Em 2015, um grupo de super-humanos escapa de uma base do governo para salvar o mundo, e acaba descobrindo uma série de segredos sombrios. Essas são suas histórias.

Uma luz diferente.

Seis e meia da manhã e eu ainda estou na cama. Vamos Thomas! Seu imprestável, levante logo antes que perca mais um emprego. Meu pai sempre me dizia isso quando era garoto, dizia tanto que pareço ter pego a mania dele. Droga de vida, 26 anos e ainda moro no sótão da minha mãe. Se eu tivesse seguido a carreira profissional no futebol, ah! eu seria um astro não fosse Ted Barnes ter quase arrancado minha perna fora naquele jogo! O joelho ainda dói todo inverno pra me ajudar a não esquecer aquele dia, como se precisasse.
Céus! Já são sete horas, ainda tenho que tomar banho ... não, o banho fica pra depois, a barba também, tenho que vestir o uniforme logo e voar para o trabalho. Voar, seria bom se eu pudesse, mas infelizmente ainda tenho que pegar o metrô, enfrentar fila, e sufocar por oito horas naquela guarita infernal.
Sair de casa já é uma luta, minha mãe reclamando sobre mim, reclamando sobre minha irmã, reclamando sobre o cadáver do meu pai. Reclamando. Bom, passo pelo meu vizinho Ed na surdina, eu ainda devo 20 pratas a ele. Depois disso, é só esquivar de Melissa e pronto, estou fora da rua mais acabada de Bushwick.
Daí é só caminhar pacificamente, evitando ser assaltado até o metrô, não que seja fácil, mas com os anos se ganha prática nestas coisas. Chego no metrô e como sempre, nenhum banco vago. Um acento livre surge na segunda estação. Eu sento. Uma mulher de 40 anos fica me encarando como se eu tivesse a obrigação de ficar em pé enquanto ela relaxa as pernas, sinto muito, não é por eu ter 26 anos que eu possa ficar em pé sentindo meu joelho ralhar a cada tremida do metrô para a senhora poder descansar seus joanetes.
A cena se repete mais uma ou duas vezes conforme eu troco de trens para chegar ao trabalho. E como sempre, chego atrasado. E como sempre, recebo bronca de Jefferson Malus, o encarregado da segurança do bloco B, e depois de mais 5 minutos, entre olhares de reprovação e comentários maliciosos, volto a rotina diária de entediamento.
Atravesso o salão principal, passo pelo corredor A-D e depois de alguns passos lentos me encontro dentro da guarita do Bloco B.Cara, o salário até que não é um lixo, comparado com os outros lugares, mas aquela guarita da ala B da Warden University é um inferno na terra de tão quente. Não sei quem foi o idiota que projetou aquilo. Por que é tão quente que não dá nem pra cochilar nem pra ficar acordado.
O Bloco B é a área destinada aos médicos da Universidade, para pesquisas e outras coisas que a gente nunca sabe, os médicos nunca se apresentam no horário, então não sei por que brigam tanto comigo. Fico mais 10 minutos sem fazer nada, 15, 20. Começo a ficar sonolento, mas logo tudo começa. Chegam os médicos do setor, saem os médicos do setor. E o dia vai passando assim.
Fico pensando sobre esses médicos, eles ganham pelo menos o triplo do meu salário e ainda parecem não estar contentes, a maioria é como sempre, esnobe, mas um chama muito mais a atenção, Dr. VonBühler acho que é alemão, eu sempre tive pavor de alemães. O Dr. tem um olhar sobrehumano, parece que ele vê os seus temores mais intímos com aquele olhar de gelo, ele me dá arrepios!!
Nossa, hoje tenho até pessoa ilustre passando por aqui, o patrão veio visitar o Dr. de olhar apavorante, acaba de chegar no seu ultimo carro novo. eu nunca vejo ele usando o mesmo carro, sempre um diferente, e sempre um modelo caríssimo, daqueles que eu só posso ver mesmo. Ah! esse Richard leva a vida boa, só nadando no dinheiro, ele passa e sorri como se o mundo fosse dele, sacudindo o rolex do braço enquanto acena um olá tentando ser simpático. O que esse cara fez pra merecer tudo que ele tem que eu não fiz? O que me deixa mais fulo da vida é que não consigo não sorrir pro cara, sei lá, ele tem alguma coisa que mexe coma gente. Ele passa e o tédio recomeça. E o tédio se prolonga. E se estende até que meu horário acaba.
Como cheguei atrasado, faço hora extra, normas da empresa. Tenho vontade de fuzilar quem inventou essas regras, mas o tempo da hora extra também passa como os outros, até que uma hora simplesmente acaba. Estou livre. Assim não me demitem pelo menos. Aproveito e vou pro bar onde os alunos frequentam, uma cerveja vai aliviar meu dia e meu humor. Acabo tomando 2 e pegando o telefone de uma uma menina com tara por homens de uniforme.
Me dou por satisfeito e no final da tarde de serviço me dirijo a passos lentos pro metrô. Fila pequena para entrar e milagrosamente pego um lugar vago logo de cara, mas não me faltam os olhares de acusação. Dá vontade de arriar as calças e gritar, olhem pra porra do meu joelho! Só que com a minha sorte teria algum guarda dentro do vagão para descer a lenha nas minhas costas por isso. Fico quieto e aproveito o banco. Que eles olhem como quiserem.
