Em 2015, um grupo de super-humanos escapa de uma base do governo para salvar o mundo, e acaba descobrindo uma série de segredos sombrios. Essas são suas histórias.

The Lone Cricket - Parte VII

A Salteadora lutava com a graça de um rinoceronte míope numa loja de cristais, notou o Perceptivo Cricket. A menina batia com a confiança de um caminhão cargueiro nos pobres bandidos desalmados, num ritmo que dava um pouco de dó.

Diferente de Cricket, ela preferia atacar pelas sombras. Subia pelos caixotes do porto e caia com os pés no peito dos pobres infelizes que haviam feito pobres escolhas vocacionais como se fosse feita de pedra. O interessante é que era tão ágil que poderia ser usada como parâmetro para imaginar o que aconteceria de Bruce Lee usasse Crack, caso Bruce Lee lutasse como uma menina nervosa. Na verdade, era a total falta de técnica aliada aos movimentos rápidos e de força extrema que faziam que Josh prestasse mais atenção nela do que na luta.

Cricket, por outro lado, era instrutor honorário de Kung Fu, estilo do Louva-Deus. Seus golpes, aliados com todo aquele Parkour que aprendera e ao uniforme davam a impressão de se estar lutando contra um grilo gigante e tagarela. "O Moralista Cricket vai fazer uma palestra sobre armas de fogo..." E distribuiu uma dúzia de golpes em um dos homens. "... no auditório da penitenciaria estadual!". Chutou numa pirueta o último dos homens, e sorriu. "Bem, bem, Salteadora! Parece que formamos uma bela dupla, você e o Amigável Cricket!".

Não houve resposta.

Cricket tentou senti-la com o Sentido-Cricket, mas havia simplesmente sumido. Fez silêncio (inclusive chutando um dos homens que estava gemendo no chão) e tentou se concentrar. Talvez por isso, ainda esteja respirando.

Uma seta do tamanho de um lápis 02 cortou o ar, e Cricket teve menos de uma fração de segundo para tirar seu corpo da reta; a seta quicou por entre as caixas e retornou, mas Josh conseguiu evitar o disparo saltando uma dúzia de metros para cima. Isso deu tempo para encontrar seu agressor, que estava parado no telhado do armazém onde ele e a Salteadora estavam momentos antes.

"Agora fique parado ai, que vai ser só uma picadinha, não vai doer nada!" O Alvejador era um homem mais alto e forte do que parecia nas fotos de seu site. O uniforme, no entanto, era mais feio. Preto e amarelo, numa seqüência de alvos desenhados. Usava óculos amarelos (o Plagiavel Cricket sentiu-se ofendido) e possuía uma quantidade enorme de armas à distância penduradas pelo corpo, das quais um enorme arco de caça era o menos discreto. "E pode escrever na lápide que foi o Alvejador."

Ficar parado não era uma das especialidades de Cricket. Ele não tinha nenhuma vocação para a coisa. Desviou com certa facilidade dos dois primeiros disparos, mas a terceira seta rasgou o kevlar leve da armadura corporal e perfurou sua coxa. "Ah! Seu f-" profanou Josh enquanto caia no chão.

"Olhe o linguajar, moleque. Eu acertei a artéria femoral com um dardo oco. Se você tentar remover, ele vai abrir a ferida. Se deixar ele ai, ele vai servir de canudo para o sangue sair. De uma forma ou de outra, você vai morrer por sangramento em três minutos." O Alvejador empunhou o enorme arco e preparou cuidadosamente uma flecha com aspecto de poucos amigos.

"É veia - hugh - seu inculto." Disse Cricket, enquanto apertava o ferimento.

"Como disse?" falou o Alvejador num tom de desinteresse.

"Veia Femoral. A - aarg - artéria femoral é do outro lado. Não teve aulas de biologia não, lá no cursinho para capangas do mal?" Cricket esperou o Alvejador demonstrar um sinal de fraqueza por um segundo, devido à provocação. Saltou imediatamente, com a maior dor do universo lembrando que havia um corpo estranho afundado em sua perna.

O Alvejador atirou uma flecha de surpresa. Uma excelente surpresa, ela atingiu em cheio a mão esquerda de Cricket, perfurando-a fora a fora. Mas Josh já estava preparado. Com toda a força do mundo, ainda no primeiro instante do pulo, bateu as canelas uma contra a outra. Um ruído enorme tomou conta do lugar, mil vezes mais estridente que giz raspando na lousa. Foi suficiente para destroçar as tábuas do cais e explodir vidraças próximas. O vilão perdeu o equilíbrio por um instante, deixando cair o arco; havia sangue saindo de seus ouvidos.

