Em 2015, um grupo de super-humanos escapa de uma base do governo para salvar o mundo, e acaba descobrindo uma série de segredos sombrios. Essas são suas histórias.

Três Segundos

Algum lugar do Oceano Atlântico, 22 de Abril de 2016.03h12am, hora de Greenwich.

Faltavam três segundos. Enquanto suas pernas golpeavam a água sob seus pés, frenéticas e desesperadas como britadeiras, uma infinidade de elétrons da atmosfera era atropelada pelo inglês cuja mente, em pânico, só conseguia pensar na mesma coisa. Faltavam três segundos.

Três segundos para que a bomba explodisse, três segundos para que o RDX conseguisse o que queria. Três segundos para que a casa com a pequena menina Nancy Gray fosse pelos ares. Não podia pensar naquilo. Precisava pensar em correr, precisava ser mais rápido. Segundos atrás estava em Nova York, lutando contra terroristas da Daydream, e finalmente conseguira encurralar pela segunda vez o psicopata especialista em explosivos. Foi quando um telão exibiu uma imagem de uma garotinha, Nancy Gray, desaparecida a 12 semanas, foi na pista dessa garota que ele encontrou a Daydream. O contador do relógio marcava 7 segundos para a explosão. “Corra, herói” foi a única coisa que o miserável disse enquanto sorria. Sete segundos. Demorou cerca de quatro para alcançar a metade do caminho. Três segundos e uma quantidade interminável de água a ser cruzada. Correr sobre alto-mar era sempre uma experiência estranha, parecia que as nuvens é que corriam contra seu caminho, e era difícil saber quanta distância faltava. Não parou para olhar o GPS, não podia perder tempo, não podia se desconcentrar. Precisava correr, precisava correr como nunca correra na vida. Primeiro porque era uma criança e por mais que ele tivesse aprendido a separar sua vida civil da vida como herói, era impossível não lembrar que ele próprio tinha um filho daquela idade. Segundo, porque sabia que ninguém mais no mundo conseguiria correr tanto em tão pouco tempo. Terceiro, e mais importante, porque em seu consciente, sabia que talvez fosse tempo de menos para distância demais. Finalmente, e muito mais importante do que qualquer outra coisa, estava concentrado e desesperado, porque em seu inconsciente ele sabia que não havia como chegar a tempo. Sabia que o RDX provavelmente medira sua velocidade antes de escolher o ponto para colocar a bomba. Mas ele tinha que correr, não podia desistir, mesmo que seus músculos já começassem a doer, mesmo que seus reflexos já estivessem comprometidos pelas enxurradas de ácido lático em suas juntas. Dois segundos. Em um ato de pânico, arrancou o visor e as luvas do uniforme. Precisava aliviar peso, cada milésimo de segundo era imprescindível enquanto Claude Nistelroy, um risco luminoso retilíneo que se formava rasgando o Atlântico entre Manhattan e Londres. Sentiu um ganho de velocidade, mas suas pernas doíam e bolhas começavam a estourar em seus pés. O solado das botas encontrava-se espalhado por todo o trajeto transoceânico. Sentiu um ligamento do joelho se rompendo e, no mesmo segundo, sendo religado ao corpo por seu hiper-metabolismo. Mesmo assim doía muito. Não podia parar. Faltava só um segundo. Sabia que logo as docas de Welshtown surgiriam no horizonte. Um segundo. Pensou por um micro-instante em desistir. Um segundo. Cerca de sete mil quilômetros. Não sabia em que cômodo do prédio estaria a bomba. Não sabia se haveria para onde correr com o explosivo ou como desarmá-lo em tão pouco tempo. Não sabia sequer se o marcador de tempo estava correto ou se sua própria noção dos segundos passados estava certa. Mas sabia uma coisa ao certo, ele sabia que se ele não o fizesse ninguém mais no mundo conseguiria. Ele era o homem mais rápido no mundo, ele e somente ele era a única esperança que a vida de uma pequena menina com a idade de seu filho tinha. Lembrou-se de Liquid e Impacto. Lembrou-se das vezes em que quase morreram para salvar alguém. Lembrou-se de que quase morreram para ajudá-lo a salvar seu filho. Não, não poderia desistir, precisava continuar, precisava correr mais rápido, precisava ser mais rápido que o tempo, que a bomba, que a morte. Arrancou do próprio peito o símbolo da Extreme, único item que não era feito de tecido Sis e que fazia algum peso. O rastro de solado das botas se misturava ao rastro do sangue que saía de seus pés enquanto corria cada vez mais rápido, enquanto o atrito com o ar começava a arrancar fios de seu cabelo e a empurrar suas gengivas para longe dos dentes, inundando sua boca com um gosto férreo e seco. Em um micronésimo de segundo o cenário todo mudou de cor do azul impassível do mar para uma miríade de tons entre verde, cinza, marrom e preto da terra firme. Meio segundo. O caminho mais curto para Londres era pela linha dos trens. Como uma enorme descarga elétrica, como um enorme relâmpago horizontal, ele disparou pelos trilhos enquanto começava a rezar. Nunca acreditara verdadeiramente em deuses ou coisa assim, mas sentia que precisava de algo maior para conseguir. Orou para o tempo, e pediu com todas as suas forças para que fosse o bastante. Um quarto de segundo. A dor em seu corpo já era generalizada, mal conseguia sentir as próprias pernas, que continuavam a se mover como que comandadas por um instinto maior, uma necessidade superior à razão que urrava em seu peito gritando que ele precisava conseguir, precisava salvá-la. Mesmo que isso significasse perder os movimentos das pernas, mesmo que significasse morrer. Não conseguiria olhar para seu filho se deixasse que a menina fosse vítima daqueles que ele diz ao pequeno garoto que vai combater quando sai de casa.

Foi pensando nisso que Claude sentiu o cheiro da fumaça levada pelo vento que ia contra seu trajeto. Tentou imaginar que fosse de outro lugar, mas no instante seguinte seus olhos chegaram ao prédio. O terceiro e último andar tornara-se uma enorme área fumegante. Ele não ouviu o som. A explosão deveria ter propagado um estrondo que se moveria a trezentos metros por segundo, então se ele tivesse se atrasado menos de um segundo, teria chegado a tempo de ouvir. Enquanto descargas elétricas saltavam de seus braços e pernas para os postes das calçadas e cacos de vidro da rua, o homem mais rápido do mundo caiu ao chão. Não de cansaço, embora mal conseguisse respirar. Não de dor, muito embora estivesse com pés, joelhos e boca latejando em espasmos de corte e cicatrização contínuos. Naquele momento, sete segundos depois sair de Manhattan, Lightning caía de joelhos sobre os destroços da rua em frustração, em profundo estado de angústia. Tentou olhar novamente para a construção, mas não conseguiu. Enquanto os ferimentos em seus pés eram regenerados, nada no mundo poderia curar a dor e sensação de completa impotência que rasgavam-no por dentro. Ele era Claude Nistelroy, o Lightning, o homem mais rápido do mundo, mas naquela madrugada fria de Londres, sozinho na rua enquanto a polícia só então era notificada do atentado, ele se curvou prostrado no asfalto e chorou, porque aquela menina dependia dele.

Porque, naquela noite, ele não conseguira ser rápido o bastante.

2 comentários:

Unknown disse...

bem legal esse conto... uma pena que acabou com o Cloud não salvando a garotinha, mas se ele consegui-se acho que teria acabado com o drama do conto

Mavericko disse...

isso msm, keremos sangue, e + contos tb.

podemos ter ambos capa?