A viagem se estende como sempre. Mas como estou sentado até me sinto bem em estar no metrô. Quando o trem está chegando na estação do centro de Manhatam, até fico feliz. Metade do caminho já foi, mas então algo estranho acontece, um barulho ensurdecedor, depois outro e tudo parece tremer. Da janela direito consigo ver a parede do tunel ser arrebentada por uma criatura negra gigantesca. Parece um homem, mas não dá pra ver direito, muito rápido, o vulto passa e logo atrás vem outro, mas é claramente um homem com uma roupa verde. Ele salta do buraco do tunel e parece atingir a criatura ao mesmo tempo em que um cavaleiro medieval passa voando. Eu fico embasbacado com tudo isso, porém o tremor do trem me traz de volta.
Parece que o baque entre o cara de verde e o bicho de preto deve ter desestabilizado os trilhos do metrô. O trem treme como nunca, e parece aumentar a velocidade. Nunca tive tanto medo na minha vida. A velha que me olhou feio, rola ao chão com uma sacudida do vagão. Não sou muito inteligente mas saquei que a coisa ferrou pro meu lado, o trem provavelmente desgovernou de vez. Que maneira besta de morrer!
Eu olho pra janela e vejo a estação passar num vulto, rápido demais, e nada de parar, tudo treme, eu me seguro como posso. Que merda, a velha deve ter se machucado de verdade, ela não se mexeu mais, nem tentou se levantar. Tento me levantar pra ir ajudar, mas é difícil, faço um esforço, meus tendões quase se arrebentam, mas consigo me segurar, o vagão, não para de tremer. De repente penso, qual a serventia de ajudar a velha? Vamos todos morrer de qualquer jeito, o trem desgovernou, já era... e então paro de pensar e ajo, Cravo os dedos na poltrona pra me apoiar e então chego perto dela, eu toco o pescoço da senhora, ela não está respirando! Droga! Começo a fazer o procedimento de reanimação, 1,2,3... 1,2,3... segundos que parecem uma eternidade. Estou encostando a minha boca na da velha quando um baque no trem me lança quase um metro a frente dela, acho que morri, mas abro os olhos e percebo que ainda estou vivo. O trem diminuiu um pouco a velocidade, os trilhos rangem mais que a porta do banheiro de casa. Mas como?
Olho para o fundo do vagão (estou no último) e vejo a cena mais bizarra e mais emocionante da minha vida! O cavaleiro medieval com os olhos brilhando com uma fumaça azul está segurando o trem, ele está segurando o trem! Eu nunca imaginei que uma coisa dessas fosse possível. Com os dois braços e parado no ar, ele está segurando o trem! O cara gira uma espada enorme que eu nem vi ele tirar das costas, a espada deve ter o meu tamanho (ele mesmo deve ter mais de dois metros) e finca ela no chão como apoio. Eu juro que não acredito que estou vendo isso! Um cavaleiro medieval de quase 2,5 metros de altura, com uma espada enorme, voando com uma luz azul ao redor do corpo, está segurando a porcaria do vagão! O cara está salvando todo mundo! Eu não consigo acreditar ainda, vou acordar e estarei na minha cama, prestes a ir pra droga do meu emprego de novo.
O trem para de vez, o sangue escorrendo da minha testa me traz de volta a realidade, isso aconteceu mesmo. O cavaleiro, tira sua espada do chão, ele parece estar preocupado se alguém do trem precisa de ajuda, ele olha dentro do vagão. Sinto uma mão no meu ombro direito, me viro pra ver quem é, é a velha mal encarada em quem eu estava fazendo respiração boca a boca. Ela me olha bem diferente agora, como minha mãe olhava pra mim quando eu era pequeno.
Nós ficamos apenas um segundo olhando um pro outro, mas quando me viro o cavaleiro já desapareceu, deve ter ido enfrentar aquele bicho, ou aquele cara, nunca se sabe quem é o vilão com esses caras. Só se sabe quando eles nos salvam, como o cavaleiro. Me volto para a senhora e a ajudo a se levantar, ela me diz seu nome, Angeline Pinkerson, eu lhe digo o meu. Ela agradece e eu respondo que não fiz nada, que foi o que qualquer ser humano faria, e depois me lembro que salvei a vida dela, assim como o cavaleiro salvou a de todos nós.
Eu, Thomas Howley, 26 anos, subempregado, sem casa própria, sem namorada, sem cachorro. Eu salvei uma vida. O peso do meu ato me tira muito do peso que eu carregava nas minhas costas, juntamente com o fato de eu ter quase morrido, dá uma sensação diferente, de repente a vida parece ter novas possibilidades...
Eu salvei uma vida, assim como o cavaleiro mágico salvou a de todos nós. Eu nunca tinha visto um desses caras antes, assisti sobre eles na televisão, mas eles sempre pareceram tão longe... hoje é diferente, eu vi, e eu me sinto como ele, no mesmo nível. E essa comparação dá uma luz diferente ao meu dia.



4 comentários:

Calliban disse...

Boa, eminho!
Acho que esses contos no estilo "Astro City" são os melhores :)

Mavericko disse...

tadin do nicolau, ele n tem olhar gélido e cruel :(((

mas fico legal o conto sim ;)

Guilhotina Voadora disse...

Mave, vc tem intimidação 17.

Mavericko disse...

Ta, agora se eu tiver nataçao 20 nego vai sair na rua dizeno q estou molhadinho?!!! (pessima)

=*

Nicolau n anda co intimidation ligado 24h por dia po hauehue.