Era o tipo de distração que Cricket precisava. Não iria conseguir enfrentar o cara sozinho, não estando tão ferido. Não de frente. Dar uma surra no Morsa e seus capangas era quase que uma terapia, mas lutar com um assassino treinado não era nem um pouco divertido.

Seguiu seu instinto e entrou no navio. Podia sentir o perfume da Salteadora no ar. Amassou o cilindro de metal para evitar que mais sangue saísse de sua perna, arrancou a flecha da mão e gritou mais palavrões do que havia nos últimos dois meses combinados. Correu por entre o convés da embarcação, um cargueiro pequeno e enferrujado. Teve certeza de sentir a menina no andar de carga, e se jogou sem pensar.

A Salteadora estava lá, e mais dois homens caídos no chão. Ela estava de frente a uma das várias prateleiras de suprimentos médicos, mas fazia algo estranho. Jogava desesperadamente caixas de alguns dos medicamentos em uma bolsa que carregava por baixo do manto. Ela notou Cricket, e deixou cair vários pacotes, assustada.

"Eu posso explicar! Não é o que parece!" Ela disse, aflita.

"Não é o que parece, é? Eu quase morro pra te ajudar e você é uma ladrazinha mentirosa que só queria um palhaço pra enganar, não é isso?" Cricket estava tão furioso que estava falando em primeira pessoa. Como qualquer pessoa sensata, odiava ser enganado. Andou na direção dela num passo meio autoritário, meio coxo.

"Espere! Eu preciso desses remédios, você não entende! A minha vida é um inferno por causa dos poderes, eles são descontrolados! Se eu não me medicar eu vou enlouquecer, ou morrer!" E apesar do suplício, não parecia mais que uma ladrazinha drogada agora. Ela parecia assustada de mais para correr.

"Olhe aqui, suma da minha frente, você tem sorte de eu estar ferido! Mas da próxima vez que te ver sujando o nome de uma heroína de verdade, vou te entregar em papel de presente para a polícia!" Cricket deu um soco numa das estantes, que caiu, derrubando tudo que estava lá. O barulho de metal batendo em metal era muito forte.

Era tão forte que não ouviram quase 100 kg de mercenário cair na sala. O Alvejador ainda tinha sangue escorrendo dos ouvidos e das narinas. Não fosse o capacete especialmente projetado, Cricket estaria na mesma situação. "Bem, bem, cavalo dado não se olha os dentes. É hora de fechar a cortina!" e disparou.

A flecha cortou o ar, passando por entre uma prateleira, indo numa reta perfeita em direção ao coração de Cricket. Um a um, foi passando pelos oito metros de obstáculos que separavam o herói do vilão, estourando pacotes de remédios e zumbindo voraz. Por fim, atravessou-lhe o peito, derrubando uma linha de sangue logo atrás.

Cricket olhou assustado. Havia sangue em sua máscara. A Salteadora caiu em sua direção, segurou-a pelos ombros. Ela sussurrou bem lentamente, engasgada. "Eu n-não sou uma má p-pessoa — urhn — eu só achei que não ia f-fazer mal a n-ninguém se... se eu — ahgh — se eu... p-por favor..." e caiu pesada.

Ele a abaixou lentamente no chão e levantou-se mais furioso ainda. Ela havia se sacrificado por ele, mesmo depois do que ele dissera. Não era certo. Não podia ser assim. "Péssima jogada, cara. Péssima jogada."

Um comentário:

Unknown disse...

Ainda bem que eu sei que ela não morre desse jeito... Uma pena que eu sei comno ela morre...

=.(..

Roubar medicamentos não é nem um pouco heroico e principalmente usar um heroi de terceira categoria para fazer isso, mas usar "take the hit" para salver alguem sempre compensa tudo no final... por isso que eu agoro essa menina ^^

Que merda! DAMN YOU ALVEJADOR!!!
Meus parabens! Quero informar que VOU usar essa informação em OFF para caçar ele e deixar uns 6 meses num hospital em COMA! SEU MISERAVEL! TA FERRADO NA MINHA MÃO!