceberem que estamos aqui! Vamos primeiro procurar os medicamentos, e ai vamos limpar a área pra polícia, entendido?"

Cricket colocou as mãos nas anteninhas no uniforme. Nem eram enfeites, mas potentes antenas de rádio que garantiam que estivesse sempre sintonizado com o canal da polícia, e que não perdesse o horário de piadas no final da tarde, entre outras coisas. Mas o uso de que ele mais se orgulhava eram os "Grilos no Sinal", um gerador de interferência num raio de 20 metros, por pelo menos dez minutos (ou menos, não lembrava se as baterias estavam recarregadas).

"O Atento Cricket está ciente do plano, mas gostaria de ter sua parte do acordo cumprida." Disse ele, ganhando tempo para analisar o ambiente com seu Sentido-Cricket.

"O quê? Não está vendo que estamos num ninho de cobras?" Talvez tenha passado pela mente dela que seria uma boa idéia colocar sobrancelhas na máscara, não fosse pelo tradicional senso de ridículo tão ausente em aventureiros mascarados.

"Bem, o Justo Cricket acredita que trato é trato, certo?" Ele arrumou as lentes da mascara como quem ajusta óculos; muitas pessoas não sabem, mas lentes amarelas ajudam a ver melhor no escuro. Quando se tem tanta paciência quanto Josh, é fácil colocar ajustes focais discretos para usar como luneta ou lente de aumento, conforme a necessidade. "Qual seu sorvete favorito?"

"O quê?" ela disse, quase esquecendo de que tinha que sussurrar.

"Qual seu sorvete favorito?"

"Você não pode estar falando sério! Eles vão nos matar!"

"Qual seu sorvete favorito?" Disse ele num tom mais melódico, quase musical.

"Ah, droga. Pistache. Eu gosto de Pistache." Nessa hora, talvez nem as sobrancelhas fossem suficientes.

Ele ainda estava se concentrando nos seus super-sentidos. Parte do truque para que ele parecesse fabuloso era que as pessoas nunca soubessem quanto trabalho realmente dava alguma coisa. Enquanto a Salteadora se mantivesse ocupada, ele poderia gastar o tempo refinando o mapa mental do cais em sua mente. Claro que na condição de rapaz adolescente, ele gastou mais tempo analisando a topografia da menina que do terreno de combate. "Qual sua música favorita?"

"Ah, não, pare com isso! Não vê o quão perigosa é nossa posição?"

"Qual sua música favorita?" Cantou ele novamente.

"Ah... Sweet Home Alabama, do Lynyrd Skynyrd! Agora chega disso, vamos acabar logo com esses caras!”Ela se colocou em uma posição da qual seria mais fácil se arremessar nos pobres infelizes contratados para fazer a segurança do lugar.

"O quê aconteceu com a antiga Salteadora?" Disse ele, pronto. Havia detectado mais dois homens que ela havia deixado passar, além de dezoito ratos, vinte e cinco baratas e uma colônia de cupins.

"Como assim, eu sou a única Salteadora!" Ela demorou, no entanto, mais de dez segundos para proferir tais palavras

"Sim, bem, então eu vou indo para casa, até mais." E fez que ia pular para longe.

"Não! Ei, eu respondi! Espera ai!"

"Mas não respondeu sinceramente, não é? Meu sentido Cricket sabe quando uma pessoa está mentindo", disse ele, quando seria mais fácil dizer que ela não parecia nada com a menina nas fotos.

"Ai, droga. Eu não posso contar! Eu prometi!" Ela parecia um pouco aflita com o fato de oito homens armados ainda não terem notado a presença dos dois tagarelas.

"Bem, se vai ser assim, o Decepcionado Cricket vai voltar para casa, afinal o Trabalhador Cricket tem que acordar cedo para salvar o dia..." E se ela caísse nesse truque, ela com certeza era a maior crédula da face da terra. Na verdade, ele já havia decidido que ia ficar no momento em que ela mandou bem no sorvete. Pistache é verde, e nada verde pode ser completamente ruim.

"Droga, ta bom. Eu... ela... ai, ai, droga, ela..." e ficou uns bons segundos balbuciando. "Ela morreu, está satisfeito? Ela era minha amiga, e morreu. Eu achei que o melhor que eu podia fazer era tomar o lugar dela." Parecia triste enquanto falava, chegando a engolir o choro.

Cricket colocou a mão no rosto dela (ou na máscara por baixo do manto) e sorriu. Não ligava se a menina tivesse demorado tanto tempo para inventar uma desculpa, nem do fato de não acreditar nela. Ela parecia realmente disposta para salvar o dia, e isso era o que importava.

"Bem, então, vamos lá. Você pega o da direita."

Ela olhou para ele, se recompondo. "Como assim, o da direita?"

Ele não respondeu. Na verdade, saltou duzentos metros para cima, caindo no meio dos homens.

"Senhoritas, seria aqui por acaso a bilheteria para o show da Amanda Fontana? Eu sou novo na cidade, sabe como é!" e aproveitou os dez segundos em que os homens ficaram paralisados para nocautear o mais feio deles.

A Salteadora ainda olhava atônita para a situação. Ele simplesmente pulou no meio deles. O moleque se jogou no meio de oito homens armados, cada um do tamanho de um cavalo pequeno, e ainda fez piada! Ele era insano, completamente insano! "Como assim, o da direita?!" resmungou ela.

Um comentário:

Unknown disse...

É que ele não conheçe os outros herois verdes que tem no mundo... se ele soubesse mudava para a cor azul... Começo a gostar cada vez mais desse Cricket! ELE FAZ PERGUNTAS MUITO IMPORTANTES COMO O GUNTHER!!!!! Será que ele aceita um ajudante?